quarta-feira, 25 de abril de 2012

"GENTE FINA"*




de Martha Medeiros*


"Cada um faz o que bem entender com o próprio corpo. Comer com liberdade é
um direito e ninguém tem que se sacrificar para atender a um padrão
estético, mas que ser magro é melhor do que ser gordo, é.
Pra saúde é melhor, pra se vestir é melhor, pra se locomover é melhor, pra
dançar é melhor.
Não quer dizer que um gordo não seja feliz.
Geralmente, são felizes à beça, mais do que muito varapau.


Mas se fosse possível escolher entre ser magro e ser gordo sem nenhum
efeito colateral de felicidade ou infelicidade, sem nenhum esforço, só no
abracadabra, todo mundo iria querer ser magro, assim como todo mundo
preferiria se cristalizar entre os 30 e os 50 anos.
Eu acho.
A não ser que eu esteja louca, o que é uma hipótese a considerar.


Porém, melhor que tudo é ser gente fina.
Finíssima.
Isso nada tem a ver com a tendência atual de ser seca, de parecer um
esqueleto ambulante.
Gente fina é outra coisa.


Gente fina é aquela que é tão especial que a gente nem percebe se é gorda,
magra, velha, moça, loira, morena, alta ou baixa.
Ela é gente fina, ou seja, está acima de qualquer classificação.
Todos a querem por perto.
Tem um astral leve, mas sabe aprofundar as questões quando necessário.
É simpática, mas não bobalhona.
É uma pessoa direita, mas não escravizada pelos certos e errados: sabe
transgredir sem agredir.


Gente fina é aquela que é generosa, mas não banana.
Te ajuda, mas permite que você cresça sozinho.
Gente fina diz mais sim do que não, e faz isso naturalmente, não é para
agradar.
Gente fina se sente confortável em qualquer ambiente: num boteco de beira
de estrada e num castelo no interior da Escócia.


Gente fina não julga ninguém – tem opinião, apenas.
Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera. O que mais se
pode querer?
Gente fina não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o
próprio nome diz, não engrossa.
Não veio ao mundo pra colocar areia no projeto dos outros. Ela não pesa,
mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra.
Gente fina é que tinha que virar tendência.
Porque, colocando na balança, é quem faz a diferença."

AS VINTE REGRAS DE VIDA




O pensador russo Gurdjieff que, no início do século passado já falava em autoconhecimentoe na importância do saber viver disse: "Uma boa vida tem como base o sentido do que queremos para nós em cada momento e daquilo que, realmente, vale como principal". Ele traçou vinte regras de vida que foram colocadas em destaque no Instituto Francês de Ansiedade e Estresse, em Paris.

1. Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho, no máximo. Repita essas pausas na vida diária e pense em você, analisando suas atitudes.

2. Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou. Querer agradar a todos é um desgaste enorme.

3. Planeje seu dia, sim, mas deixe sempre um bom espaço para o improviso, consciente de que nem tudo depende de você.

4. Concentre-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, você se exaure.

5. Esqueça, de uma vez por todas, que você é imprescindível. No trabalho, em casa, no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem a sua atuação, a não ser você mesmo.

6. Abra mão de ser o responsável pelo prazer de todos. Não é você a fonte de desejos, o eterno mestre de cerimônias.

7. Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom-senso de pedir às pessoas certas.

8. Diferencie problemas reais de problemas imaginários e elimine-os porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso que deveria ser preenchido com coisas mais importantes.

9. Tente descobrir o prazer de fatos cotidianos como dormir, comer e tomar banho, sem também achar que é o máximo a se conseguir na vida.

10. Evite se envolver com a ansiedade e a tensão alheias. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a ação. Os outros estão mais bem preparados para resolver seus próprios problemas.

11. Sua família não é você; ela está junto de você, compõe o seu mundo, mas não é a sua própria identidade. Cada um é individual e diferente.

12. Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca.

13. É preciso ter sempre alguém em que se possa confiar e falar abertamente num raio de pelo menos cem quilômetros. Não adianta ir mais longe.

14. Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância sutil de uma saída discreta.

15. Não queira saber se falaram mal de você e nem se atormente com esse lixo mental; escute o que falaram bem, com reserva analítica, sem qualquer convencimento.

16. Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é ótimo ... para quem quer ficar esgotado e perder o melhor.

