sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

COMO ISOPOR...


COMO ISOPOR...

O cenário continua o mesmo
O coração explode em amorosidade
Existe uma dualidade

Vivenciada pelo bem e o mal
O maior e o pequeno
O real e o sobrenatural

A esperança por instantes se enfraquece
O padrão vibratório cai
Exponho a fragilidade...

Exploro a voluptuosidade,
O instinto primitivo e sexual
Prevalece sobre a razão...

Com um insight concluo:
Está tudo bagunçado,
Alvoraçado e lúdico...

O coração ama
A mente racionaliza
O instinto aflora

O mistério da vida
Seria o equilíbrio entre:
Pai, Filho e Espírito Santo.

A Centelha Divina
É a vivencia que nos proporcionamos
Nesta tríade irreversível...

Nessa confusão 
Sentimental, sexual e intelectual
Estou entregue...

Mas por alguns momentos
Tudo fica mais leve...
É que escolho ser livre e feliz!

Boiando em uma praia deserta
Amando tudo que a vida me proporciona
Vivendo um dia após o outro...

Sou vísceras,
Sou emoção,
Sou razão...

Vivemos o que precisamos viver
Em uma imensa mandala
Onde somos todos um...


Por: Lucileyma Carazza

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

COMO AS MARÉS


COMO AS MARÉS

Por instantes me apego a um pensamento:
O mundo girando e eu aqui...
Sinto-me uma partícula ínfima.

Maré seca que me cerca
Uma brisa suave ao alvorecer
Pessoas se exercitando, eu, meditando...

Será que andam todos entulhados?
Ou será apenas a minha mente barulhenta
Suplicando por calar...

Entre ciclos viciosos estou presa
E qual seria o real proveito?
Dessa patética situação...

Do desconforto de sentir-me pequena...
Estou tal como essa maré-morta,
Pronta para transgredir.

O nível do mar é mais baixo,
Mas o mar não é menor por isso,
Muito menos pequeno...

Respiro e solto o corpo,
A mente silencia.
As vozes soam: “você é livre”!

Com um sorriso sereno estou no presente
Com o coração sempre aberto
Para vivenciar essa plenitude de apenas ser...

Ser um ser pequeno
Talvez insignificante,
Mas inspirador...


Por: Lucileyma Carazza

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016



Para atrever-se a amar uma bruxa, você deve estar disposto a esquecer tudo o que sempre pensou sobre o amor. Uma bruxa ficará ao seu lado como cúmplice, como companheira e amante compartilhando três vidas. A tua, a dela e a que construirão em comum. Você nunca alcançará o centro do seu coração, porque esse lugar somente pertence a ela. Uma bruxa nunca se entregará por completo a outra pessoa porque sabe que sua verdadeira essência é só sua.

Uma bruxa nunca perderá sua identidade, nem fingirá ser quem não é em troca de amor. Ela carrega dentro os segredos do vento da noite, o mistério da lua no olhar e o ritmo da terra em seu coração. Como poderia querer ser outra se ela já é completa? Se um homem não é capaz de ver a eternidade no sorriso de uma bruxa, ele nunca poderá compreender plenamente a imensidão do seu amor.

Amar uma bruxa removerá teu mundo, retirará anos de idéias equivocadas e te fará enfrentar com aquilo que está escondido no fundo de você mesmo, te fará olhar nos olhos no espelho para descobrir o que é o que ela vê quando te olha. Te fará dançar ao som da melodia mais antiga do mundo e te fará recordar que não é a primeira vez que você a encontrou. Amar uma bruxa te fará abrir a porta dos mistérios que nunca imaginou encontrar mas que sempre esperou descobrir.

Quando uma bruxa te ama, saberá o que é a plena confiança.
Jamais ela irá mentir. Nunca te enganará porque seria como enganar e mentir à sua própria alma. Se uma de nós te ama, poderá se sentir afortunado porque não há nada mais limpo e honesto que o amor de uma bruxa. Mas esperamos o mesmo. A mentira, o engano, a traição... matarão todo o sentimento que poderíamos ter por você. Sofreremos e sentiremos uma dor profunda, mas sabemos como curar-nos e seguir em frente.

