segunda-feira, 13 de junho de 2011

VERSOS ÍNTIMOS




Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!


Augusto dos Anjos

COMO É ENORME O MEU AMOR




Meu amor tem gostinho de chocolate, barriga fofinha e cheiro de pum. É cabeça de vento, mas me manda rosas. Tem mãos de mestre cuca, coração amigo e prazer no que faz. Me atiça com promessas gigantes, engana minha curiosidade, toma minha razão. Esclarece minha perdição, amortece cada queda, escuta o contrastante da tensão. Tem as pernas preguiçosas, a vida limpa e a mão aberta. Nosso papo se leva, deságua no mar. Faz tudo que eu quero, há, há, há! Me tira do sério… Quando me quer, me ganha no ato. Derrete minha alma, me agarra de fato, me engole, faz e desfaz.

Se me odeia se cala, me degola. Destrói minha coragem e do alto de seu silêncio, me detona. Transforma em gargalhadas minhas amarguras de menina mimada. Voa comigo em seus abraços, nas nuvens decoradas de rabiscos coloridos em tons estridentes. Grava musiquinhas pastéis, desde as fitas até agora, escreve bilhetes geométricos e admira as formas com que dou meus passos. E esse é seu jeito maroto de me lembrar em cada momento, do sentir intenso que há entre nós.

Põe força no que constrói, é um homem pro mundo… Mas é em sua gargalhada de corpo inteiro que me perco por completo… Me encanto pelo seu jeito menino de querer ser filme, compro suas idéias malucas, me afundo em seus olhos doces. Tenho seu ombro sempre, pra chorar as dores do caminho e seu apoio pra seguir atrás dos sonhos, qualquer deles, por mais insano. E quanto mais insano melhor!

Escuto também sua voz eloqüente, que me atrai pra verdade de ser gente. Consegue me tirar da loucura, me voltar pro centro, me enraizar ao chão. Traz pra casa responsabilidades tortas, com sabor de morango e champanhe, cheias de beijos esfumaçados.

Me deu os dois maiores desafios do amor, os dois melhores presentes da dor: um moreno/um branco. Um transparente/um colorido. Um jabuticaba/ um leão. Um sossego/um ventania. Um sossego filosófico e matemático, uma ventania que esperneia pulsante, a junção do que há nas profundezas de nós dois. E de mãos dadas seguimos com eles, juntos… Com uma aliança no coração, uma presença na vida, dois medos nas mãos. Mas vamos com fé, com as almas atadas, já que ela não falha!

E então podemos brincar de olhar o céu, presos por uma linha fininha… Que vai além da pipa, dos passeios encardidos de poeira e melecados de algodão doce…. E nos rimos da nossa criança que brinca e pula ao encontrar os próprios filhos no parquinho da vida.

Me enamorou num domingo, há 13 anos atrás. E ali, no do beijo pop-rock-romântico do meu existir, que me levou às lágrimas antes de mais nada, no calor, nas batucadas, na camisa cor de rosa, eu já sabia que era pra sempre… Sempre soube desse amor… De como já era enorme meu amor por você!

Esse amor que me ama livre, me adora solta, me quer ousada, me deseja deitada. Esse amor que me deixa ser, e sabe que sou sua.

Poderia escrever ao infinito! Mas acho que já deu pra entender o quanto o amo desde a fonte, dentro de uma garrafinha, com um bilhete dentro.

Desculpem a pessoalidade da coluna, a declaração apaixonada ao meu próprio amor… Desejo a todos que aproveitem a energia do cupido no ar e se apaixonem também, por alguém, por si mesmos, ou pela vida, não importa! Essencial é que haja amor!

Por: Paula Jácome

Minimamente Feliz




A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.

Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.

Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir.

São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.
'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.

Alguns crescem esperando a felicidade com letras maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos’.

Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.

Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'.
Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'.
Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?

Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.
Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.
Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.

Leila Ferreira, jornalista

ARVOREIE




ARVOREANDO


Uma das coisas que eu acho fascinante em Jesus, é a capacidade que ele tinha de encontrar no meio da multidão, pessoas.

Ele era capaz de reconhecer em cima de uma árvore um homem, e descobrir nele um amigo.

Bonito uma amizade que nasce a partir da precariedade, quando você chega desprevenido, o outro viu o que você tem de pior, e mesmo assim, ele se apaixonou por você. Amor concreto, cotidiano, diário.

Jesus se apaixonava assim pelas pessoas e as tornava suas amigas. As trazia para perto Dele.

É fascinante olhar para a capacidade que esse homem, que esse Deus tem, de investigar a miséria do outro e encontrar a pedra preciosa que está escondida. Isso é Páscoa, isso é ressurreição. É quando no sepulcro do nosso coração, alguém descobre um fio de vida, e ao puxar esse fio, vai fazendo com que a gente se torne melhor.

Não há nada mais bonito do que você ser achado quando você está perdido.

Não há nada mais bonito do que você ser encontrado, no momento que você não sabe para onde ir e não sabe nem onde está...

O amor humano tem a capacidade de ser o amor de Deus na nossa vida por causa disso: porque ele nos elege!

Por isso que é bom termos amigos, porque na verdade, as pessoas amigas antecipam no tempo, aquilo que acreditamos ser eterno...

Quando elas são capazes de olhar para nós e descobrir o que temos de bonito. Mesmo que isso, as vezes costuma ficar escondido por trás daquilo que é precário.

Por isso agradeço muito a Deus pelos amigos que tenho. Pelas pessoas que descobriram no que eu tenho de pior, uma coisinha que eu tenho de bom, e mesmo assim continuam ao meu lado, me ajudando a ser gente, me ajudando a ser mais de Deus, ajudando a buscar dentro de mim, a essência boa que acreditamos que Deus colocou em cada um de nós.


Ter amigos, é como arvorear: lançar galhos, lançar raízes... Para que o outro quando olhar a árvore, saiba que nós estamos ali...Que nós permanecemos para fazer sombra, para trazer ao outro, um pouco de aconchego que ás vezes ele precisa na vida...


ARVOREIE! CRIE ÁRVORES! SEJA AMIGO!

AUTOR: desconhecido



VERDADES



Onde moras no meu peito

Se preciso for,

mostro o quanto pulsa

meu sentimento

...a te querer ainda mais

nessa nostalgica noite,

me arrasto como um cão

no brejo sem teto,

peço perdão ao diabo,

e se ainda mesmo assim

tiver medo,

vou até o mais alto

penhasco e grito ao mundo

o que sinto,

não minto,

desejo-te fêmea branca,

em minha cama

e na vida que profeticamente me

prometera,

deixe o tempo voar com cheiro de perfume

bento,

e nossos corpos perpetuam a história

leve ...nesse intento.


Paulo Alvarenga