17. A rigidez é boa na pedra, não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente.

18. Uma hora de intenso prazer substitui com folga três horas de sono perdido. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca uma oportunidade de divertir-se.

19. Não abandone suas três grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé.

20.Entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente: você é o que você fizer. Não culpe os outros pela sua infelicidade, pois só você poderá fazer você feliz!

( In Mente e Cérebro Poderosos, Conceição Trucom, ed. Cultrix, pag. 146/147)



Quando você conseguir superar graves problemas de relacionamentos, não se detenha na lembrança
dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida.

Quando sair de um longo tratamento de saúde, não pense no sofrimento que foi necessário enfrentar,
mas na bênção de Deus que permitiu a cura.

Leve na sua memória, para o resto da vida, as coisas boas que surgiram nas dificuldades.

Elas serão provas de sua capacidade, e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo.

Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior.

A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência
de que não sabe. Tenha a sabedoria superior.

Seja um eterno aprendiz na escola da vida.

A sabedoria superior tolera; a inferior, julga; a superior, alivia; a inferior, culpa; a superior, perdoa;
a inferior, condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!

Por Padre Marcelo Rossi - Ágape

O sustento da vida criativa




"Proteja sua vida criativa. Se você quiser evitar a hambre del alma, a alma faminta, chame o problema pelo seu verdadeiro nome e trate de consertá-lo. Pratique sua atividade todos os dias. E então, não permita que nenhum homem, mulher, parceiro, amigo, religião, emprego ou voz resmungona venha forçá-la a passar fome. Se necessário, arreganhe os dentes."

CLARISSA PINKOLA ESTES - Capítulo 10 - As águas claras: O sustento da vida criativa