Você deve se lembrar de que estamos conectadas com a terra e seus ciclos, por isso, nem sempre nos comportaremos da mesma formal. Às vezes o ar nos levará de um projeto ao outro e será difícil seguir-nos. Às vezes as ideias se cruzam tão rápido em nossa mente que só outra mente rápida e curiosa poderá seguir nossa conversa. Às vezes o fogo nos fará consumir de paixão ou de erupções como vulcões diante daquilo que considerarmos injusto. Provavelmente a nossa raiva é difícil de enfrentar, porque não é qualquer um que consegue lidar com a ira de uma bruxa.

Às vezes a água nos imergirá em tempos de silêncio e melancolia, e irá parecer ainda mais difícil alcançar-nos, mas quando emergirmos do mar de nossas emoções, vamos te amar ainda mais, porque os nossos sentimentos estarão ainda mais claros. Às vezes irá parecer que a terra faz-nos preocupar mais que o normal pelo material, mas apenas estamos criando raízes profundas para poder assentar o lar que acreditamos juntos no tempo e no futuro.

Talvez em alguma noite a bruxa que você ama, não ficará ao seu lado, mas aonde ela esteja, dançando embaixo da lua cheia ou explorando a escuridão da lua escura, você estará com ela. Porque quando uma bruxa se apaixona , ela sabe que essa união foi forjada pela sua alma e pela tua muito antes de nascer, por isso você pode ter certeza de que ela irá voltar para o seu lado. E estará mais completa, mais feliz, mais bruxa e mais apaixonada do que nunca.

Se você ama uma bruxa, terá elegido compartilhar sua vida com uma pessoa livre, que, a partir de sua liberdade, irá compartilhar seu mundo com você. Por isso você deve saber que se algum dia ela deixa de te amar, não haverá jogos nem mentiras. Não haverá enganos. As bruxas conhecem muito bem o poder do amor, da força que é compartilhar a vida com alguém que te impulsiona a ser tua melhor versão e se atreve a alcançar teus sonhos com a segurança de que sempre haverá alguém que crê em você. Ser amado neste mundo cada vez mais solitário é um dom que nós devemos cuidar e agradecer porque não está destinado a todos. Portanto, se alguma vez tudo termina, o último ato de amor de uma bruxa é deixar você ir. Só então ambos poderão encontrar a felicidade e a vida desejada. Juntos ou sozinhos.

E você, bruxa, se chegou a uma época da sua vida em que esta preparada para compartilhar teu caminho com alguém, nunca esconda quem você é à pessoa que amas. Mostra tua alma, deixa fluir tua magia e diga quem você é desde o primeiro momento. Só assim saberá que o que está criando é real.

Se você ama, deve amar por inteiro. Com todas as suas vidas, com toda a sua magia, com todos os seus sonhos. Com todos os mistérios de seu coração de bruxa.


~ Eva Hyedra López

domingo, 21 de fevereiro de 2016

PRESENTE


PRESENTE

Um espírito livre
Rege a minha centelha divina
Guiada pela luz da Lua e os ciclos das marés.

Talvez esteja sendo monotemática;
Mas gosto de acreditar em um mundo lúdico,
Onde vivencio essa magia que encanta, fascina e apaixona.

A Luz prevalece em sua plenitude
Numa serenidade aparente,
Será o efeito do fim do verão e a chegada do inverno?

Uma transitoriedade esperada e rogada...
Talvez meus desejos não sejam as melhores escolhas;
Render-me as dádivas do Universo é a melhor opção...

Acredito que seja apenas a influência dessa Lua,
Que me proporciona o aterrar dos pensamentos
Onde presencio a natureza e me entrego a sua plenitude.

Nessa magia antiga reina o princípio:
De fazer o que queres, como desafio,
Amar a um amor que ninguém vá magoar.

Oito palavras regem o meu credo:
“Sem prejudicar a ninguém, faça o que deseja”.
O feitiço abre as brunas de uma mente silenciosa...

Não sou uma mulher de convenções,
Não sou jardim...
Sou ventre sagrado!

Decidi viver assim:
Quando percebo que a vida me chama,
eu vou...


Por: Lucileyma Carazza

domingo, 14 de fevereiro de 2016

MEDITABUNDA


MEDITABUNDA

Há um certo desconforto
Embora a paz reine nos pensamentos
Lua crescente que fortalece
Vento sul que assovia
Maré cheia que remexe

No fundo a paz reina no coração
Estando completamente fora dos padrões...
De todas as falésias advindas
A luz inacreditavelmente transborda,
De mansinho ela chega sem alarde.

