segunda-feira, 2 de junho de 2014

26!



26!

E eu não me lembro de mais quantas vezes me perguntei, nos últimos meses, sobre o que estou fazendo da minha vida. Quanto tempo resta pra conquistar tudo àquilo que fica rondando em minha mente, como se eu ainda não tivesse conquistado nada. 
Alguns anos se passaram, há dias em que acredito severamente que não conquistei nada durante esse tempo, que deixei coisas inacabadas e outras nem tivecoragem de começar a arriscar. Uma sensação de impotência e valentia. De fortaleza e fragilidade. De menina e de mulher.

Que estranha transição. Cruel, eu diria. É como se não tivesse conseguindo cumprir os objetivos que fiz quando mais nova. Preciso fazer, preciso acontecer, preciso realizar, preciso ter, preciso amar. Eu preciso. Ou então não terei mais tempo pra ser essa que sou agora, cheia de vida pela frente. É como se meus dias estivessem contados, como se amanha eu fosse tornar outra pessoa, sem a possibilidade de errar.

É um bilhão de duvidas existencial. De medo, angustias, saudades. Muitas pessoas na minha idade ainda têm duvidas sobre qual carreira seguir. Neste quesito me considero vencedora. Sempre lutei pelo que eu queria e desde meus 16 anos comecei atuar na profissão que sabia que queria pra mim. 

Mas as cobranças existem e são elas que sufocam. A ansiedade de conquistar tudo o que quero, agora é algo q habita em mim. Mas a sociedade também maltrata. “quando vai comprar seu carro? Ainda esta solteira? O tempo está passando pra você menina. Quando vai resolver ter filhos? Ainda não tem seu apê próprio? Ate quando vai morar com seus pais?” essa conversa chega e da vontade de GRITAR. E muitas vezes essas perguntas vêm de mim mesma e às vezes me questiono, será que preciso mesmo me enquadrar nos padrões da sociedade? É muita cobrança. E eu sei que o tempo está passando. Mas será que não posso mais andar de descalço? Brincar e “perder tempo” assistindo desenho?

O que me conforta é saber que não estou sozinha nessa turbulência de pensamentos. Alguns amigos dizem que já passaram pela essa crise e que hoje estão mais tranquilos. Garantem que tudo continua igual, muitas vezes ate melhor. Ok. Vamos combinar que todos que passaram dos 30 elogiam, mas a verdade é que todos que tem menos de 30 acha que é o fim do mundo. E eu já sinto saudades de mim mesma!

O fato é que prestes a realizar 26 anos, ainda me sinto imatura em tantos pontos da minha vida e tão madura para outras. Satisfeitas com inúmeras conquistas e descobertas, mas aprendiz de mim mesma. Dizem que essa crise é passageira, como as dos 36, 46, 56 e por ai vai. Mas tenho uma vida pela frente, e como diz Nando Reis: “É bom olhar pra trás, e admirar a vida que soubemos faze”.


Por: Mari Antonaci

Líria Porto




eu tenho umas taras - entre as confessáveis: cheirar a roupa que tiro do varal, escrever poemas em envelopes que chegam do correio (ainda mais se a correspondência não for para mim), cheirar os livros, desmilinguir aos cafunés nos cabelos, raspar panelas...
*líria porto


IN_FRAÇÕES
nas paredes
no teto no assoalho
nos espelhos na escada
até nos rodapés
escrevo verso
*líria porto


preciso escrever nas paredes
o silêncio das paredes me amedronta
sinto-me tonta ao passar no corredor
invento ronco barulhinho faz de conta
aperto os passos o retorno é bem pior
é que o silêncio se agarra à minha sombra
e me amarra nas falácias do marrom
*líria porto


ALA PSIQUIÁTRICA
falar com as paredes eu falo
bom dia paredes como estão
elas respondem irritadas
paradas iguais os postes
sem enfeites pichações
quadros espelhos sem nada
e tão pálidas quanto
os mortos

*líria porto