Reassumindo o rio



A natureza da vida-morte-vida faz com que o destino, o relacionamento, o amor, a criatividade e tudo o mais se movimentem em coreografias amplas e selvagens, uma atrás da outra na seguinte ordem: criação, crescimento, poder, dissolução morte, incubação, criação, e assim por diante. A sabotagem ou a ausência de idéias, pensamentos, sentimentos é o resultado de uma corrente tumultuada.
Eis como reassumir o rio.
Aceite o alimento para começar a limpeza do rio. Elementos contaminadores que perturbam o rio ficam óbvios quando a mulher rejeita elogios sinceros acerca da sua vida criativa. Pode ser que haja apenas um pouquinho de poluição, como no despreocupado "Ah, como você está sendo simpático com esse elogio", ou pode ser que os problemas com o rio sejam graves: "Ora, essa velharia" ou "Você deve estar ficando louco." Além da atitude defensiva: "É claro que eu sou maravilhosa. Como você poderia deixar de perceber?" Todas essas expressões são sinais de um animus enfermo. Podem chegar coisas boas à mulher, mas elas são imediatamente envenenadas.
Para reverter o fenômeno, a mulher treina aceitar elogios (mesmo que a princípio ela dê a impressão de estar se jogando ao cumprimento para, dessa vez, ficar com ele). Ela o saboreia e repele o animus maligno que quer responder "Isso é o que você pensa. Você na verdade não sabe todos os erros que ela fez. Você não sabe como ela é chata...", e assim por diante.
Os complexos negativos sentem uma atração especial pelas idéias mais suculentas, pelas idéias mais maravilhosas e revolucionárias e pelas formas de criatividade mais extravagantes. Portanto, não há outra alternativa: precisamos invocar um animus que aja com maior limpeza, e o mais velho deverá ser aposentado, ou seja, transferido para os arquivos da psique, onde deixamos arquivados impulsos e catalisadores vazios e dobrados. Ali eles se transformam em artefatos, em vez de agentes ou de emoção.
Seja sensível. É assim que se limpa o rio. Os lobos levam vidas imensamente criativas. Eles fazem dezenas de opções todos os dias, decidem de um modo ou de outro, avaliam distâncias, concentram-se na presa, calculam as suas chances, aproveitam oportunidades, reagem vigorosamente para realizar suas metas. Suas capacidades de encontrar o que está oculto, de aglutinar intenções, de focalizar a atenção no resultado desejado e de agir em seu próprio benefício para atingi-lo são as exatas características necessárias para a realização criativa nos seres humanos.
Para criar é preciso que sejamos capazes de nos sensibilizar. A criatividade é a capacidade de ser sensível a tudo que nos cerca, a escolher em meio às centenas de possibilidades de pensamento, sentimento, ação e reação, e a reunir tudo isso numa mensagem, expressão ou reação inigualável que transite ímpeto, paixão e determinação. Nesse sentido, a perda do nosso ambiente criativo significa que nos encontramos listadas a uma única opção, que fomos despojadas dos nossos sentimentos e pensamentos, ou que os reprimimos ou censuramos, sem agir, sem falar, sem fazer, sem ser.
Seja selvagem. É assim que se limpa o rio. O rio não começa já poluído; isso é nossa responsabilidade. O rio não fica seco; nós o represamos. Se quisermos lhe permitir sua liberdade, precisamos deixar que nossa vida ideativa se solte, corra livre, permitindo a vinda de qualquer coisa, a princípio sem censurar nada. Essa é a vida criativa. Ela é composta do paradoxo divino. Para criar, precisamos estar dispostas a ser rematadas idiotas, a nos sentar num trono em cima de um imbecil, cuspindo rubis pela nossa boca. Só assim o rio correrá, e nós poderemos nos postar na correnteza.
Podemos estender nossas saias e blusas para apanhar o que pudermos carregar.
Comece. É assim que se limpa o rio poluído. Se você tiver medo, tiver receio de fracassar, digo-lhe que comece já, fracasse se for preciso, recupere-se, recomece. Se fracassar de novo, fracassou. E daí? Comece novamente. Não é o fracasso que nos detém, mas é a relutância em recomeçar que nos faz estagnar. Se você estiver apavorada, qual é o problema? Se você estiver com medo de que algo vá dar um salto para mordê-la então pelo amor de Deus, resolva isso imediatamente. Deixei que seu medo surja e a morda para que você possa superá-lo e seguir adiante. Você irá superá-lo. O medo acaba passando. Nesse caso, é melhor que você o encare de frente, que o sinta e que o supere, do que continuar a usá-lo como pretexto parai evitar limpar o rio.
