sábado, 22 de novembro de 2025

SILÊNCIO


 

SILÊNCIO

 

Acredito que vivo em uma época errada, muitas das vezes desejei pensar e sentir como os outros, mas sempre me senti uma pessoa diferente, excluída, fora dos padrões; por ter percepções, excentricidades, inconsciência aflorada, preferir animais às pessoas, optar pelo isolamento em locais extremos e silenciosos. Jung menciona que essa sensação é uma manifestação primitiva do inconsciente que não deve ser ignorada.

Ser imperceptível, invisível, passar desapercebida, ser insossa, discreta, prática, básica, objetiva, direta, sair à francesa, não dar satisfação e marcar presença simbólica em eventos sociais sempre fora a opção. Só me tornava perceptível quando o assunto atingia a minha intelectualidade, aí me sobressaía, mas me arrependia, porque sentia que as pessoas se afastavam, me julgavam arrogante...

Um amigo de infância sempre me dizia/diz que sou muito perigosa. Ele intitulou a música do U2, Who's Gonna Ride Your Wild Horses, como minha autobiografia, principalmente na primeira estrofe, que menciona: “You're dangerous, 'cos you're honest”. Sempre rimos muito a respeito disso e a nossa amizade perdura na atualidade. Ele em Nova York, e eu aqui, nessa província Guarapariense. Somos amigos desde os 8 anos. A nossa afinidade nunca se perdeu, parece que existe uma onda eletromagnética que nos liga, sempre nos acolhemos sem pedir socorro e sempre nos divertimos muitíssimo.

Neste contexto fico a pensar... em pleno Século XXI... sobre as adversidades, as necessidades, o egoísmo, o desejo, o interesse pessoal, material, sexual que sempre sobressai sobre tudo e todos. Nos enganos em nossos julgamentos, vícios, entendimentos, nos entregamos indevidamente, principalmente quando envolve emoções. É um pecado capital amar, a praxe da atualidade é envolver-se sem se apegar, sem demonstrar... não demonstrar nada, nem amor e nem a falta dele. Pegar, ignorar e dar um sumiço é a regra. Sexo por sexo. O desprezo é sinônimo de amadurecimento, pois somos adultos.

Acredito piamente que não ser correspondida afetuosamente não seja o problema, pois existe a aceitação de apenas deixar o outro ir em compaixão... Talvez, está só seja uma reação, ou uma percepção em não acreditar no desfecho daquilo que me pareceu tão verdadeiro...

Há muito tempo aprendi que adultos, em sua maioria, não sabem conversar, e no meu caso, talvez, tenha feito muita terapia e me tornando demasiadamente benevolente por ter medo da loucura. Sou uma pessoa que consegue ver através da máscara de um ego e sentir a dor do outro, de fato sou uma pessoa muito perigosa, sou uma pessoa que não tem medo, que se expõe, se entrega, aceita e se responsabiliza.

Mas o que o silêncio tem a ver com isto?

No Espiritismo o silêncio é uma prece.

No Budismo, Tao e Confucionismo o silêncio é um estado meditativo de elevação mental e espiritual, a iluminação.

Na Bíblia em “Isaías 9:8 também sugere que o silêncio é mais benéfico e sábio em muitos casos, como quando estamos com raiva, ou quando não sabemos todos os lados de uma história”. 

Em Direito Penal o silêncio é uma forma de não produzir provas contrárias.

Para os meus alunos o silêncio significa não saber a resposta, ou ter dúvidas.

Para você é falta de tempo, ou interesse, ou objetivo...

Para mim, o silêncio é apenas o meu momento de descanso. Um momento de reflexão, clareza emocional e espiritual. O silêncio pode ser o respeito aos mais velhos ou a hierarquia institucional. O silêncio pode ser apreciativo. O silêncio pode servir para evitar um atrito. Na verdade o silêncio, nunca é uma forma direta de resposta a uma pergunta, porque existe subjetividade e dualidade presente no humano, muita das vezes as respostas não devem ser silenciadas, precisam ser objetivas, tendo em vista que a falta de resposta transparece estar no meio do caminho, vago, ou feito bolinha de sabão solta no ar... Estar no meio do caminho não é o meu caso, mas, definitivamente não devemos implorar uma resposta. Aceite, respire e transcenda. O Universo sabe o que faz.

A maioria dos adultos da atualidade enxerga o silêncio como uma super resposta para uma pergunta. Diga não a objetividade. Talvez a mais covarde e cruel forma expressão, pois, aquele silêncio diz claramente que do outro lado, há alguém que, por uma razão, não está disponível para você. Mesmo que o status esteja disponível, ou, online o tempo todo, não há intenção alguma em resposta, interação e em você.

O silêncio do outro em resposta é um sinal claro de que você deve seguir. Deixar, desistir, abdicar, aceitar e se acolher. Não interaja com quem não deseja interação alguma. Afinal, você já teve uma clara e definitiva resposta. Quem quer, não mede esforços. Quem quer, dá um jeitinho... Quem quer, se importa.

Particularmente enxergo a falta de resposta uma atitude imatura, porque para mim, dizer sim ou não é simples e minimalista, representa a abertura ou o fechamento de um ciclo.

Aos covardes, por mais nobres que parecem, só lhes restam o silêncio como resposta ou desculpas educadas.

De fato, sou muito perigosa e louca por ser autêntica. Não soube reagir às emoções inesperadas. Não me protegi. Me entreguei! Vivi! E sim! Vou tirar toda e qualquer expectativa de dentro de mim em respeito a nós. Não existe esperança que envolva uma pergunta sem resposta. Não nos conhecemos, não tivemos tempo e oportunidade para isso, atropelamos processos e perdemos a oportunidade de escrever uma história lindíssima.

 

Por: Lucileyma Carazza