quinta-feira, 4 de outubro de 2012



Olha o carinho vital que recebi na alma hoje:

"O caminho é feito por nossos passos, mas a beleza da caminhada depende dos que vão conosco! Nem a distância, nem a ausência, tem o poder de tirar do nosso coração pessoas especiais."

É muito bom ter e ser um amigo!!

Lucileyma

Eneatipo IV



Eneatipo IV

Extraído do livro “Autoconocimiento Transformador” do Dr. Claudio Naranjo

(...)No plano emocional, o elemento mais característico do E4 é a inveja. Esta consiste em uma comparação dolorosa com os demais, que pode ser sentida como falta de valor pessoal, rancor competitivo ou um excessivo empenho em conseguir reconhecimento. A inveja pode estar dirigida para pessoas concretas – por exemplo, um irmão ou uma irmã – ou ser mais geral, como a que se pode sentir contra o sexo oposto, os privilegiados ou os ricos.

Mas o mais típico do E4 é um sofrimento exagerado. Embora o E2, de personalidade histriônica, também seja teatral, o E4 se inclina para uma teatralização de corte trágico. Fritz Perls chamava a algumas mulheres invejosas e “as rainhas da tragédia”, querendo destacar o uso que fazem do sofrimento para ressaltar a sua própria importância e como atraem a atenção com suas necessidades frustradas.

Nos primeiros anos da nossa vida, todos nós conhecemos o chorar como forma de chamar a atenção. Se os bebês choram para conseguir os cuidados maternos, na personalidade do E4 esse traço se exagera de uma forma manipuladora. Se superdimensiona o sofrimento com o fim de atrair uma atenção que, de outra maneira, não chegaria nunca. Podemos falar de uma “sedução através do sofrimento”, tão efetiva como a sedução através do agrado.

(...) A disposição caracterológica do E4 conduz com frequência a pessoa a situações autenticamente dolorosas. De algum modo, uma antecipação negativa acaba criando uma realidade externa que confirma a dita expectativa; por isso, não seria acertado falar de um “sofrimento imaginário”. É fato que existem pessoas cujas tendências subjetivas as tem levado ao centro cirúrgico cinco, seis... ou até sete vezes, e está claro que uma operação nunca é algo agradável. Há pessoas que dão a impressão de atrair a má sorte, e realmente sofrem acidentes e passam por verdadeiras tragédias. Um conceito adequado seria o de “autoderrota”, ainda que o modo em que opera esse autoderrotismo possa ser inconsciente ou aparentemente misterioso.

Seria incompleto dizer que a dinâmica inconsciente que se esconde por trás do sofrimento do E4 é somente sedutora. O sofrimento e a expressão da frustração podem atuar como substitutos da capacidade de pedir, como indutores de culpa no outro ou como elemento de castigo. Assim, a frase “Veja o quanto eu sofro por sua causa” constitui um estratagema para gerar culpa. Basta pensar na mãe que diz ao seu filho: “Quando eu morrer você vai me entender”, ou “Tua insensibilidade vai me matar”, ou ainda “ Um dia desses vou ter um ataque do coração por sua culpa”, etc. Por outro lado, o sofrimento pode ser “masoquista”, no sentido de que a pessoa deseja assumir uma frustração ou uma dor excessiva a partir de sua necessidade de ser amada ou para considerar-se como merecedora de amor.

Em geral, a história dos indivíduos desse caráter começa com circunstâncias dolorosas no período da infância. Esta é uma verdade universal, já que se pode dizer que todos os nossos problemas remontam à infância; porém no caso do E4 existe mais recriação do passado, mais nostalgia e um sentido intenso do valor do que foi perdido: amiúde, para não dizer quase sempre, as perdas reais fazem com que conheçamos já em idade precoce o sentimento de luto, mas, diferentemente de outras pessoas que esquecem ou se resignam, os indivíduos do E4 albergam um agudo sentimento de “paraíso perdido”.

Há aqueles que, diante de situações dolorosas, reduzem suas necessidades. Outros desenvolvem uma fortaleza austera. Outros ainda se retraem, apartando-se do mundo. Mas no E4 permanece um intenso desejo, um anelo de amor que se torna uma dependência excessiva, uma espécie de “adição ao amor” (no sentido de vício). O amor se converte em algo necessário ao extremo, sem o qual a vida é uma tragédia. Não se deve buscar o motivo disso somente na frustração do passado, mas sim na psicodinâmica que se estabeleceu: se anseia o amor como compensação de uma falta de amor a si mesmo, por um estado de frustração e autorrejeição intenso e já crônico. Por tudo isso, se torna difícil também, para essas pessoas, suportar a solidão afetiva. Para elas, a solidão implica na dor de sentir que se confirma a sua autoimagem denegrida. Os orientais, principalmente a cultura japonesa, sustentam que no Ocidente atribuímos demasiado valor ao amor romântico. Dizem que lhe concedemos um lugar excessivamente monolítico em nossa vida, desproporcional ao seu valor real. Seja qual for a importância do amor romântico em nossa cultura, é certo que no tipo 4 existe uma crença excessiva no amor como solução de tudo.