Proteja seu tempo. É assim que se eliminam os poluentes. Conheço uma pintora muito impetuosa nas Montanhas Rochosas que pendura o seguinte cartaz na porta de casa quando ela está disposta a pintar ou a pensar. "Hoje estou trabalhando e não vou receber visitas. Sei que você pensa que isso não se aplica a você porque você é o gerente da minha conta no banco, meu agente ou meu melhor amigo. Mas se aplica sim.’’
Outra escultora que conheço tem o seguinte cartaz pendurado no portão. "Não perturbe a não ser que eu tenha ganho a loteria ou que alguém tenha visto Jesus Cristo na rodovia de Old Taos." Como se pode ver, o animus positivo tem excelentes fronteiras.
Fique com ela. Como eliminar ainda mais a poluição? Insistindo para que nada impeça de exercitar o animus; continuando nossas iniciativas que tecem alma e criam asas, nossa arte, nossos consertos e remendos psíquicos, quer nos sintamos fortes, quer não, quer estejamos prontas, quer não. Se necessário, nos amarrando ao mastro, à cadeira, à mesa de trabalho, à árvore, ao cacto — onde quer que estejamos criando.
Esses complexos negativos são eliminados ou transformados — seus sonhos irão guiá-la no trecho final do caminho — quando você finca o pé, de uma vez por todas, e afirma, "Amo a minha vida criativa mais do que amo cooperar com a minha própria opressão." Se maltratássemos nossos filhos, o serviço de assistência social viria bater às nossas portas. Se maltratássemos nossos animais de estimação, a sociedade protetora dos animais viria nos afastar deles. No entanto, não existe nenhuma Patrulha da Criatividade ou Polícia da Alma para intervir se insistirmos em esfaimar nossa alma. Somos só nós mesmas. Nós somos as únicas a cuidar do Self da alma e do animus heróico. É uma enorme crueldade regá-los apenas uma vez por semana, uma vez por mês ou mesmo uma vez por ano. Cada um deles tem seu ritmo circadiano. Eles precisam de nós e da água da nossa atividade todos os dias.
Proteja sua vida criativa. Se você quiser evitar a hambre del alma, a alma faminta, chame o problema pelo seu verdadeiro nome e trate de consertá-lo. Pratique sua atividade todos os dias. E então, não permita que nenhum homem, mulher, parceiro, amigo, religião, emprego ou voz resmungona venha forçá-la a passar fome. Se necessário, arreganhe os dentes.
Forje seu verdadeiro trabalho. Construa aquele abrigo de carinho e conhecimento. Transfira sua energia de um lado para o outro. Insista em atingir um equilíbrio entre a responsabilidade prosaica e o êxtase pessoal. Proteja a alma. Insista numa vida criativa de qualidade. Não permita que seus próprios complexos, sua cultura, os dejetos intelectuais ou que qualquer papo-furado político, pedagógico, aristocrático ou pretensioso lhe roubem essa vida.
Ofereça alimentos para a vida criativa. Embora muitas coisas sejam boas e nutritivas para a alma, a maioria recai num dos quatro grupos básicos de alimentos da Mulher Selvagem: 0 tempo, a sensação de integração, a paixão e a soberania. Faça estoque deles. Eles mantêm o rio limpo.
Quando o rio estiver novamente limpo, ele estará livre para correr. A produção criativa da mulher aumenta e daí em diante continua em ciclos naturais de aumento e redução. Nada será enlameado ou destruído por muito tempo. Quaisquer agentes de contaminação que ocorram naturalmente serão neutralizados com eficácia. O rio volta a ser nosso sistema de realimentação, um sistema no qual penetramos sem medo, do qual podemos beber sem preocupação, junto ao qual podemos tranquilizar a alma atormentada de La Llorona, curando seus filhos e os devolvendo para ela.
Podemos então desmontar o mecanismo poluente da fábrica, instalar um novo animus. Podemos viver nossa vida como desejarmos e como nos for conveniente, ali ao lado do rio, com nossos filhinhos no colo, mostrando-lhes seu reflexo na água limpíssima.

