quinta-feira, 6 de setembro de 2012

AS ASAS de Sandra Maitri



Por Liane Coutinho em Eneagrama

 AS ASAS DO TIPO 1 DO ENEAGRAMA
 
Na qualidade de ponto intermediário entre a Indolência do Ego (Nove) e a Bajulação do Ego (Dois), o Tipo Um temuma asa que vai dormir sobre a sua natureza essencial, por um lado, e o orgulho, por outro. No lado do Ponto Nove, ele se sente profundamente indigno e abjeto; no lado do Ponto Dois, tem uma noção exagerada daprópria grandiosidade. Portanto, temos por um lado a idéia de que o eu não tem valor, e por outro umasupervaloração do eu. Resulta daí a idéia do Tipo Um de ser uma pessoa essencialmente defeituosa; mas, com ainconsciência e a exterioridade do Tipo Nove aliadas ao orgulho do Tipo Dois, essa sensação de maldade éprojetada para fora — os outros são maus e precisam ser consertados. Além disso, preso entre a exigência que o Tipo Nove faz para si mesmo - de amar e acolher a todos os seres e coisas — e a exigência do Tipo Dois - de ser alguém que ama os outros e é amado por eles —, o Tipo Um inevitavelmente se identifica com seu superego e procura ser perfeito. E, do mesmo modo, inevitavelmente acaba por sentir-se medíocre em comparação com essa exigência exagerada de amor. A idéia de não ser perfeito tambémvem do encontro da sensação de insuficiência e abjeção do Tipo Nove com a sensação fundamental derejeição do Tipo Dois.

 AS ASAS DO TIPO 2 DO ENEAGRAMA
 
Tendo de um lado a asa do Ressentimento do Ego (Um) e do outro a da Vaidade do Ego (Três), o Tipo Dois, porum lado, sente a exigência íntima de ser uma pessoa perfeita mas se sente fundamentalmente defeituoso; e, poroutro, sente a necessidade de apresentar uma imagem perfeita. E impossível atender a essas exigências de perfeiçãopor dentro e por fora, de modo que o Tipo Dois desespera de si mesmo e volta-se para os outros em busca desalvação. Torna-se, assim, dependente deles. Sob outro ponto de vista, a moralidade do Tipo Um encontra aduplicidade e a amoralidade do Tipo Três, e por isso o Tipo Dois sente-se permanentemente culpado. Soboutro ponto de vista ainda, o impulso do Tipo Um de ser uma pessoa boa aliado ao impulso do Tipo Três deimpressionar os outros gera o hábito do Tipo Dois de buscar nos outros a aprovação e a confirmação de que éuma pessoa digna de ser amada. Além disso, o impulso do Tipo Três de criar a sua própria pessoa, aliado aoimpulso do Tipo Um de ser bom, gera o impulso do Tipo Dois de moldar-se e apresentar-se segundo a imagemde uma pessoa realmente boa e amável.

 AS ASAS DO TIPO 3 DO ENEAGRAMA

 Com a Bajulação do Ego (Dois) de um lado e a Melancolia do Ego (Quatro) do outro, falta ao Tipo Trêsuma noção intrínseca da direção e do impulso da sua vida, e ele ao mesmo tempo se sente rejeitado eabandonado pelo Ser. Em decorrência disso, ele é incapaz de perceber naturalmente a profundidade e odinamismo do seu ser e, portanto, chega à conclusão de que tem de viver a vida na superfície da suapessoa, na imagem. Acaba sentindo também que tem de tornar-se uma espécie de semideus que cria epreserva a si mesmo e à sua vida. Além disso, preso entre a dependência do Tipo Dois e a sensação deabandono do Tipo Quatro, o Tipo Três desiste de contar com as outras pessoas e vê-se como um entetotalmente auto-suficiente e autônomo. Do ponto de vista emocional, situado entre os dois tipos maisemotivos do eneagrama, ambos sujeitos à depressão e à desesperança, o Tipo Três opta por agir e mergulha decorpo inteiro na atividade, dando toda importância às suas realizações e perdendo o contato, nesse processo,com seus sentimentos.

