quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A INVEJA

 Inveja. Eis um dos sentimentos mais torpes e difíceis de serem eliminados da alma humana. Trata-se de um dos vícios que mais causa sofrimento à humanidade. Onde houver apego à materialidade das coisas, notadamente em seu significa...
do, naquilo que o objeto de desejo simboliza em termos de bem-estar e status quo, aí estará a inveja, sobrevoando os pensamentos mais íntimos qual urubu ou abutre insaciável, esfomeado pela carniça. A cobiça é o seu moto-contínuo.

Há pessoas que se colocam como cães de guarda, sempre alertas ao menor ruído. Basta alguém se destacar em alguma área, por mais ínfima que seja e lá estará o invejoso, pronto para apontar o dedo e tentar minimizar o feito de seu próximo. Uma roupa diferente, um calçado da moda ou mesmo um brico ou pulseira bem colocados, já torna-se motivo para elogios, nem sempre sinceros. As mulheres, e que me perdoem as mulheres, elas são pródigas nesse tipo de expediente.

COBIÇA E BEM-ESTAR

Torna-se necessário, contudo, diferenciar a inveja, a cobiça, da busca do bem-estar. Não há nada de errado em trabalhar para se conquistar o conforto necessário à subsistência e às condições materiais imprescindíveis, visando o aprimoramento e a eficiência em determinada atividade, sem causar prejuízo ao próximo. Se alguém possui um objeto ou uma virtude que nos falta, desejá-los com humildade e sinceridade não é inveja.

Todavia ela surge, graciosa e sedutora, quando sentimos uma sensação de perda, um vazio não preenchido pelo objeto de desejo, principalmente quando, numa formulação mental mesquinha e destrutiva, nos consideramos muito mais dignos do que aquele que possui o que não temos.

902. É repreensível cobiçar a riqueza com o desejo de praticar o bem?
— O sentimento é louvável, sem dúvida, quando puro. Mas esse desejo é sempre bastante desinteressado? Não trará oculta uma segunda intenção pessoal? A primeira pessoa a quem se deseja fazer o bem não será muitas vezes a nossa? (O Livro dos Espíritos - Ed. LAKE)

A acepção desta pequena palavra, contida no dicionário Aurélio, é deveras interessante. “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio.” Os Espíritos que perturbam a nossa relativa felicidade, erroneamente chamados de obsessores, a fim de nos ver nivelados ao seu estado de inferioridade moral, agem movidos pela inveja.

Invejosos eram os fariseus e os saduceus na época de Jesus de Nazaré. Invejoso foi Judas. E Barrabás, ao se ressentir do carisma que o mestre possuía naturalmente em profusão, sem precisar lançar mão de artifícios, poses e posturas afetadas, às vezes até necessárias para um político profissional.

Quantos reis e rainhas não foram massacrados, mortos em circunstâncias misteriosas, efeito direto dessa viciação moral? A chamada “puxada de tapete”, que ocorre nas empresas, nos vários locais de trabalho, inclusive na família e onde quer que se reúnam pessoas, sempre acontece sob inspiração esse vício hediondo e asqueroso.

TRIO DE FERRO

A vaidade e o orgulho, esses dois gigantes da imoralidade, filhos diletos do egoísmo, combinados proporcionalmente com a inveja, formam um trio de ferro corrosivo, uma espécie de três mosqueteiros às avessas. Um triunvirato repugnante e nauseabundo, espécie de tríade repulsiva e sinistra.

Se nos consideramos mais merecedores do que o próximo que tenha aquele belo carro do ano, imaginando que seria mais “justo” que aquele objeto fosse de nossa propriedade, essa fantasia traz consigo um ranço de origem, proporcionado pela inveja.

Em função desse sentimento mesquinho, muitos grupos espíritas se dividem (aliás, o movimento espírita cresce mais por divisão do que por uma multiplicação previamente planejada) na busca tresloucada de espaços de trabalho, na direção de determinadas atividades, no exercício do poder. É muito comum vermos subgrupos dentro de um mesmo grupo, a popular panelinha, um tipo de trincheira, um gueto mesmo, que se arma contra os que conquistaram, ao longo do tempo, o seu espaço por mérito moral e intelectual.

Esses grupelhos promovem fofocas, queimam pessoas, malham as legítimas lideranças como se fossem Judas, desmerecem o trabalho realizado e promovem intrigas. Tudo por inveja. Não há dor de cotovelo que suporte o sucesso alheio. É por isso que a cobiça, a avidez desmesurada e destrutiva proporcionam um quadro de morbidez e infelicidade para aquele que se alimenta desse sentimento maligno.

