segunda-feira, 2 de junho de 2014

Líria Porto




eu tenho umas taras - entre as confessáveis: cheirar a roupa que tiro do varal, escrever poemas em envelopes que chegam do correio (ainda mais se a correspondência não for para mim), cheirar os livros, desmilinguir aos cafunés nos cabelos, raspar panelas...
*líria porto


IN_FRAÇÕES
nas paredes
no teto no assoalho
nos espelhos na escada
até nos rodapés
escrevo verso
*líria porto


preciso escrever nas paredes
o silêncio das paredes me amedronta
sinto-me tonta ao passar no corredor
invento ronco barulhinho faz de conta
aperto os passos o retorno é bem pior
é que o silêncio se agarra à minha sombra
e me amarra nas falácias do marrom
*líria porto


ALA PSIQUIÁTRICA
falar com as paredes eu falo
bom dia paredes como estão
elas respondem irritadas
paradas iguais os postes
sem enfeites pichações
quadros espelhos sem nada
e tão pálidas quanto
os mortos

*líria porto