quarta-feira, 15 de junho de 2011

O poder da escolha!




Paul Ferrini

Aqueles que se fazem de vítimas estão pouco dispostos a assumir responsabilidade pelo que estão criando em suas vidas. Eles criam um caos, achando não serem responsáveis por isto, e esperam que outros resolvam as coisas para eles.
Uma vítima se sente impotente. Claro que ela não é realmente impotente. Poderia decidir, a qualquer hora, assumir a responsabilidade, investindo-se de sua própria autoridade. Mas prefere fingir que não pode. E, frequentemente, as pessoas acreditam nela, acreditam na sua história e na sua lamentação. E depois de algum tempo, ela tende a esquecer que está fazendo o papel de vítima, e começa a acreditar que realmente não tem qualquer escolha sobre a sua vida.

Este não seria um problema se os outros a deixassem livre para ocupar-se de seus pensamentos ilusórios. Mas geralmente, ela atrai aliados - outras vítimas que reforçam juntas as mesmas ilusões - assim como atrai também seus “salvadores” - aqueles que precisam salvá-las do seu drama, alguém que tome decisões por ela, ou então que assuma uma falsa e imprópria responsabilidade pela vida dela.

Não apenas a promessa do salvador é sedutora para a vítima, mas também seu salvador se entrega para ser um alvo da culpa, caso as coisas não funcionem. Se o salvador não resolver o drama da vítima, isso agora se tornará a culpa do salvador. Nem é necessário dizer, culpar os outros só fortifica a posição da vítima no papel dela.
Esta é a história geradora de abusos que está presente em todas as relações de codependência. Uma vítima atrai inevitavelmente um algoz/vitimizador ou um salvador/cuidador. Aquele que se recusa aceitar suas responsabilidades atrai outro, que não perde por esperar para assumir estas mesmas responsabilidades.

Salvadores e algozes têm uma atração compulsiva para controlar a vida dos outros.

Qualquer responsabilidade que eles assumem implica em vínculos que aprisionam.
Vítimas, e seus salvadores ou algozes abrem mão do próprio poder. Às vezes é impressionante ver como o salvador/algoz faz isso. O fato é que a compulsão para cuidar ou para controlar outro ser humano nasce de uma insegurança profunda, de uma inabilidade para assumir a responsabilidade apropriada em relação a si mesmo.

Por isso as vítimas e seus algozes ou as vítimas e seus salvadores se atraem. Ambos se recusam a assumir a responsabilidade por si mesmos. Ambos são incapazes de fazer escolhas por si mesmos. São codependentes. Cada um precisa do outro para decidir e cada um culpará o outro quando os problemas acontecerem, se multiplicando de forma intolerável.

Para se tornarem autênticos, precisam conseguir retomar o próprio poder e voltar a decidir apenas por si mesmos.

Uma vontade livre é idêntica a uma habilidade para escolher. Ninguém pode ser autêntico se der o seu poder de escolha para outros, assim como também não podemos ser nós mesmos caso queiramos nos apossar do poder de escolha do outro. Cada pessoa tem que decidir ou escolher por si própria. Toda tentativa de interferir com a escolha do outro é uma transgressão.


Pessoas que têm tendência para vítimas, algozes ou salvadores, têm que aprender a se apoiar em si mesmas e fazer as próprias escolhas
. Para tanto, têm que se desembaraçar das relações de codependência, onde são ignorados os limites dos territórios individuais e onde o poder e a responsabilidade são indevidamente entregues ou tomadas de outrem.

“Agredir o outro é uma forma de autoagressão. Pois a agressão nos impede de elaborar a raiva interiormente. O quanto o outro quer nos agredir é uma questão dele, mas o quanto nos permitimos ser agredidos é uma questão nossa.” (Lama Michel Rinpoche)