quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sérgio Condé

No meio do teu caminho havia uma Paixão.
Nunca te esquecerás desta pedra que há de virar pó.
No meio do teu caminho não, mas num fim de um desvio... 
Na falta de um caminho, havia um ídolo de pedra...

A tua paixão para e ora ao teu ídolo
e entrega-se a ele agora em sacrifício 
para que ele a cure da dor em teu passado.
E é de repente que vê este ídolo cair 
em cima do si pesando corações em pedra
levando-a para lá onde tudo começou:

Ó anseio insaciável ao seio inexaurível
que enfim sempre se afasta 
fincando nas bordas da ternura
uma faca afiada retirada às pressas.
E fica lá a sempre falta, caçadora canibal.

Marcas primordiais
de uma memória indelével
que tatua em tua alma vazia sonhos
à imagem de uma curvilínea dor
feita à semelhança do teu primeiro ídolo.

Todo ídolo é desejo de elevação
mas é feito de queda por definição.

E tão envergonhada tua alma se fez desnuda 
alimentada pela iludida esperança...
Ah, a sempre esperança de recomeçar
um novo happy end no antigo drama
que insiste em se fazer reprise,
filme triste a se reatuar...

Este ídolo que amas tem duas caras,
mascaras teatrais: 
sorriso melancólico e choro cômico.
Peito bom, peito mau, doce, amargo
oferta de asas ao sabor das estrelas, 
oásis de miragem, deserto sem norte.
Mas que face é a tua, verdadeiramente tua?
Não saberás vê-la jamais?

E para quem é a paixão?

Para ti que ora deitas num colo em fusão
e és toda entrega ao sono da morte feliz ?

Para ti que ora levantas o muro do castelo
e és escudo e espada, um corte infeliz ?

Ora queres matar este travesti do amor eleito,
ora queres tua própria morte, como fuga dele
mas deixando um rastro de vinganças,
e delegando tua herança de culpas
ao ídolo que se fez vão aos teus anseios.

De ambiguidade é feito o teu círculo 
um jogo de fogo escorpiônico
que te move e te remove do teu Ser.

No centro da tua indecisão,
uma profunda espiral, 
redemoinho das águas te trazem 
para o fundo da tua loucura,
na porta da prisão escura 
que te ata ao passado.

Mas ali também reflexos há,
e brisas de uma inesperada passagem, 
vê-se ali a luz para além da dor.

De lá, onde tudo começou
o longe aqui se fez presente
latejando perto, doendo sempre. 
Mas a um só passo do teu Ser desperto,
e este sim, tão real e tão mais aqui tão perto!

É só pedires ao Sol, 
à sempre Aurora Intemporal,
que te traga à tona e de volta ao leme.
Desperta enfim ó sonâmbulo da paixão
deste sonho mau em que débil tremes!

É só pedires para não seres só,
é só acreditares que tudo é sonho,
é só aceitares o Verdadeiro Amor
de Quem teu sonho é fuga,
medo pavor da plenitude
e da luz do Sol que todos somos.


Sergio Condé