O INVEJOSO EM AÇÃO

O invejoso não suporta ver um novato invadir espaços que ele, em sua santa indolência, deixou de ocupar por pura incompetência e comodismo. Se sente atingido, usurpado e se agarra, com unhas e dentes, ao espaço que ele acha que é seu e somente seu. Uma sutileza interessante, já que o homem pré-histórico, movido pelo instinto brutal, destroçava o seu algoz, a fim de se apropriar de seus pertences. O tempo passou, a evolução se processou como convém à estrutura das leis naturais, mas o princípio permanece o mesmo.

O invejoso passa para o boicote, vai minando com fofocas e pequenas atitudes estrategicamente montadas, a fim de destruir o novo trabalhador da Doutrina. Quer provar, ao menos para si mesmo, que o espaço é dele, e somente dele.

Do micro-universo do centro à macro-estrutura do movimento espírita, acontece, analogamente, a mesma situação. Os burocratas do Espiritismo brasileiro, cercados por seus porta-vozes, asseclas e pseudo-intelectuais, se arrepiam só em pensar na perda do poder. Quando algum grupo surge, contestando sua concepção doutrinária e seus esquemas, tratam logo de persegui-lo, taxando-o de antro de obsedados, de anti-fraternos, anti-espíritas etc.

Não dá para negar que muitos até escrevem livros atacando esses grupos, se esmeram na elaboração de artigos e fazem palestras, movidos pela boa intenção. Mas será que, no fundo, não há também uma razoável dose de inveja do vigor da juventude intelectual e moral que, inevitavelmente, agride os indiferentes?

INSTINTO DEGENERADO

A inveja é uma das facetas do instinto de destruição degenerado, estagnado, pois ela conduz o invejoso ao extermínio, ao transtorno e à ruína de si mesmo.

“Puxa, que belo quadro, gostaria de tê-lo pintado!”
“Que livro interessante, desejaria tê-lo escrito!”
“Caramba, que sacada, por que não tive essa idéia antes!”

Se o sentimento de surpresa diante de uma obra, de um feito ou de uma rara virtude for digno e generoso, não há inveja. Trata-se apenas de um incentivo, um grande estímulo para que nos empenhemos em adquirir novas virtudes, produzir quadros mais belos se formos artistas, textos mais requintados se formos escritores, tortas mais saborosas se formos um mestre-cuca.

O Espiritismo nos ensina que as pessoas que agem de modo desinteressado, com benevolência e ternura, de forma natural, sem afetações, sem hipocrisia, são como velhos guerreiros que no passado já autoconstruiram e conquistaram sua grandeza moral. Ter o desejo de se comportar como essas pessoas não é inveja. Se fosse, seria uma inveja deveras singular.

Daí que o modelo de virtude eleito pelo Espiritismo, Jesus de Nazaré, torna-se ao menos para nós, ocidentais, uma referência longínqua e ao mesmo tempo muito próxima, uma baliza, um marco para a busca necessária da virtude, de uma ética condizente com as leis naturais.

A VIRTUDE

Segundo Platão e Sócrates, virtude não se ensina. A virtude (aretê) nada tem de opiniático. Trata-se de um dom ofertado por Deus, segundo a concepção socrática. Mas virtude é conhecimento, e como tal, segundo os gregos, não pode ser ensinada. Ou seja, não é uma técnica, um conhecimento formal, que possua o mesmo sentido lógico e racional de uma equação matemática ou mesmo de um teorema. Esse aforismo conhecer a si mesmo, a grande máxima inscrita no Templo de Delfos e adotada por Sócrates, é um dos fundamentos de sua doutrina.

Com Sócrates e Platão entendemos que aprender é recordar, relembrar, é rever, revisitar. Eles eram reencarnacionistas e inauguraram uma concepção toda nova do que se convencionou chamar de alma (psiquê), algo imponderável e que sobrevive à matéria. Não foi à-toa que Allan Kardec os considerou, e com razão, como precursores do Espiritismo.

Essa questão da virtude, na história da filosofia, é uma das muitas questões ainda em aberto. Os neo-platônicos, existencialistas, marxistas, positivistas, neo-evolucionistas, e outros istas não se entendem em relação a essa questão. Nem mesmo os espiritistas. Intelectuais espíritas, de mentalidade cristã e formação religiosa, possuem pontos de vista nem sempre compatíveis com espíritas de mentalidade laica e formação mais filosófica e científica.

Segundo o Espiritismo, a evolução moral nem sempre acompanha a evolução intelectual. No processo evolutivo é necessário primeiramente o conhecimento do bem e do mal, somente possível em função do desenvolvimento do livre-arbítrio, consequência natural do aprimoramento intelectivo. A evolução moral é uma consequência da evolução intelectual. “A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo” ( LE - p. 780-b).

