quarta-feira, 25 de abril de 2012

"GENTE FINA"*




de Martha Medeiros*


"Cada um faz o que bem entender com o próprio corpo. Comer com liberdade é
um direito e ninguém tem que se sacrificar para atender a um padrão
estético, mas que ser magro é melhor do que ser gordo, é.
Pra saúde é melhor, pra se vestir é melhor, pra se locomover é melhor, pra
dançar é melhor.
Não quer dizer que um gordo não seja feliz.
Geralmente, são felizes à beça, mais do que muito varapau.


Mas se fosse possível escolher entre ser magro e ser gordo sem nenhum
efeito colateral de felicidade ou infelicidade, sem nenhum esforço, só no
abracadabra, todo mundo iria querer ser magro, assim como todo mundo
preferiria se cristalizar entre os 30 e os 50 anos.
Eu acho.
A não ser que eu esteja louca, o que é uma hipótese a considerar.


Porém, melhor que tudo é ser gente fina.
Finíssima.
Isso nada tem a ver com a tendência atual de ser seca, de parecer um
esqueleto ambulante.
Gente fina é outra coisa.


Gente fina é aquela que é tão especial que a gente nem percebe se é gorda,
magra, velha, moça, loira, morena, alta ou baixa.
Ela é gente fina, ou seja, está acima de qualquer classificação.
Todos a querem por perto.
Tem um astral leve, mas sabe aprofundar as questões quando necessário.
É simpática, mas não bobalhona.
É uma pessoa direita, mas não escravizada pelos certos e errados: sabe
transgredir sem agredir.


Gente fina é aquela que é generosa, mas não banana.
Te ajuda, mas permite que você cresça sozinho.
Gente fina diz mais sim do que não, e faz isso naturalmente, não é para
agradar.
Gente fina se sente confortável em qualquer ambiente: num boteco de beira
de estrada e num castelo no interior da Escócia.


Gente fina não julga ninguém – tem opinião, apenas.
Um novo começo de era, com gente fina, elegante e sincera. O que mais se
pode querer?
Gente fina não esnoba, não humilha, não trapaceia, não compete e, como o
próprio nome diz, não engrossa.
Não veio ao mundo pra colocar areia no projeto dos outros. Ela não pesa,
mesmo sendo gorda, e não é leviana, mesmo sendo magra.
Gente fina é que tinha que virar tendência.
Porque, colocando na balança, é quem faz a diferença."