Entre suspiros vivencio a vida
Contemplo a sensibilidade aguda...
Finalmente estou entregue ao presente
Sem amarras e conceitos a serem seguidos
Estou anos luz e reverencio em compaixão

Conhecimentos são revestidos de sabedoria
Livre de julgamentos onde há a prevalência do SER
E na balada dos grandes poetas me entrego
Nos ensinamentos dos grandes mestres me acabo
E a cura surge e fortalece.

De todos os aprendizados fica a marca registrada:
O de carregar um pouco da dor do próximo,
Amar sem esperar nada em troca,
Viver com um sorriso estampado na face...
Cicatrizes ficam melhor com o tempo.


Por: Lucileyma Carazza

Não se limite.
Não se subtraia.
Não esmoreça.
Liberte-se.
Enfrente.
Levante-se!
Não se enquadre se achar que não caberá.
Não use apenas a sedução como arma de conquista.
Você é muito mais que um corpo.
Desperte. Pra dentro de você mesma!
Se ame.
Dance.
Não deixe que te transformem em objeto.
Objetive-se!
Fale.
Grite!
E se preciso for,
Se cale.
Há de existir aquele alguém que te reconhecerá.
Que te endeusará.
Há de haver um leitor de palavras e alma.
Existe por aí alguém que saberá te tocar por dentro.
Não se apresse!
A vida é tempo!


Juliana C. Wolf (J.)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

MULHER MALUCA


MULHER MALUCA

A mente acelera ao tentar descrever
Esse amor que corrói a alma...
Talvez seja a ideia fixa
Desta pessoa que vivera na “Terra do Nunca”.

Talvez seja apenas a imagem
De algo que sempre carreguei na inconsciência
O encontro de um escorpião pescador...
No fundo acredito que é apenas o ego dando uma rasteira.

Rogo por simplicidade da vida
Por uma xícara de chá
Um mergulho no mar
E um forte abraço ao alvorecer...

Rogo por você ao meu lado
Não com a carapuça de “bom moço”
Mas com a sua essência forte de escorpião
Que desbrava marés em sua plenitude e simplicidade.

Deslumbres catárticos e insights quânticos
Nos aproximam de quem realmente somos...
E ao vivenciar as peripécias dessa mulher maluca
Um sorriso surge na face, seguido de um forte suspiro...

Adeus “Terra do Nunca”,
Carrego apenas as lembranças
Perdoo a “imaginação” inalcançável
Recomeço em uma nova terra menos lúdica

Um ciclo que se fecha
E uma Maluca que reage
Entregue a tudo aquilo que o Universo
Ainda lhe proporcionará.

Dançando o ventre
Reverenciando a Lua
Correndo com os lobos
Livre!

Por: Lucileyma Carazza


Cada ciclo aberto rouba um pouco de energia vital. Nos liga com a vitimização e a culpa. Ir fechando um por um, nos liberta para seguir em direção ao nosso sol”. Por: Paula Jácome

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

QUARESMA


QUARESMA

A insanidade e uma única voz:
Silencie, abdique e viva!
Com sabedoria, amorosidade e em paz...
Agradeça as dádivas de apenas SER.

Este tal de "carnis levale"
Que não seduz e faz o coração bater...
Forte nas batidas da compaixão
Que direciona à solitude e a reflexão

Lembro-me das pessoas que amo
Do silencio em mergulhar em águas cristalinas
Da adrenalina de voar e saltar
Do cavalgar e sentir o cheiro de mato.

Sinto falta de melodias instrumentais
De sorrisos românticos, ingênuos e infantis.
Na verdade sinto saudades de mim,
Das minhas esquisitices na busca de conhecimento.

Repentinamente me dei conta que o Mundo não me seduz
Que a Terra é a minha mãe
Guiada por todas as fases das Lua
Sou amarrada às “coisas” da VIDA

Não sou uma mulher de convenções,
Mas também não sou frívola e libertina...
Acredito impreterivelmente no amor
Curo as malesas do ego transgredindo

Ainda caio em armadilhas
Mas saio na velocidade da luz das lacunas que me submeti.
De joelhos, reverencio por não ser mais a mesma,
Pois a lapidação da vida é um milagre a se viver.