A virtude, segundo o Espiritismo, é uma qualidade primária, um atributo, uma característica variável em função do nível evolutivo do Espírito, o sujeito pensante, que sente, reflete e age. A virtude é uma propriedade moral adquirida, consquistável. Segundo Kardec, “aquele que a possui a adquiriu pelos seus esforços nas vidas sucessivas, ao se livrar pouco a pouco das suas imperfeições” (O Evangelho Segundo o Espiritismo - Introdução - LAKE).

Para se combater os vícios, nada melhor do que aprimorar as virtudes, com conhecimento de causa. Aí está a chave da questão. O ato de reprimir as viciações é sempre louvável, mas se não vier acompanhado de um processo de autoconhecimento, de autopercepção, não terá sentido. Sem uma atitude racional, sem o devido bom senso, o que temos é a hipocrisia, a repressão cega e insensata com o verniz da virtude piedosa, uma usina produtora de sepulcros caiados.

A EDUCAÇÃO

O Espiritismo nos oferece uma compreensão racional muito bem fundamentada na observação, na experimentação. A base de todas as viciações se acha no abuso das paixões. “As paixões são como um cavalo que é útil quando governado e perigoso quando governa.” (LE - p. 908).

O princípio das paixões não é um mal. O mal está no exagero, nos excessos e nas consequências nefastas que possam existir quando há o abuso. Segundo o provérbio latino, “o abuso não desmerece o uso”.

A saída que o Espiritismo propõe é a educação. Nesse sentido, podemos afirmar que, ao contrário dos filósofos clássicos, a virtude pode ser ensinada, não no sentido tecnológico, formal, mas como um conjunto de caracteres passíveis de serem moralmente formatados.

O comentário de Allan Kardec, a esse respeito, é bem elucidativo: “A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam plantas novas. Essa arte, porém, requer muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa.” (LE - p. 917)

A educação segundo o Espiritismo é moralizante. O moralismo hipócrita não cabe em seus princípios. A educação espírita é libertária sem ser libertina. Ela não é religiosa; é cultural, reflexiva e tolerante.

Trabalho, solidariedade e tolerância, o lema que Kardec adotou para si se constitui, em termos sintéticos, numa atitude entusiasta e viril diante da vida. Sentimentos viciosos como a inveja, o orgulho, a hipocrisia, dentre tantos outros, se esvaem, tendem a se diluir e se reordenar diante do processo de transformação moral que o Espiritismo propõe, na incessante busca da sabedoria e da virtude.

Fonte: Eugenio Lara

INVEJA - O FOGO QUE CONSOME



O sentimento de inveja é uma das principais causas de infelicidade.

Somente compreendendo a estrutura básica da inveja podemos reconhecer esse sentimento em nós e aprendemos a lidar com ele em nossa vida e nosso comportamento.

O mecanismo intelectual básico responsável pelos ressentimentos é a comparação.

Quando nos comparamos com os outros e nos sentimos, em algum aspecto, inferiores, estamos com inveja. Nem toda comparação leva à inveja, mas esta é sempre resultado de uma comparação.

É a vivência de um sentimento interior sob a forma de frustração, tristeza, mal estar, acanhamento, por nos sentirmos menores, menos, por não possuirmos o que o outro possui, por não sermos o que o outro é. É um desequilíbrio íntimo oriundo de um sentimento de inferioridade fruto da comparação.

Esse processo é muito sutil e encoberto. Escondemos de nós mesmos esse sentimento de inveja através de mecanismos de defesa que desde cedo nos foram sendo ensinados. Não temos consciência de que somos invejosos.

Um dos mecanismos mais comuns é o processo em que ao nos sentirmos menos que os outros nós nos aumentamos, nos vangloriamos, nos enaltecemos para evitar o mal estar do desequilíbrio. Falamos exageradamente bem de nossas próprias coisas e ao mesmo tempo procuramos diminuir o outro através de críticas. Quando criticamos alguém, quando sentimos necessidade de falar mal de alguém, provavelmente estamos nos sentindo inferiores a ele. O arrogante é a pessoa que parte do pressuposto de que é inferior às outras pessoas.

O invejoso é incapaz de ver a luz, a alegria, o brilho, a luminosidade das outras pessoas. A inveja é própria daqueles que não encontraram respostas para a diversidade das pessoas e do mundo. Essa incapacidade de aceitar que as pessoas e as coisas sejam diferentes é uma rejeição da sua própria pessoa como sendo diferente das demais. A inveja é a auto-aversão por não sermos como os outros são.

