terça-feira, 26 de setembro de 2017

MILAGRE



MILAGRE

Como alcançar a tal da equanimidade?
Como desvincular dos ciclos viciosos?
Como evitar antigos jargões?
Como apresentar o novo?
Como deixar de julgar?
Como viver sem medo?
Como escrever no vazio?

Desapontei meus pais
Não sinto orgulho da mulher que me tornei.
Talvez não tenha força suficiente
Para atender uma expectativa alheia
São tantos julgamentos e opiniões...
É equinócio de primavera
Sinto a vida germinar apesar de estar apegada à morte.

Estive inerte em uma pessoa nova
Num exilo criado em água salgada
Acreditei que estava bem
Entorpeci a alma com drogas afins
Tive medo da dor, medo de sentir,
Medo de me expressar e tive medo de mim
Precisava de uma máscara nova, aliás: várias.

Vivenciei tantas crenças
Realizei estudos e simpatias
Implorei a espiritualidade
Abandonei a reforma íntima e moral
Palavras opostas à conduta
Vive posturas inadequadas
Acreditando que estava tudo certo...

No fundo o bem e o mal estão em mim
A mudança está em mim
São as escolhas que preteri...
No detox da vida senti
Estou aqui nesse momento
Nesse lugar
Lutando por amor

Sou centelha divina
Com brilho nos olhos e algo especial
Um ser intelectual
Com um coração generoso
Se descobrindo e se reinventando
Simplesmente renascendo em amorosidade.
Nesta metamorfose que busca equanimidade...

Por: Lucileyma Carazza


Eu gosto de pessoas carentes. Que deixam transparecer de algum jeito que precisam. Elas são mais abertas. Pessoas muito bem resolvidas, não sei bem como lidar. Acabam me deixando carente, insegura. 

Você pergunta, ela responde o que perguntou, por exemplo. Você não percebe nenhuma conversa puxada, nenhum medo de não estar aprovada, nenhuma vontade de ficar mais um pouquinho, nenhum querer ser convidado pro café. Elas não têm medo de serem excluídas, não sentem ciúme e não se preocupam quando são deixadas de lado. Seguem a própria vida. Não se chateiam ou se magoam, não se limitam, não se importam quando você se vai. Vivem o que precisam viver com você e, simplesmente , seguem o próprio caminho. Não mandam nem uma mensagenzinha no dia seguinte... Ou esperam uma sua... 

Pra mim, é difícil de lidar... 

Talvez seja inveja... Vontade de ser assim também, de não precisar de nada ou de ninguém. Imagina o alívio... Respiro só de pensar. 

Ou, talvez, medo. De ser pega ainda faltando tanto. Precisando tanto. Querendo tanto. Desejando tanto. 

Ou, vergonha, de ser tão boba e infantil diante do olhar que não precisa... Dele detectar qualquer falta na minha simpatia. 

Mais certo que seja mesmo a minha própria carência... Falo em nome delas agora, as pessoas bem resolvidas que lerem esse pedaço. 

Não se enganem, eu admiro, muito, mas, a conclusão é que me afasto... 

Pessoas carentes são mais confortáveis. 

Fritz Perls que me perdoe... 


Por: Paula Jácome

SIMPLESMENTE


SIMPLESMENTE

Posso te amar assim, só assim, sem concordar com você. Posso só estar ali, ao seu lado, no calor lânguido. Sem precisar provar nada ou querer tanto. Sem condenar seus julgamentos, sem distorcer cada sentimento, sem precisar do seu amor de volta. Só adorando cada segundo do momento. Posso te amar assim, simplesmente.

Posso não te pedir nada, e ainda rir dos seus pensamentos tresloucados, das suas preferências inconfessas, de seus ex e futuros amores dispersos. Posso ouvir aquilo tudo que sussurra pra dizer, pra esconder até de si. Posso guardar, dividir com você.

Posso não querer nada de você. Não esperar nem que se cuide, nem que se cale, que não beba, que se morda, que me fale, que queira a vida, que procure saídas. Que pague as contas, que se esforce, que melhore, que corra, que busque, que emagreça, que não adoeça. Posso não querer nada de melhor pra você e te deixar aí, seguindo o seu caminho que por tantas vezes cruza o meu. Posso só curtir as interseções em que estamos juntos.

Posso tão somente ficar com você. Assim, sem exigências ergométricas, sem desejos ecumênicos, sem, ao menos, aprovar suas escolhas. Sem consentir com a sua tagarelice doida, sem me preocupar com os preços que teremos que pagar, sem qualquer pesar, sem expressar alguma experiência. Sem ensinar nada. Até porque, como poderia? Como poderia querer julgar suas atitudes se não vivi cada uma de suas dores? Se não passei por todos os mesmos minutos que você? Como posso daqui, de mim, realmente compreender o que se sente daí, de você?

Mas eu posso simplesmente estar ali, como se não houvesse nada melhor a fazer do que jogar fofocas no ventilador de domingo. Como se não houvesse sabor melhor que o das gargalhadas deitadas na cama – o som de gargalhadas deitadas é uma das coisas mais intimas que já senti. Posso ser eu aqui e permitir que você seja você, daí.

Porque não há mesmo nada melhor a fazer quando o que eu só quero é ficar ao seu lado e, naquele momentinho, naquele pedacinho de tempo, te dar o melhor de mim. . . Inundar o tempo inteiro, em um quadrado de amor infinito.

Mas é que por muitas vezes eu confundi doar com exigir, abraçar com proteger, escutar segredos com sermonear, estar ao lado com fazer algo. Por muito tempo ainda eu pensei que te amar era te mostrar os passos que precisava dar, afinal, quantas bobagens já fez? O quanto do que você mesmo quis já faz parte da sua história? Pensava no absurdo que isso significa e me prontificava a impedir.

Achei mesmo que precisava exigir que pisasse onde eu já pisei, onde eu piso, pois assim, seria mais fácil. Seria mais seguro te dar o meu amor. Mas descobri que não, que não é. Que assim eu não dou ou tenho amor, só tenho segurança; obviamente. E a segurança não me preenche o peito, não gargalha na cama, não aceita velhos cafés, não para pra sentir, não se entrega ao vínculo que se forma. Ela analisa e exigeu repetir o que já é conhecido, sem experimentar, sem considerar quem é você. E assim, sem te perceber não posso me relacionar. E fico só.

Mas agora, eu posso fazer diferente, posso fazer o que verdadeiramente quero. E quero te dar o meu amor inteiro, por qualquer pedaço de momento em que nos encontrarmos. E assim, eu posso seguir com o meu coração cheio, plena.


Por: Paula Jácome