SILÊNCIO
Acredito que vivo em uma época
errada, muitas das vezes desejei pensar e sentir como os outros, mas sempre me
senti uma pessoa diferente, excluída, fora dos padrões; por ter percepções, excentricidades,
inconsciência aflorada, preferir animais às pessoas, optar pelo isolamento em
locais extremos e silenciosos. Jung menciona que essa sensação é uma
manifestação primitiva do inconsciente que não deve ser ignorada.
Ser imperceptível, invisível,
passar desapercebida, ser insossa, discreta, prática, básica, objetiva, direta,
sair à francesa, não dar satisfação e marcar presença simbólica em eventos
sociais sempre fora a opção. Só me tornava perceptível quando o assunto atingia
a minha intelectualidade, aí me sobressaía, mas me arrependia, porque sentia
que as pessoas se afastavam, me julgavam arrogante...
Um amigo de infância sempre me dizia/diz
que sou muito perigosa. Ele intitulou a música do U2, Who's Gonna Ride Your
Wild Horses, como minha autobiografia, principalmente na primeira estrofe, que
menciona: “You're dangerous, 'cos you're honest”. Sempre rimos muito a respeito
disso e a nossa amizade perdura na atualidade. Ele em Nova York, e eu aqui,
nessa província Guarapariense. Somos amigos desde os 8 anos. A nossa afinidade
nunca se perdeu, parece que existe uma onda eletromagnética que nos liga,
sempre nos acolhemos sem pedir socorro e sempre nos divertimos muitíssimo.
Neste contexto fico a pensar... em
pleno Século XXI... sobre as adversidades, as necessidades, o egoísmo, o desejo,
o interesse pessoal, material, sexual que sempre sobressai sobre tudo e todos.
Nos enganos em nossos julgamentos, vícios, entendimentos, nos entregamos
indevidamente, principalmente quando envolve emoções. É um pecado capital amar,
a praxe da atualidade é envolver-se sem se apegar, sem demonstrar... não
demonstrar nada, nem amor e nem a falta dele. Pegar, ignorar e dar um sumiço é a
regra. Sexo por sexo. O desprezo é sinônimo de amadurecimento, pois somos
adultos.
Acredito piamente que não ser
correspondida afetuosamente não seja o problema, pois existe a aceitação de
apenas deixar o outro ir em compaixão... Talvez, está só seja uma reação, ou
uma percepção em não acreditar no desfecho daquilo que me pareceu tão verdadeiro...
Há muito tempo aprendi que
adultos, em sua maioria, não sabem conversar, e no meu caso, talvez, tenha
feito muita terapia e me tornando demasiadamente benevolente por ter medo da
loucura. Sou uma pessoa que consegue ver através da máscara de um ego e sentir
a dor do outro, de fato sou uma pessoa muito perigosa, sou uma pessoa que não
tem medo, que se expõe, se entrega, aceita e se responsabiliza.
Mas o que o silêncio tem a ver
com isto?
No Espiritismo o silêncio é uma
prece.
No Budismo, Tao e Confucionismo o
silêncio é um estado meditativo de elevação mental e espiritual, a iluminação.
Na Bíblia em “Isaías 9:8 também
sugere que o silêncio é mais benéfico e sábio em muitos casos, como quando estamos
com raiva, ou quando não sabemos todos os lados de uma história”.
Em Direito Penal o silêncio é uma
forma de não produzir provas contrárias.
Para os meus alunos o silêncio
significa não saber a resposta, ou ter dúvidas.
Para você é falta de tempo, ou
interesse, ou objetivo...
Para mim, o silêncio é apenas o
meu momento de descanso. Um momento de reflexão, clareza emocional e espiritual.
O silêncio pode ser o respeito aos mais velhos ou a hierarquia institucional. O
silêncio pode ser apreciativo. O silêncio pode servir para evitar um atrito. Na
verdade o silêncio, nunca é uma forma direta de resposta a uma pergunta, porque
existe subjetividade e dualidade presente no humano, muita das vezes as
respostas não devem ser silenciadas, precisam ser objetivas, tendo em vista que
a falta de resposta transparece estar no meio do caminho, vago, ou feito
bolinha de sabão solta no ar... Estar no meio do caminho não é o meu caso, mas,
definitivamente não devemos implorar uma resposta. Aceite, respire e
transcenda. O Universo sabe o que faz.
A maioria dos adultos da
atualidade enxerga o silêncio como uma super resposta para uma pergunta. Diga
não a objetividade. Talvez a mais covarde e cruel forma expressão, pois, aquele
silêncio diz claramente que do outro lado, há alguém que, por uma razão, não
está disponível para você. Mesmo que o status esteja disponível, ou, online o
tempo todo, não há intenção alguma em resposta, interação e em você.
O silêncio do outro em resposta é
um sinal claro de que você deve seguir. Deixar, desistir, abdicar, aceitar e se
acolher. Não interaja com quem não deseja interação alguma. Afinal, você já teve
uma clara e definitiva resposta. Quem quer, não mede esforços. Quem quer, dá um
jeitinho... Quem quer, se importa.
Particularmente enxergo a falta
de resposta uma atitude imatura, porque para mim, dizer sim ou não é simples e
minimalista, representa a abertura ou o fechamento de um ciclo.
Aos covardes, por mais nobres que
parecem, só lhes restam o silêncio como resposta ou desculpas educadas.
De fato, sou muito perigosa e
louca por ser autêntica. Não soube reagir às emoções inesperadas. Não me
protegi. Me entreguei! Vivi! E sim! Vou tirar toda e qualquer expectativa de
dentro de mim em respeito a nós. Não existe esperança que envolva uma pergunta
sem resposta. Não nos conhecemos, não tivemos tempo e oportunidade para isso,
atropelamos processos e perdemos a oportunidade de escrever uma história
lindíssima.
Por: Lucileyma Carazza
