FERIDAS MATERNAS
PAUL FERRINI
Aqueles
que têm feridas maternas têm dificuldade em aceitar a si e aos outros. Eles não
se sentem merecedores de amor. Não sabem como nutrir a si mesmos ou às outras
pessoas. Para atuar na vida, frequentemente constroem uma parede em torno de
seus corações e não deixam alguém entrar facilmente. Eles têm dúvidas e medos
como qualquer outro, mas rapidamente os escondem. Têm medo de sentir qualquer
coisa. Não se dão bem com intimidades.
Há
dois tipos de ferida materna. Uma vem da mãe ausente ou de cuidados maternos
insuficientes. A outra vem de uma mãe dominadora ou de uma exagerada
maternidade.
Pessoas
que receberam insuficientes cuidados maternos não se sentem emocionalmente
protegidas. Elas têm fome de amor e de aceitação e frequentemente envolvem-se
em relacionamentos codependentes com mães substitutas, na tentativa de
experimentarem a maternidade que não experienciaram durante o crescimento. São
carentes e frequentemente esperam demasiadamente dos seus relacionamentos. Como
resultado, seus relacionamentos frequentemente terminam em decepções e fazem
ressurgir antigos sentimentos de abandono. Porém, mesmo as decepções amorosas
não as livram da procura desesperada de aprovação e de apoio dos outros. Isto
ocorre porque elas têm medo de ficar sozinhas. Experienciam intensa solidão e
não sabem como encontrar a força interior para afirmar a si mesmas, bem como às
próprias experiências.
Pessoas
com este tipo de ferida materna necessitam aprender a dar a si mesmas a
nutrição que foram incapazes de encontrar em suas mães ou em mães substitutas.
Elas necessitam aprender a interiorizar e a abrir um espaço para si mesmas.
Precisam cultivar o amor e a aceitação por si mesmas, a cada momento.
Por
outro lado, pessoas que receberam demasiados cuidados maternos, frequentemente
se sentem sufocadas ou controladas pelo amor da mãe. A mãe frequentemente as
via como uma extensão delas mesmas e não disponibilizava limites saudáveis para
a criança. A criança cresceu sentindo-se inapropriadamente responsável pela
felicidade da mãe. Este é um fardo pesado para carregar.
As
pessoas que apresentam esta versão da ferida materna têm dificuldades de cortar
o cordão umbilical. Mesmo como adultos, são profundamente influenciadas ou
emocionalmente controladas por suas mães. Elas necessitam cortar o cordão
umbilical psíquico com suas mães e aprender a estabelecer limites saudáveis.
Se
não cortarem esse cordão psíquico, não formarão sua individualidade. Não aprenderão
a ser independentes e autosustentáveis. Não estarão aptas para receber a
energia do Pai.
Há
ainda outro padrão de comportamento que é típico de alguém com uma ferida
materna. Este comportamento pode originar-se tanto de uma excessiva, quanto de
uma escassa maternidade. Neste padrão há um corte forçado e prematuro do
cordão, na vida da criança. Isto pode acontecer porque a mãe morre ou porque
ela é abusiva, e a criança é forçada a dela se desconectar. Em qualquer dos
casos, a criança descarta internamente todos os seus sentimentos. Ela se solta
da sua mãe e torna-se independente bem cedo na vida.
Usando
uma couraça sobre seu coração, acredita que não necessita de ninguém. A criança
torna-se determinada a viver sem amor ou intimidade.
Ainda
em outra versão desta mesma ferida, a criança parte para a guerra com a mãe
opressora, lutando por sua vida emocional, expulsando a mãe para longe. No
entanto, dela não se desconecta totalmente. Assim, a guerra continua ao longo
da idade adulta.
Frequentemente,
a pessoa com uma significativa ferida materna não tem filhos. Todavia, se os
tem, pode afastar seus filhos para longe de si e forçá-los a se tornarem
independentes prematuramente. Ela não será capaz de negociar a dependência dos
filhos em relação a ela. Possivelmente, contratará uma mãe de leite ou deixará
a criança com outros que possam desempenhar a maternidade. Ou, talvez, irá
abandonar suas crianças, assim como ela mesma foi abandonada, quando criança.
A
criança, uma vez adulta, não pode evitar transmitir alguma versão da sua ferida
materna para seus filhos. Ele ou ela podem tornar-se como a própria mãe, ou
podem ir para o outro extremo, numa tentativa de se protegerem da sua mãe.
Todavia, se ele ou ela não trabalhar sua própria cura emocional, esta tentativa
inevitavelmente falhará.
Gostemos
disso ou não, sem fazer o nosso trabalho, passaremos adiante a nossa ferida. A
menos que nos comprometamos a curar nossa ferida materna, projetaremos nossas
dores sobre os outros. Se não recebemos ou não nos damos uma saudável
maternidade, é improvável sejamos boas mães. Não saberemos simplesmente como
fazer isso.