 AS ASAS DO TIPO 4 DO ENEAGRAMA
 
Sendo o ponto intermediário entre a Vaidade do Ego (Três) e a Avareza do Ego (Cinco), o Ponto Quatro é o lugar onde a idéia de que se é um agente independente que cria as suas próprias leis e o seu próprio universo encontra-se com a idéia de que se é uma entidade totalmente separada de todas as outras. Oresultado é uma profunda impressão de dissociação em relação ao dinamismo da vida e às outras pessoas. Seu impulso, por isso, é o de fazer contato com algo de autêntico tanto em si mesmo quanto nos outros. E o estado emocional que resulta da vacuidade árida do Tipo Cinco e da nulidade interior do Tipo Três —características respectivas do mais íntimo de um e de outro — é o desespero e a desesperança no isolamento que caracterizam o Tipo Quatro. Sob outro ponto de vista, o espírito realizador do Tipo Três associado à sensação de isolamento e separação do Tipo Cinco gera no Tipo Quatro o esforço de religar-se a uma origem interior autêntica. A imagem desse tipo, portanto, é a de uma pessoa que suspira pelo reencontro com a realidade.

 AS ASAS DO TIPO 5 DO ENEAGRAMA

 Tendo de um lado a Melancolia do Ego (Quatro) e do outro a Covardia do Ego (Seis), o Tipo Cincoé a fusão do anseio por um vínculo autêntico com a origem, por um lado, e do medo e dainsegurança, por outro. É por isso que o Tipo Cinco procura conhecer o território que tem adiante de si evincular-se a esse território através do conhecimento, ao mesmo tempo em que permanece a uma distânciasegura de toda e qualquer atividade concreta. Além disso, com a sensação do Tipo Quatro de ter sido excluídoe abandonado e a ansiedade de sobrevivência do Tipo Seis, o resultado é a avareza do Tipo Cinco — aacumulação e retenção de tudo quanto possui por medo de que tudo isso lhe seja tirado. Sob outro ponto devista, a desesperança do Tipo Quatro e sua profunda certeza de que jamais será salvo encontram-se com omedo que o Tipo Seis tem das pessoas e do mundo em geral, o que resulta no autofechamento e no isolamentodo Tipo Cinco.
 
AS ASAS DO TIPO 6 DO ENEAGRAMA

 Intermediário entre a Avareza do Ego (Cinco) e o Planejamento do Ego (Sete), o Tipo Seis é a incômodainterseção de um movimento de afastamento em relação ao mundo e às pessoas (Cinco) e de um movimento degulosa absorção de todas as coisas (Sete). O Tipo Cinco se esconde enquanto o Sete sente vontade de provar umpouquinho de todas as coisas gostosas da vida; o Tipo Seis, por conseqüência, é vacilante, hesitante e cheio dedúvidas, não sabe se deve avançar ou retroceder, se deve procurar fazer contato ou resignar-se. A sensação íntimade vacuidade e esterilidade do Tipo Cinco, mais a necessidade do Tipo Sete de se sentir contente, fazem comque o Tipo seis não saiba exatamente o que está sentindo.Sob outro ponto de vista, a vacuidade árida do Tipo Cinco e o otimismo do Tipo Sete resultam naprincipal modalidade de relação objetiva na qual o Tipo Seis se coloca: a idealização de uma figura deautoridade na qual os subalternos projetam todas as suas esperanças.

 AS ASAS DO TIPO 7 DO ENEAGRAMA

No Tipo Sete, as dúvidas da Covardia do Ego (Seis) encontram-se com a ânsia de viver da Vingança do Ego(Oito). O resultado é o fato de o Tipo Sete querer sentir um gostinho de cada coisa mas, por causa do medo e dadúvida, não mergulhar a fundo em coisa alguma. À semelhança do Tipo Oito, o Tipo Sete se sente estimulado eentusiasmado por todas as coisas do mundo; mas, em virtude do medo, o contato que faz com elas éprincipalmente mental e, portanto, supostamente seguro. O Tipo Oito é voltado para os sentidos corpóreos e oTipo Seis duvida de tudo o que vê; o Sete, por sua vez, experimenta muitas coisas mas questiona todas elas.Além disso, a dúvida, a insegurança e a falta de confiança do Tipo Seis, aliadas à ânsia de ascensão e aoinstinto dominador e prepotente do Tipo Oito, resultam no visionarismo do Tipo Sete e nos planos grandiososque faz em vista de uma conquista futura, da qual ele não se arrisca a realizar mais do que uma pequena parte.