CAPITULO 10 - As águas claras: O sustento da vida criativa - CLARISSA PINKOLA ESTES

O homem do rio



Antes de podermos entender o que o homem da história de La Llorona fez ao poluir o rio, precisamos ver como o que ele representa deve ser um constructo positivo na psique da mulher. Na definição junguiana clássica, o animus é a força da alma nas mulheres e é considerado masculino. No entanto, muitas psicanalistas, entre as quais me incluo, através de suas próprias observações, chegaram a uma conclusão contrária ao ponto de vista clássico e afirmam, em vez disso, que a fonte de revitalização da mulher não é masculina e alheia a ela, mas feminina e bem conhecida.
Seja como for, creio que o conceito masculino do animus tenha ampla aplicação. Existe uma forte correlação entre as mulheres que têm medo de criar, de manifestar suas idéias ao mundo, e as imagens de homens feridos ou que ferem nos seus sonhos. Por outro lado, os sonhos das mulheres com boa capacidade de manifestação externa muitas vezes apresentam uma forte figura masculina que aparece com regularidade sob diversos disfarces.
O animus pode ser compreendido melhor como uma força que ajuda as mulheres a agir em sua própria defesa no mundo objetivo. O animus ajuda a mulher a expor seus pensamentos e sentimentos íntimos e específicos de um modo concreto em termos emocionais, sexuais, financeiros, criativos e outros — em vez de expô-los numa imagem que se modele de acordo com um desenvolvimento masculino padronizado numa determinada cultura.
As figuras masculinas nos sonhos das mulheres parecem indicar que o animus não é a alma da mulher, mas que pertence a ela, provém dela, é uma "ponte" essencial. Ele possui capacidades fantásticas que o fazem chegar à altura do trabalho como um portador e um intermediário. Ele é como um negociante da alma.
Ele importa e exporta bens e conhecimentos. Ele escolhe o melhor entre o que é oferecido, negocia o melhor preço, faz o acompanhamento e completa a transação.
Outro meio de se interpretar essa imagem consiste em considerar a Mulher Selvagem, o Self da alma, como o artista, e o animus, como o braço do artista. A Mulher Selvagem é o motorista; o animus acelera o veículo. Ela compõe a canção; ele escreve a partitura. Ela imagina; ele dá conselhos. Sem ele, a peça fica escrita na nossa imaginação, mas nunca é escrita e nunca é representada. Sem ele, o palco pode estar repleto, mas as cortinas nunca se abrem e a portaria permanece sem iluminação.
Se quisermos traduzir o animus saudável por uma metáfora em espanhol, ele seria el agrimensor, o que conhece a configuração do terreno e, com seus instrumentos, mede a distância entre dois pontos. Ele define cantos e estabelece limites. Podemos, também, chamá-lo de el jugador, aquele que estuda e sabe como e onde colocar os marcos para ganhar ou para vencer. Esses são alguns dos aspectos mais importantes de um animus robusto.
Portanto, o animus trafega pela estrada entre dois territórios e às vezes entre três: o mundo subterrâneo, o mundo interior e o mundo exterior. Todas as idéias e sentimentos da mulher são amontoados e transportados de um ponto a outro — nas duas direções — pelo animus, que tem uma afinidade com todos os mundos. Ele traz idéias de "lá de fora" de volta para dentro dela e transfere idéias do Self da alma pela ponte para a fruição e "para o mercado". Sem o construtor e o zelador dessa ponte, a vida interior da mulher não pode se manifestar com determinação no mundo objetivo.
Não é preciso chamá-lo de animus; dêem-lhe o nome que preferirem. No entanto, compreendam também que existe atualmente dentro da cultura feminina uma suspeita quanto ao masculino, um medo de "precisar do masculino". Isso tem como origem os traumas que mal começam a se curar provocados pela família e pela cultura em tempos passados, quando as mulheres eram tratadas como servas, não como indivíduos de identidade própria. Ainda está recente na memória da Mulher Selvagem que houve um tempo em que as mulheres talentosas eram descartadas como lixo, em que uma mulher não podia ter uma idéia a não ser que em segredo a plantasse num homem, que então a apresentava ao mundo lá fora como se fosse exclusivamente sua.
Recentemente, porém, creio que não podemos ignorar nenhuma metáfora que nos ajude a ver e a ser. Eu não confiaria numa paleta na qual faltasse o vermelho, o azul, o amarelo, o branco ou o preto. Vocês também não confiariam. O animus é uma cor primária na paleta da psique feminina.
Portanto, em vez de ser a natureza da alma da mulher, o animus, ou natureza contra-sexual da mulher, é uma profunda inteligência psíquica com capacidade para agir, que viaja de um lado para o outro entre os mundos. Essa força tem a capacidade de expressar e encenar os desejos do ego, de executar os impulsos e idéias da alma, de despertar a criatividade da mulher de uma forma manifesta e concreta. O aspecto principal do desenvolvimento do animus é a real manifestação de pensamentos, impulsos e idéias muito particulares.
Além do mais, o animus é um elemento da psique da mulher que precisa ser exercitado, que precisa treinar com regularidade, a fim de ser capaz de agir. Se ele for negligenciado na vida psíquica da mulher, irá se atrofiar, exatamente como um músculo que permaneceu inerte por muito tempo.