Muitas
mães feridas abusam de seus filhos, rejeitam-nos ou mesmo os abandonam. As
oportunidades existem, mas estas mães não estão conscientes de suas feridas. O
comportamento da mãe é reativo e inconsciente. Elas não vêem ou sentem a dor
que causam a seus filhos, porque elas nunca se permitiram sentir a própria dor.
Elas
se sentem culpadas acerca de como trataram seus filhos, mas elas não podem
acessar essa culpa. Ela está profundamente enterrada.
Trazer
à tona tudo isto, a partir da superfície, pode ser uma proposta amedrontadora.
O coração ferido preferiria não se abrir a tal situação. Não desejamos encarar
nossa culpa, porque ela é apenas a ponta do iceberg. Uma vez que começamos a
admitir nossa culpa e a sentir a dor que causamos aos outros, começamos a ver a
raiz de todas as dores. Começamos a sentir o medo, o abandono, a crítica, até
mesmo o abuso que experienciamos nas mãos de nossas próprias mães.
Se
ainda não temos a coragem de assumir a jornada curadora através da nossa culpa
e da nossa dor, continuaremos sentados no pequeno barril de dinamite emocional.
Mais cedo ou mais tarde, alguém com o tipo certo de ferida materna penetrará em
nossas vidas e riscará o fósforo. Gostemos disso ou não, as nossas feridas mais
profundas estão fadadas a ter seus gatilhos acionados. Todos nos curamos, cedo
ou tarde.
Podemos
nos poupar de muito tempo e sofrimento se tivermos a coragem de falar sobre a
nossa dor e de compartilhá-la com os outros. Isto não é fácil para a pessoa que
reprimiu o seu trauma e enterrou a sua dor. Ela se magoa, mas guarda muito bem
o seu segredo. Ela caminha através da vida com uma máscara de ferro que diz:
“Estou ótima. Deixe-me só. Eu nada necessito de você”.
É
claro que isto não é verdade. Ela necessita e muito, mas não deseja admitir
suas carências. Nada procura exteriormente, nem permite que outros se
intrometam. Ela se afastará de forma defensiva e terá dificuldades em relação
aos outros. Rejeitará aberturas para amizade ou afeto, rejeitando amor e
intimidade.
Desse
modo, os outros aprendem a dar-lhe um amplo espaço. Assim, ela é abandonada
novamente. No entanto, esta é uma dor pequena e familiar. E ela prefere afastar
os companheiros potenciais, a abrir o coração a outro ser humano, com risco de
pagar o preço temido. Em algum nível, ela sabe que já pagou este preço e não
poderia se predispor a fazê-lo novamente.
Tal
tipo de pessoa está dando voltas em torno de um enorme buraco negro psíquico na
sua barriga, porque é ali onde o cordão umbilical foi cortado. É onde a ferida
se encontra e permanecerá até que ela tenha a coragem de encará-la, tenha a
coragem de pedir pelo amor e aceitação de que ela necessita tão
desesperadamente.
Naturalmente,
para a pessoa conseguir o que ela necessita, a máscara precisa cair. Ela deve
se permitir ser vulnerável e carente. Ela deve abrir o coração e permitir que
outros entrem.
Ambos,
homens e mulheres podem ter esta versão de ferida materna, ou outras. Todos
eles sofrem a incapacidade de receber amor.
Naturalmente,
se não podemos receber amor, também não poderemos dá-lo. Se há uma ferida
materna, há também a possibilidade de se encontrar uma ferida paterna.
Frequentemente, quando o nosso relacionamento com a mãe é difícil, fazemos uma
supercompensação e abraçamos a energia do pai com um zelo extraordinário. Ou
então, nos tornamos como as nossas mães e atraímos um companheiro como o nosso
pai, que é fraco, distante ou emocionalmente indisponível.
Muito
pouco de um dos pais frequentemente significa bastante do outro. Em qualquer
caso, perdemos o equilíbrio requerido pelo nosso psiquismo.
Todas
as pessoas com a ferida materna devem entender seus padrões e trabalhar para
curá-los. A menos que o nosso relacionamento com o princípio feminino seja
curado, nossos relacionamentos com as nossas mães, irmãs ou padrões femininos
não podem ser saudáveis. Além do mais, nós não estaremos prontos para o
relacionamento correto com a nossa Fonte. Não nos sentiremos conectados com a
essência do nosso Ser, porque é isso que a Divina Mãe é.
Todos
nós, com feridas maternas, necessitamos aprender a deixar o amor entrar.
Precisamos aprender como receber o amor incondicional e a aceitação da Mãe
Divina. Precisamos aprender a dar o amor da Mãe a nós mesmos.
Paul Ferrini