AS ASAS DO TIPO 8 DO ENEAGRAMA

Aqui, a necessidade de se sentir bem do Planejamento do Ego (Sete) encontra-se com a morte interior da Indolência do Ego (Nove). O resultado é o fato de o Tipo Oito negar categoricamente que haja qualquer coisadentro de si que cheire a fraqueza ou deficiência. Os planos utópicos do Tipo Sete encontram-se com a inércia do Tipo Nove, gerando o preconceito característico que o Tipo Oito tem em relação a todas as coisas que percebe— em outras palavras, ele só vê o que quer ver, de maneira bastante dogmática e peremptória. Além disso, como tem a visão de como as coisas poderiam ser (que lhe vem do Ponto Sete) e tem também a atençãoexteriorizada (do Ponto Nove), ele exige que as coisas tomem a forma que ele acha que devem tomar, e procurafazer justiça pelas próprias mãos contra os supostos males que percebe. Sob outro ponto de vista, a fome de estímulos do Tipo Sete alia-se à inconsciência do Tipo Nove emrelação ao mundo da Essência para gerar a luxúria do Tipo Oito, seu gosto exagerado pelas satisfaçõesmateriais e sensoriais.

AS ASAS DO TIPO 9 DO ENEAGRAMA

 Tendo por asas a Vingança do Ego (Oito) e o Ressentimento do Ego (Um), o Tipo Nove está entre obandido e o mocinho do eneagrama. Fortes impulsos instintivos nascem no Ponto Oito e encontram, no Ponto Um, poderosas proibições do superego. Necessariamente, o que resulta disso é umamortecimento dos impulsos e um entorpecimento dos movimentos. São duas forças muito poderosasque agem em sentidos contrários — num conflito que parece insolúvel —, e por isso o Tipo Nove do Eneagrama põe de molho a sua vida interior e volta a sua atenção para fora. Em virtude dessa discórdiainterior profunda e predominantemente inconsciente, o Tipo Nove procura tornar as coisas harmoniosase assim conservá-las, evitando o quanto possível os conflitos.


O QUE DIFERENCIA UM SUFI DE UM ERUDITO



Ao começo do Império Otomano, havia um sultão que se interessava pelas Turuq (pl. de Tariqa) e certo dia, perguntou a seu vizir: "Qual é a diferença entre uma pessoa culta ou erudita, e o Povo do Caminho?"

"Sua Majestade - respondeu o funcionário - caso aceites, esta noite podemos ir a um lugar onde a diferença ficará muito clara."

Horas depois, trocaram seus trajes e aparentando ser pessoas comuns, foram a uma casa-grande onde havia uma reunião da qual participavam como convidados homens cultos e pessoas da Tariqa. Ingressaram e se acomodaram num canto. Então entrou uma pessoa a quem o vizir perguntou: "Oh nosso mestre!, quem aqui é o primeiro dos eruditos?" Recebendo como resposta "Não sabes quem sou eu, para me fazer esta pergunta; eu sou o primeiro"...

Depois, apareceu um segundo, e o vizir o interrogou da mesma maneira. Enfurecido, o homem culto berrou: "Que pergunta é essa? Não sabes quem sou eu? Sou o primeiro, o melhor!"

Todos os eruditos diziam ser o primeiro, o mais importante nesse encontro. E usavam enormes turbantes.

Mais tarde começou a chegar o povo das Turuq. O vizir se aproximava e dizia: "As salaam alaykum, oh meu irmão, oh shaykh Naqshbandi! Dentre os presentes, quem é o shaykh mais importante da Tariqa?" E escutou: "Está vindo atrás de mim".

O que veio depois acrescentou: "O irmão que vem em seguida". Os que chegaram, quarenta no total, responderam: "Vem atrás de mim". E o último afirmou: "Eles acabam de passar".

Então o sultão concluiu: "Os primeiros são os eruditos, e estes últimos são os da Tariqa, que treinam seus egos aplicando enxertos para mudar más características por boas".

 

(Shaykh Nazim al-Haqqani an-Naqshband, O Caminho Naqshbandi)