Embora algumas mulheres levantem a hipótese de que uma natureza de mulher-guerreira, a natureza de amazona, a da caçadora, possa suplantar esse elemento "masculino-dentro-do-feminino", para mim existem muitas camadas e nuanças da natureza masculina, como por exemplo um certo tipo de criação de normas, de decretação de leis, de estabelecimento de fronteiras, em termos intelectuais, que é extremamente valioso para as mulheres que vivem nos nossos dias.
Esses atributos masculinos não se originam do temperamento psíquico instintivo das mulheres com a mesma forma ou tom daqueles da sua natureza feminina.
Portanto, por vivermos, como vivemos, num mundo que exige tanto a ação meditativa quanto a ação concreta, considero muito útil o emprego do conceito de uma natureza masculina ou animus na mulher. Quando em perfeito equilíbrio, o animus atua como auxiliar, companheiro, amante, irmão, pai, rei. Isso não quer dizer que o animus seja rei da psique da mulher, como poderia sustentar um ponto de vista patriarcal doentio. Quer dizer, sim, que existe um aspecto majestoso na psique da mulher, o de um rei que serve com carinho à natureza selvagem, que deve trabalhar para defender a mulher e seu bem-estar, governando o que ela lhe designar, reinando sobre os territórios psíquicos que ela lhe conceder.
Pois é assim que deve ser, mas na história o animus persegue outras metas em detrimento da natureza selvagem e, à medida que o rio se enche de detritos, a própria corrente passa a envenenar outros aspectos da psique criativa, especialmente os futuros filhos da mulher.
O que acontece quando a psique passou ao animus o poder do rio e esse poder foi mal utilizado? Quando eu era criança, alguém me disse que era tão fácil criar para o bem quanto para o mal. Descobri que isso não é verdade. É muito mais difícil manter o rio limpo. É muito mais fácil deixá-lo ficar imundo. Digamos, então, que manter a correnteza límpida é um desafio natural que todas nós enfrentamos.
Esperamos corrigir a turvação com a maior rapidez e abrangência possível. Mas, e se algo assumir o controle do fluxo criador, tornando-o cada vez mais enlameado? E se ficarmos presas nessa armadilha? E se de algum modo começarmos obstinadamente a extrair frutos dessa situação, a não só gostar dela mas nela confiar, a ganhar nosso pão com ela, a nos sentirmos vivas através dela? E se a usarmos para levantar da cama pela manhã, para nos levar a qualquer lugar, para fazer de nós alguém aos nossos próprios olhos? Essas são as armadilhas que esperam por todas nós.
O hidalgo nessa história representa um aspecto da psique da mulher que, para usar uma linguagem coloquial, "apodreceu". Ele se corrompeu. Ele extrai vantagem de fabricar veneno e, de certo modo, está vinculado à vida insalubre. Ele é como um rei que governa por meio de uma fome mal orientada. Ele nem é sábio nem jamais poderá ser amado pela mulher que ele simula servir.
É muito bom para a mulher ter uma figura de um animus devotado, forte, capaz de uma visão penetrante, capaz de ouvir tanto no mundo objetivo quanto no mundo subterrâneo, capaz de prever a probabilidade do que ocorrerá a seguir, tocando decisões quanto à luz e à justiça a partir da soma do que ele percebe e vê em todos os mundos. Nesse caso, porém, ele é um herege. O papel do hidalgo, do rei ou do mentor na psique da mulher destina-se a ajudar a realizar seus potenciais e suas metas, a tornar manifestas as idéias e ideais que lhe são caros, a avaliar a justiça, a se encarregar dos armamentos, a criar estratégias quando estiver ameaçada, a ajudar a unir todos os seus territórios psíquicos.
Quando o animus se transformou numa ameaça, como vemos na história, a mulher perde a confiança nas suas decisões. À medida que seu animus se vê enfraquecido pela sua parcialidade, a água do rio passa de algo que é essencial à vida para algo a ser abordado com a mesma precaução com que abordamos um assassino de aluguel. Ocorre, então, a fome na terra e a poluição no rio.
Criar é creare em latim,1 6 significando produzir, fazer (vida), produzir algo onde antes não havia nada. É o ato de beber água do rio poluído que provoca a suspensão da vida interior e, por conseguinte, da exterior. Na história, essa poluição gera a deformação dos filhos, e esses filhos simbolizam as novas idéias e ideais. Os filhos representam nossa capacidade de produzir algo onde antes não havia nada.
Podemos reconhecer que essa deformação do novo potencial está ocorrendo quando começamos a questionar nossa capacidade, e especialmente nosso direito, de pensar, agir ou ser.
Mulheres talentosas, mesmo quando resgatam sua vida criativa, mesmo quando obras lindas saem das suas mãos, da sua caneta, do seu corpo, continuam a questionar se são realmente escritoras, pintoras, artistas, gente, gente de verdade. E é claro que elas são reais, muito embora possam gostar de se atormentar quanto ao que constitui a realidade. Uma agricultora é real quando olha suas terras lá fora e planeja o plantio de primavera. Uma corredora é real quando dá o primeiro passo. Uma flor é real quando ainda está no caule da planta-mãe. Uma árvore é real quando ainda é uma semente dentro de um pinhão. Uma árvore adulta é um ser vivo real. Real é tudo o que tem vida.
