quarta-feira, 23 de julho de 2025

UMA COISA

 

UMA COISA

 

Somos o que somos, e talvez, os julgamentos, só nos causam mais stress e angústias, que aos meus olhos são desnecessários. Parece que relaxar e deixar fluir é algo que não merece ser vivenciado.

Venho ralando o meu ego de todas as maneiras possíveis para me tornar uma pessoa melhor, mas em alguns aspectos continuo torta e estragada... extremamente estragada, a imperfeição está em mim.

Com o tempo aprendemos na dor ou no amor que somos responsáveis por nossas escolhas e não há como transferir esta responsabilidade. A culpa é apenas uma palavra, e não, uma emoção. A culpa jamais será algo que cause angústia no meu peito, pois, ando em retidão, talvez, o arrependimento me cause angústia ainda... mas me pergunto: se não me arriscar como saberei se a experiência foi boa ou ruim? No fundo apenas suspiro e mentalizo: fiz o meu melhor dentro das minhas limitações.

Como mulher, responsabilidades me foram impostas sempre. Aos 12 anos já trabalhava, aos 15 viajava sozinha em virtude do trabalho que me fora imposto... para a minha família eu tinha responsabilidade para trabalhar e viajar sozinha para fazer compras para uma loja com vários talões de cheque assinados em branco na bolsa... mas eu não podia ir ao cinema sozinha, eu não podia ir a lugar algum...

Não reclamo da educação que tive, que fora extremamente rigorosa. Tinha que andar no limite da perfeição e daí por diante não foi muito diferente. Até os 26 anos só vivi para agradar o ego da minha família; o que eu sentia ou pensava era ignorado, e eu, não queria causar frustração alguma aos meus pais, irmãos, amigos e outros... Aos 33 anos morri... aos 38, por exaustão saí de perto daquilo que eu não conseguia mudar e conquistar. Não mudaria o padrão da minha família e nem conquistaria a paz de espírito e um pouco de liberdade que almejava.

Não confunda liberdade com libertinagem, muito menos imagine que ser livre é fazer o que se quer. Ser livre está intrinsicamente ligada ao comprometimento, a responsabilidade e com a leveza da sua alma. Ser livre é estar em paz consigo mesmo e ter o discernimento de acolher e conviver com os maus entendidos da vida e não se envergonhar. Ser livre é ser ético e seguir em retidão, mesmo estando com um coração dilacerado por ter sido desmerecida por ser quem você é.

Estranha essa percepção do quanto vivi para agradar e o quanto fui impedida de viver para agradar as pessoas que eu mais amei... dói assumir o quanto isso me limitou, me bloqueou, me feriu e me paralisou.

Vivo num limbo e sofro com isto. Vou dizer, que, quando morri, escolhi viver em solitude e aprendi a viver assim. Neste sentido, vivo sem perturbar a vida de ninguém, pelo contrário, sou aquela que é sempre lembrada em uma dificuldade, mas sempre esquecida para uma festa.

E este textão descabido que não sei direito sobre o que é em se tratando de emoção ou fatos do cotidiano se deu em virtude da pessoa que me tornei.

Sempre quando estou muito feliz penso: vem uma pancada  aí; e ela sempre vem... outro pensamento que sempre me ocorre é quando conheço alguém que talvez possa me agregar vivências... olho e sempre me pergunto: O que este daí vai me tirar, melhor dizer: ensinar...

Não se engane no seu julgamento: uma gargalhada alta, um ato de leviandade ou libertinagem, um cabelo verde e dançar no meu meio do supermercado ao ouvir uma música que eu goste não revela de fato quem eu sou...

A solitude não é sinônimo de irresponsabilidade, e sim, de responsabilidade. Os riscos são altamente calculados.

Talvez este texto seja apenas o devaneio de uma mulher de meia idade que  perdeu a sua solitude e encarou a solidão. Uma mulher que resolveu viver e se arriscar pouquinho... Mas confesso que já bateu o arrependimento, o sorriso deu lugar às lágrimas e me lembrei da solitude, estar em solitude é uma zona de conforto extremamente confortável e talvez lá, continue sendo o meu lugar.

Um colo pode te curar de várias feridas, te fazer dormir... é a afetuosidade que te faz liberar ocitocina... uma mulher exausta não tem como entregar o seu colo porque talvez ela nunca tenha tido um.

Os puxões de orelhas nos fazem refletir... humildemente agradeço e reverencio. No alto daquela colina, diante daquele cruzeiro e daquela paisagem exuberante, agradeci o que tenho, o que sou e pela primeira vez na minha vida pedi ao Universo que me proporcionasse uma relação sadia com um homem honrado.

 

Por: Lucileyma Carazza