A inveja é irmã dos sentimentos de inferioridade, culpa e vergonha. As pessoas E4 tendem a verem-se a si mesmas com estúpidas, tolas, feias e, às vezes, inclusive repulsivas física e moralmente. Vão pela vida com o sentimento de ser uma espécie de monstro típico dos contos. E, como frustração crônica acarreta ira (consciente ou inconsciente), a pessoa E4 tem motivos para sentir-se peçonhenta, perversa, víbora, etc. Não obstante, todas essas personificações monstruosas da parte sombria também refletem um forte autodenegrimento. Assim como as pessoas do E2 engrandecem a imagem que tem de si mesmos, as do E4 a arruínam.

Os subtipos do E4 são tão diferentes entre si como as variantes do E6, de modo que existe um grande contraste entre o subtipo enraivecido (sexual) e o triste (social): enquanto que o primeiro se queixa e reclama abertamente, o segundo é demasiado tímido para expressar os seus desejos, a menos que o faça intensificando seu sofrimento, como se dissesse: “Você vê como eu preciso de ajuda?”.

(...) Freud, em um de seus últimos trabalhos, compilou essa estrutura caracterológica como “os que se sentem excepcionais”, querendo referir-se àqueles que sentem que a vida está em dívida consigo e que isso lhes dá o direito de desfrutar de algumas vantagens.

(...) Ainda que o interesse da obra de Proust supere com sobras o meramente caracterológico, constitui um documento muito rico para apreciar a psicologia do E4: a emoção predominante é a nostalgia.

(...) Tímido ou desaforado, envergonhado ou despeitado, o indivíduo E4 tem uma personalidade hipersensível, que busca proteção e superproteção, e que sofre desproporcionalmente por falta de consideração ou reconhecimento. Como sucede com o E2, o E4 é emocional e com inclinações estéticas. As expressões emocionais românticas, sentimentais, emocionalmente intensas e violentas são características tanto do E2 quanto do E4, não só na vertente do sofrimento como também na da alegria. As pessoas E4 do subtipo sexual costumam ser arrogantes, apesar do seu sentimento geral de inferioridade e da sua propensão para a culpa. (...) Existe uma dor consciente por sentirem-se incompreendido, de modo que adotam uma atitude arrogante para serem reconhecidos. Entre as pessoas talentosas existe amiúde uma atitude de “gênio incompreendido”.

(...) O E4 não só se caracteriza por sua tendência artística, como também por um interesse mais geral pela cultura e uma aspiração ao refinamento social, levada ao extremo da afetação e do esnobismo. Essas tendências refletem a inveja (entendida como a vontade de incorporar algo de bom), mas também o desejo de conter ou ocultar um sentimento de violência que se torna vergonhoso, porque se percebe como algo rude e feio. Os indivíduos E4podem estar cheios de obsessões e normas sobre como deveriam se as coisas. E, claro está, como estão tão necessitados, são alvo fácil da frustração e do desânimo, independentemente de que essa necessidade se expresse de modo imperioso ou dissimulado.

Sua necessidade de serem tratados de forma muito especial, juntamente com as fricções normais produzidas pelas diferenças entre as pessoas, fazem com que os E4 sejam muito fáceis de ferir. Isto se complica ainda mais pelas muitas ideias preconcebidas que eles têm sobre como deveria ser a convivência.

Do mesmo modo que existe um marcante contraste entre as variantes assertiva e tímida do E4 (agressiva e triste, respectivamente), ambas as formas de apego excessivo diferem de um terceiro estilo de personalidade, o subtipo de conservação, que não é nem melodramático, nem abertamente competitivo. Eu o cataloguei como “contradependente”, por analgia com a variante contrafóbica do E6 (na qual o medo dificilmente está consciente). A inveja nestes casos se torna menos aparente, e assim como a variante agressiva do E4 se parece ao E2 por sua arrogância, a contradependente se parece ao E1 por sua grande autonomia. Neste subtipo se produz uma retroflexão das exigências orais sobre si mesmo e a pessoa é mais masoquista que melodramática; pode reprimir uma grande dor sem o menor gesto e sofrer muito para merecer amor.

(...) Atualmente, os psicoterapeutas costumam diagnosticar o E4 como personalidade “masoquista depressiva”, personalidade autoinvalidadora ou personalidade limítrofe, sendo, com sobras, o tipo que mais recorre à ajuda profissional para tratar sintomas psicológicos ou problemas vitais.