UMA COISA
Somos o que somos, e talvez, os
julgamentos, só nos causam mais stress e angústias, que aos meus olhos são
desnecessários. Parece que relaxar e deixar fluir é algo que não merece ser vivenciado.
Venho ralando o meu ego de todas as maneiras
possíveis para me tornar uma pessoa melhor, mas em alguns aspectos continuo
torta e estragada... extremamente estragada, a imperfeição está em mim.
Com o tempo aprendemos na dor ou no amor
que somos responsáveis por nossas escolhas e não há como transferir esta
responsabilidade. A culpa é apenas uma palavra, e não, uma emoção. A culpa
jamais será algo que cause angústia no meu peito, pois, ando em retidão, talvez,
o arrependimento me cause angústia ainda... mas me pergunto: se não me arriscar
como saberei se a experiência foi boa ou ruim? No fundo apenas suspiro e
mentalizo: fiz o meu melhor dentro das minhas limitações.
Como mulher, responsabilidades me foram
impostas sempre. Aos 12 anos já trabalhava, aos 15 viajava sozinha em virtude
do trabalho que me fora imposto... para a minha família eu tinha
responsabilidade para trabalhar e viajar sozinha para fazer compras para uma
loja com vários talões de cheque assinados em branco na bolsa... mas eu não
podia ir ao cinema sozinha, eu não podia ir a lugar algum...
Não reclamo da educação que tive, que
fora extremamente rigorosa. Tinha que andar no limite da perfeição e daí por
diante não foi muito diferente. Até os 26 anos só vivi para agradar o ego da
minha família; o que eu sentia ou pensava era ignorado, e eu, não queria causar
frustração alguma aos meus pais, irmãos, amigos e outros... Aos 33 anos
morri... aos 38, por exaustão saí de perto daquilo que eu não conseguia mudar e
conquistar. Não mudaria o padrão da minha família e nem conquistaria a paz de
espírito e um pouco de liberdade que almejava.
Não confunda liberdade com libertinagem,
muito menos imagine que ser livre é fazer o que se quer. Ser livre está
intrinsicamente ligada ao comprometimento, a responsabilidade e com a leveza da
sua alma. Ser livre é estar em paz consigo mesmo e ter o discernimento de
acolher e conviver com os maus entendidos da vida e não se envergonhar. Ser
livre é ser ético e seguir em retidão, mesmo estando com um coração dilacerado
por ter sido desmerecida por ser quem você é.
Estranha essa percepção do quanto vivi
para agradar e o quanto fui impedida de viver para agradar as pessoas que eu
mais amei... dói assumir o quanto isso me limitou, me bloqueou, me feriu e me
paralisou.
Vivo num limbo e sofro com isto. Vou
dizer, que, quando morri, escolhi viver em solitude e aprendi a viver assim.
Neste sentido, vivo sem perturbar a vida de ninguém, pelo contrário, sou aquela
que é sempre lembrada em uma dificuldade, mas sempre esquecida para uma festa.
E este textão descabido que não sei
direito sobre o que é em se tratando de emoção ou fatos do cotidiano se deu em
virtude da pessoa que me tornei.
Sempre quando estou muito feliz penso:
vem uma pancada aí; e ela sempre vem...
outro pensamento que sempre me ocorre é quando conheço alguém que talvez possa
me agregar vivências... olho e sempre me pergunto: O que este daí vai me tirar,
melhor dizer: ensinar...
Não se engane no seu julgamento: uma
gargalhada alta, um ato de leviandade ou libertinagem, um cabelo verde e dançar
no meu meio do supermercado ao ouvir uma música que eu goste não revela de fato
quem eu sou...
A solitude não é sinônimo de
irresponsabilidade, e sim, de responsabilidade. Os riscos são altamente
calculados.
Talvez este texto seja apenas o devaneio
de uma mulher de meia idade que perdeu a
sua solitude e encarou a solidão. Uma mulher que resolveu viver e se arriscar
pouquinho... Mas confesso que já bateu o arrependimento, o sorriso deu lugar às
lágrimas e me lembrei da solitude, estar em solitude é uma zona de conforto
extremamente confortável e talvez lá, continue sendo o meu lugar.
Um colo pode te curar de várias feridas,
te fazer dormir... é a afetuosidade que te faz liberar ocitocina... uma mulher
exausta não tem como entregar o seu colo porque talvez ela nunca tenha tido um.
Os puxões de orelhas nos fazem
refletir... humildemente agradeço e reverencio. No alto daquela colina, diante
daquele cruzeiro e daquela paisagem exuberante, agradeci o que tenho, o que sou
e pela primeira vez na minha vida pedi ao Universo que me proporcionasse uma relação sadia com um homem
honrado.
Por: Lucileyma Carazza