Toda a nossa cultura é a cultura da comparação e nós aprendemos desde muito cedo a interiorizar esse processo em nosso comportamento. Como tudo está em relação, nós perdemos a capacidade de ver as coisas em si mesmas e só conseguimos entender as coisas e as pessoas em comparação umas com as outras.

Na família, por exemplo, sempre houve alguém que em um ou outro momento nos foi apontado como padrão ou a quem nós fomos apontados como modelo. É imensa a carga de comparação a que somos submetidos em toda a nossa vida. É uma força tão grande que poucas vezes nos damos conta dela.

Todo o sistema escolar é baseado na comparação. Primeiro lugar ... segundo lugar.... último lugar ... classes mais adiantadas... classes mais atrasadas ... notas ... avaliações...

Em outras instituições, na igreja, nas empresas, nos clubes, sempre nos foram dados padrões de modelos a seguir. Sempre fomos convidados a reforçar o caminho da comparação. A força da comparação é tão presente em nossas vidas que poderíamos chamá-la de sangue cultural.

Sem consciência desse processo dificilmente conseguiremos reconhecer, trabalhar e sair do sentimento de inveja. Provavelmente viveremos em estados depressivos constantes, com freqüentes sensações de impotência e inferioridade, em momentos de insatisfação, sem ao menos perceber em nós mesmos qualquer traço de inveja.

A sociedade é sempre comparativa em seus vários instrumentos de transmissão cultural. Nos filmes sempre existem nossos heróis, nossos padrões. Toda propaganda é baseada no processo comparativo entre nós e os modelos que nos são apresentados. A trama base da propaganda consiste em construir um quadro com qualidades de riqueza, poder, prestigio, inteligência, dinamismo, beleza, força, magnetismo pessoal, para que nos comparemos com os ambientes e pessoas apresentados e nos sintamos inferiores, magoados e diminuídos, e em seguida nos é indicada a solução para resolver aquele mal estar: a compra de algum produto que nos fará iguais aos padrões apresentados.

Existe um tipo de comparação com a qual sairemos do processo da inveja, é a autocomparação. Em termos sociais, psicológicos, financeiros, espirituais, estamos hoje melhores ou piores do que há algum tempo?

Há uma grande diferença entre a comparação com os outros e a comparação conosco mesmos. Na autocomparação fortalecemos o nosso ser, o nosso centro, o nosso ponto de equilíbrio. Passamos a nos dirigir de dentro em função do que realmente somos e não em função do que os outros esperam de nós. Nós passamos a ser o nosso único ponto de referência. Passamos a ser donos da nossa própria vida, pois quando nos comparamos com os outros eles são o nosso padrão, somos dirigidos de fora.

A auto-comparação leva a um fortalecimento interior, fortalecemos nossa identidade, reencontramos a nós mesmos. Passamos a ser o nosso próprio ponto de apoio. Na etero-comparação nós nos alienamos, perdemos a nossa identidade e passamos a estar na vida para realizar expectativas fora de nós.

O mundo é o mundo das diferenças. Cada pessoa tem o seu jeito, seu caminho, seu próprio nível, sempre haverá alguém melhor do que nós em algum aspecto. Não estamos no mundo para sermos mais do que ninguém, mas para realizarmos o nosso próprio potencial, sendo cada vez melhores comparados conosco mesmos.

Só quando estamos centrados em nós mesmos e o mecanismo da autocomparação já faz parte do nosso comportamento, é que nos será possível comparar-nos às outras pessoas e aprender com elas, isso é admiração.

No fundo de cada sentimento de inveja existe o sentimento de admiração, mas este só pode desabrochar quando estamos centrados no nosso próprio tamanho, em postura de agradecimento pelo que já somos ou temos. Admiração pelo outro e tristeza conosco é inveja.

Só quando formos padrão de nós mesmos reencontraremos a alegria de ser o que somos, de ter o que temos, de viver como vivemos. Somente o exercício da autocomparação nos levará à auto-aceitação, à realização do nosso próprio tamanho.

“Há cerca de 100 anos atrás um mestre idoso e coberto de honrarias estava à morte. Seus discípulos perguntaram:

- Mestre, você está com medo de morrer?

- Estou, respondeu ele. Estou com medo de me encontrar com o criador...

- Mas como, disse um discípulo, você que teve uma vida exemplar, assim como Moisés tirou-nos das trevas da ignorância...

- Você fez julgamentos justos como Salomão, disse outro discípulo.

O mestre respondeu:

- Quando eu me encontrar com Deus ele não vai me perguntar se fui Moisés ou Salomão, ele apenas vai me perguntar se eu fui eu mesmo.”
 
Fonte: http://marcoaureliorocha5.blogspot.com.br/2009/04/inveja.html#!/2009/04/inveja.html