Sinto muito! Muito obrigada! Eu te amo!
Sinto muito! Muito obrigada! Te reverencio!
Esta é a chaga de uma vida
Sinto muito... esta é a única cicatriz que carrego


Por: Lucileyma Carazza

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

ESPIA


ESPIA

Nos perdemos de nós mesmos
Caminhamos pelos caminhos do ego
Pelas escolhas embasadas em falácias

Já tive raiva por ser hipersensível
Por escutar o que ninguém ouve
Enxergar o que ninguém vê

Já tive desprezo pela poesia
Desespero por não receber amor
Vergonha por atitudes e escolhas

Tive garra para assumir quem eu sou
Orgulho por ser como as águas que me banham
Compaixão para curvar diante da minha insignificância

Acredito que a insanidade é uma dadiva incompreendida
Por aqueles que insistem em manter-se fundeados
Que não se arriscam em águas tempestivas

Talvez esteja ancorada ao tempo
E seja incompreendida por ser quem eu sou
Saboreando aventuras e vivenciando a solitude

Talvez seja apenas mais um clamor
A dor da alma que ama por demais
Que almeja paz sem torna-se um nó...

Aos lúcidos que vivem ancorados em uma maré seca
O meu sinto muito
Tenho sede vida e liberdade de alma

A minha felicidade vai de encontro ao:
Eu te amo!
Por isso quero que você seja feliz!

Por: Lucileyma Carazza

Espia: cabo destinado a amarrar um barco ao cais (atracar).
Fundeados: ancorado
Chão ao povo.
Quando floriu na lavoura a flor.
Quanta historia como a água do rio passou.
Floresceu o amanhã sob o olhar de um povo.
E a esperança como criança alegre,
De quantas historias nasceu nesse solo.
E no costume do povo
É o café, sem dúvida um doce gozo.

Que aglomera e ajuntas,
Que faz sobreviver as lendas e os contos;
E como dizia em Minas um avô;
“Dessas montanhas mineiras,
Dessa terra, essa esfera inteira, há de se lembrar.
Desse grão de pequena beleza”.

Café bom é forte, é amargo... Esse sim traz prosa,
Esse sim, é da mistura da poeira ao suor do labor.
Eita sô, costume de roça; Meu fruto de chão ao povo.


Por: Sergio Dias

A MORTE



A MORTE

E o encontro de quem somos de verdade
Por trás de:
Medos
Alegrias
Prazeres
Amores e paixões

Muitos são passageiros
Outros só estão de passagem
Regastes
Nós somos passageiros
Nessa viagem
Não de férias
E sim a trabalho

Um labirindo sem fim
Nos encontrar dentro de nós mesmos.

Solidão
Conforto
Desprezo
Mistérios... vazios...
Viver.

Viver intensamente
Sonhar um mundo simples
Vida
Que
Segue
Vida
Que
Vai

Num barquinho sobre a marola
Rema, rema e rema...
Com dois remos o sentido será
Para onde você quiser
Mais se tiver apenas um remo
Do lugar não saíra

Há necessidade de ter os dois remos,
O Conhecimento
E a prática.


Por: Ronnam Henrique
QUANDO A DOR SE TRANSFORMA EM POEMA
– POR RUBEM ALVES

Um deus fraco pode chorar comigo. E por isso nos amamos…

Hoje, sexta-feira, 20 de setembro de 1996, minha vontade é não escrever. Escrevo como sonâmbulo, na esperança, talvez, de que as palavras consigam diminuir a minha dor. Mas eu não quero que a dor diminua. Não quero ser consolado. Não quero ficar alegre de novo. Quando a dor diminui é porque o esquecimento já fez o seu trabalho. Mas eu não quero esquecer. O amor não suporta o esquecimento.

Vazia das palavras que a dor roubou, a alma se volta para os poetas. Não, na verdade não é bem assim. A alma não se volta para nada. Ela está abraçada com a sua dor. São os poetas que vêm em nosso auxílio, mesmo sem serem chamados. Pois essa é a vocação da poesia: pôr palavras nos lugares onde a dor é demais. Não para que ela termine, mas para que ela se transforme em coisa eterna: uma estrela no firmamento, brilhando sem cessar na noite escura. É isso que o amor deseja: eternizar a dor, transformando-a em coisa bela. Quando isso acontece, a dor se transforma em poema, objeto de comunhão, sacramento.

A dor é tanta que a procura das palavras – brinquedo puro quando se está alegre – se transforma num peso enorme, bola de ferro que se arrasta, pedra que se rola até o alto da montanha, sabendo ser inútil o esforço, pois ela rolará de novo morro abaixo. Sinto uma preguiça enorme, um desânimo sonolento de escrever. Arrasto-me. Obrigo-me a me arrastar. Empurro as palavras como quem empurra blocos de granito. Gostaria mesmo é de ficar quieto, não dizer nada, não escrever nada.