O desenvolvimento do animus varia de mulher para mulher. Não se trata de uma criatura perfeitamente formada que salta do ventre dos deuses. Ele parece ter uma qualidade inata, mas também precisa "crescer", ser ensinado e treinado. Ele se estina a ser uma força poderosa e direta. No entanto, quando o animus sofre danos por parte de todas as inúmeras forças da cultura, algo de desgastante, de mesquinho, ou uma espécie de entorpecimento, que algumas pessoas chamam de "neutralidade", se interpõe entre o mundo interno da psique e o mundo externo da página em branco, da tela intocada, da pista de dança, da sala da diretoria, da platéia à espera. Esse "algo" coagula o rio, impede o pensamento, emperra a caneta e o pincel, trava as articulações por um tempo interminável, abafa as novas idéias e, assim, sofremos.
Ocorre um estranho fenômeno com a psique. Quando a mulher sofre de um animus negativo, qualquer esforço no sentido de um ato criativo aciona esse animus para que ele a agrida. Ela apanha a caneta para escrever, e a fábrica vomita seu veneno sobre o rio. Ela pensa em se matricular num curso, ou começar aulas, mas pára no meio, sufocada com a falta de apoio e alimento interiores. A mulher acelera, mas não pára de recuar. Há mais desenhos de bordado não-terminados, mais canteiros de flores não-concretizados, mais caminhadas não-feitas, mais bilhetes não-escritos só para dizer "Eu me importo com você", mais línguas estrangeiras jamais aprendidas, mais aulas de música abandonadas, mais tecidos suspensos no tear numa espera interminável...
Essas são as formas deterioradas da vida. São os filhos envenenados de La Llorona. E todas elas são jogadas no rio; são jogadas de volta às águas poluídas que tanto as afligiam desde o início. Nas melhores circunstâncias arquetípicas, elas deveriam borbulhar por algum tempo e, como uma fênix, deveriam renascer das cinzas sob uma nova forma. Aqui, porém, algo está errado com o animus e, portanto, com a capacidade de manifestar e implementar nossas idéias no mundo. E o rio está tão cheio de excrementos de complexos que nada pode nascer dele para uma nova vida.
E assim chegamos à parte mais difícil. Temos de entrar na lama e procurar por isso tudo. Como La Llorona, temos de dragar o rio à procura da nossa vida da alma, da nossa vida criativa. E ainda mais uma tarefa, também árdua: precisamos purificar o rio para que La Llorona possa ver, para que ela e nós possamos encontrar a alma das crianças e nos sentirmos em paz para criar novamente.
A cultura torna piores suas "fábricas" e sua poluição através do seu imenso poder de desvalorização do feminino — e sua incompreensão quanto à natureza mediadora do masculino. Infelizmente a cultura muitas vezes mantém o animus da mulher no exílio insistindo para que seja resolvida uma daquelas perguntas insolúveis e disparatadas que os complexos, querem dar a entender que são válidas e diante das quais muitas mulheres se intimidam. "Mas será que você é mesmo uma escritora [artista, mãe, filha, irmã, esposa, amante, trabalhadora, dançarina, pessoa] de verdade?" "Será que você realmente é talentosa [prendada, valiosa]?" "Será que você realmente tem algo a dizer que valha a pena [que seja esclarecedor, que irá ajudar a humanidade, que irá descobrir uma cura para o antraz]?
Não é de surpreender que, quando o animus da mulher é dominado por uma fabricação psíquica de natureza negativa, a produção da mulher se reduz, à medida que vão definhando sua confiança e sua força criadora. Mulheres nesse tipo de aflição afirmam "não conseguir ver uma saída" do chamado bloqueio de escritor, ou da sua causa. Seu animus está extraindo todo o oxigênio do rio, e elas se sentem "extremamente cansadas" e sofrem uma "tremenda perda de energia", parecem não conseguir "dar o primeiro passo", sentem-se refreadas por alguma coisa.

CAPITULO 10 - As águas claras: O sustento da vida criativa - CLARISSA PINKOLA ESTES

O RIO E O OCEANO

Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme
de medo.
Olha para trás, para toda a jornada,os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos
povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar
nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.Voltar é impossível na existência. Você
pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo
desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de
desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é
renascimento.
Assim somos nós.
Só podemos ir em frente e arriscar.
Coragem !! Avance firme e torne-se Oceano!!!
OSHO

Palavras do ator Wagner Moura sobre o Pânico na TV, em carta aberta, divulgada no globo.com:

“Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo “que coisa horrível” (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.

” O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice ”

O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.

” Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência ”

Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.

No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a “cagada” que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?"