terça-feira, 26 de setembro de 2017

SIMPLESMENTE


SIMPLESMENTE

Posso te amar assim, só assim, sem concordar com você. Posso só estar ali, ao seu lado, no calor lânguido. Sem precisar provar nada ou querer tanto. Sem condenar seus julgamentos, sem distorcer cada sentimento, sem precisar do seu amor de volta. Só adorando cada segundo do momento. Posso te amar assim, simplesmente.

Posso não te pedir nada, e ainda rir dos seus pensamentos tresloucados, das suas preferências inconfessas, de seus ex e futuros amores dispersos. Posso ouvir aquilo tudo que sussurra pra dizer, pra esconder até de si. Posso guardar, dividir com você.

Posso não querer nada de você. Não esperar nem que se cuide, nem que se cale, que não beba, que se morda, que me fale, que queira a vida, que procure saídas. Que pague as contas, que se esforce, que melhore, que corra, que busque, que emagreça, que não adoeça. Posso não querer nada de melhor pra você e te deixar aí, seguindo o seu caminho que por tantas vezes cruza o meu. Posso só curtir as interseções em que estamos juntos.

Posso tão somente ficar com você. Assim, sem exigências ergométricas, sem desejos ecumênicos, sem, ao menos, aprovar suas escolhas. Sem consentir com a sua tagarelice doida, sem me preocupar com os preços que teremos que pagar, sem qualquer pesar, sem expressar alguma experiência. Sem ensinar nada. Até porque, como poderia? Como poderia querer julgar suas atitudes se não vivi cada uma de suas dores? Se não passei por todos os mesmos minutos que você? Como posso daqui, de mim, realmente compreender o que se sente daí, de você?

Mas eu posso simplesmente estar ali, como se não houvesse nada melhor a fazer do que jogar fofocas no ventilador de domingo. Como se não houvesse sabor melhor que o das gargalhadas deitadas na cama – o som de gargalhadas deitadas é uma das coisas mais intimas que já senti. Posso ser eu aqui e permitir que você seja você, daí.

Porque não há mesmo nada melhor a fazer quando o que eu só quero é ficar ao seu lado e, naquele momentinho, naquele pedacinho de tempo, te dar o melhor de mim. . . Inundar o tempo inteiro, em um quadrado de amor infinito.

Mas é que por muitas vezes eu confundi doar com exigir, abraçar com proteger, escutar segredos com sermonear, estar ao lado com fazer algo. Por muito tempo ainda eu pensei que te amar era te mostrar os passos que precisava dar, afinal, quantas bobagens já fez? O quanto do que você mesmo quis já faz parte da sua história? Pensava no absurdo que isso significa e me prontificava a impedir.

Achei mesmo que precisava exigir que pisasse onde eu já pisei, onde eu piso, pois assim, seria mais fácil. Seria mais seguro te dar o meu amor. Mas descobri que não, que não é. Que assim eu não dou ou tenho amor, só tenho segurança; obviamente. E a segurança não me preenche o peito, não gargalha na cama, não aceita velhos cafés, não para pra sentir, não se entrega ao vínculo que se forma. Ela analisa e exigeu repetir o que já é conhecido, sem experimentar, sem considerar quem é você. E assim, sem te perceber não posso me relacionar. E fico só.

Mas agora, eu posso fazer diferente, posso fazer o que verdadeiramente quero. E quero te dar o meu amor inteiro, por qualquer pedaço de momento em que nos encontrarmos. E assim, eu posso seguir com o meu coração cheio, plena.


Por: Paula Jácome