Será que algum jornal aceitaria publicar uma crônica que fosse uma página em branco, silêncio puro? Escrevo para me calar, para produzir silêncio. Como numa catedral gótica: as paredes, as colunas e os vitrais servem só para criar um espaço vazio onde se pode orar. Álvaro de Campos entende que a poesia é isso, uma construção em palavras em cujas gretas se ouve uma outra voz, uma melodia que faz chorar.

Sei que minhas palavras são inúteis. A morte faz com que tudo seja inútil. Olho em volta as coisa que amo, os objetos que me davam alegria, o jardim, a fonte, os CDs, os quadros, o vinho (ah, o riso dele era uma cachoeira, quando abria uma garrafa de vinho!): está tudo cinzento, sem brilho, sem cor, sem gosto. Não abro o vinho: sei que ele virou vinagre. Rego as plantas por obrigação. O dever me empurra: elas precisam de mim. Agrado o meu cachorro por obrigação também. Ele não é culpado.

Atendo o telefone e sou delicado com as pessoas que falam comigo: elas ainda não receberam a notícia nem receberão. Tentei dar a notícia a algumas pessoas. Disse-lhes que fazia seis horas que chorava sem parar. Elas riram. Não por maldade, mas por achar que eu estava brincando.

Meu melhor amigo morreu. Portanto, todas as palavras são inúteis. Sobre a cachoeira do seu riso está escrito “nunca mais”. Nenhuma delas será capaz de encher o vazio. Recordo as palavras da Cecília – palavras que, acredito, foram escritas muito depois da dor, depois que a dor já se havia transformado em beleza:

(…) Mas tudo é inútil, porque os teus ouvidos estão como conchas vazias, e a tua narina imóvel não recebe mais notícia do mundo que circula no vento. (…) Mas tudo é inútil, porque estás encostada à terra fresca, e os teus olhos não buscam mais lugares nessa paisagem luminosa, e as tuas mãos não se arredondam já para a colheita nem para a carícia.

Meu melhor amigo. Amigo é uma pessoa que, só de lembrar-se de você, dá uma risada de felicidade. Assim são os amigos – não há os mais nem os menos amigos. Ou é ou não é. Todos são iguais. Mas sei que meus outros amigos entenderão, quando digo que o Elias Abrahão era o meu melhor amigo. Se a gente tem dez filhos e um morre, aquele era o que a gente mais amava. Se um pastor tem cem ovelhas e uma se perde, aquela era a de que ele mais gostava. O Elias morreu. Ele era o meu melhor amigo. Meu corpo e minha alma, hoje, são um vaso cheio com a dor do seu vazio.

O poeta W.H. Auden já disse, exato, o que estou sentindo.
Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e o tambor sancione
a  vinda do caixão e seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto – um lenço no pescoço –
e os guardas usem finas luvas cor de breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto viveu;
meus dias úteis, meu fim de semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto,
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar as estrelas – são molestas,
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de certo doravante.

Em momentos assim tenho dó imenso das pessoas que têm um deus forte. Pois – coitadas – estão perdidas diante da morte.

Ter um deus forte é saber que, se tivesse querido, ele teria evitado a morte. Se não evitou é porque não quis. Ora, se foi ele quem matou, ele não pode estar sofrendo. Está é feliz, por ter feito o que queria. Assim, ele é culpado da minha dor. Eu e ele estamos muito distantes, infinitamente distantes. Como poderia amá-lo – um deus assim tão cruel? Mas, se ele é um deus fraco, isso quer dizer que não foi ele quem ordenou – ele não pôde evitar. Um deus fraco pode chorar comigo. Ele até se desculpa: “não foi possível evitá-lo. Eu bem que tentei. Veja só estas feridas no meu corpo: elas provam que me esforcei…”. Ele chora comigo. E por isso nos amamos.

Tenho no meu quintal uma árvore, sândalo, de perfume delicioso. Foi o Elias quem me deu a mudinha, vinda do Líbano. Cuidarei dela com redobrado carinho. De vez em quando vou regá-la com vinho. Não me surpreenderei se ela ficar bêbada e começar a dar risadas. Saberei que o Elias está por perto.

“Amigo é uma pessoa que, só de lembrar-se de você, dá uma risada de felicidade”. Doracino Naves


Fonte: As melhores Crônicas de Rubem Alves, 5ª reimpressão, Comacchia Livraria e Editora Ltda., São Paulo, páginas 39/41.