SÓ ISSO
Então
é só isso?
-
É, é só isso.
Um
dia eu cansei de distribuir sorrisos por aí e resolvi parar e esperar os
sorrisos que eu receberia de volta. Não que os meus (sorrisos) fossem puros e
límpidos e brilhantes, eles também guardam seus segredos e dores, mas é que meu
coração é muito especial pra ser desperdiçado a qualquer custo. E isso é
verdade.
Eu
fiquei parada e esperei. Deixei de fazer cambalhotas pra ser querida, admirada,
amada. Experimentei o vazio. Paguei o preço da tristeza de ver que muitos dos
que estão a minha volta estão, tanto quanto eu, só querendo receber sorrisos.
Interessados em se mostrar pro mundo… Somos incrustados (em nós mesmos) pra
olhar pro lado.
Eu
quis consertar as pessoas. Percebia que algumas eram incapazes de andar, outras
de falar, e outras de amar. Todas aquelas que se colocavam à minha volta, eu
queria porque queria, porque queria que aprendessem as artes do amor
incondicional. Fossem ninjas luminosos. Quis impor que aprendessem a amar.
Brigava com elas por isso. Gritava bem alto:
-
Ame! Ame! Ame-me! Me ame…
Pra
quê? Agora parada eu me pergunto. Para quê? (os porquês, as justificativas
inventadas pra tornar os fatos engolíveis, também já me cansaram. É como comer
só alface com um molho delicioso… Mas o que estou comendo nunca deixou de ser
só alface).
Para
que me vissem, para que me amassem, para que fizessem tudo por mim. Essa é a
resposta. Pra que o meu conto de fadas fosse a meu modo, do meu jeito, aquele
que eu imaginei que seria o melhor, o mais legal pra se viver. Pra que meu
mundo fosse cheio de borboletinhas e flores coloridas espalhadas por aí,
voando, com as pessoas-coisas em volta sorrindo e se ajudando e se
adorando!(porque se não deixo as pessoas serem elas mesmas diante de mim, não
são pessoas, são coisas pra mim)
E
eu ficava girando e brigando e me cansando e fingindo que isso iria acontecer.
Que as pessoas iriam mudar, que tudo ia se transformar no MEU perfeito conto de
fadas.
Pra quê? Hoje,
parada, eu me pergunto. Para quê? Pra que EU não precisasse mudar nada? Pra que
eu não precisasse dar nada de mim? Acho que sim. E, mais uma vez, é triste
assim…
Acho
que em algum ponto eu me cansei também do meu próprio conto de fadas, das
ilusões que inventei sobre a tal vida perfeita e extraordinária. Do esforço
espremido e angustiado que fazia pra acreditar no que inventei. Em algum
momento eu parei pra olhar o que estava realmente acontecendo.
E, DEPOIS DA
TRISTEZA E FRUSTRAÇÃO DE VER SE DESMANCHANDO O MEU CASTELO DE AREIA… SÓ ME
RESTOU A BELEZA. A BELEZA QUE DESABROCHA TODOS OS DIAS DIANTE DE MIM. A REAL
BELEZA DO MAR, VIDA, QUE DESMANCHA CASTELOS DE MENTIRA, CONSTRUÍDOS DEPOIS DE
HORAS E HORAS DE ESFORÇO ABAIXO DO SOL QUENTE. CASTELOS BONITOS ATÉ, MAS
INCOMPARÁVEIS, INCOMPATÍVEIS, COM O EXTRAORDINÁRIO DO AZUL PROFUNDO E INFINITO
DO MAR-E-CÉU NO HORIZONTE.
-
Então, é só isso?
-
É, é só isso.
Não existem grandes
sensações, grandes conquistas, grandes loucuras, grandes pessoas. No fim, no
início e no meio, somos mesmo é todos iguais, com apenas algumas
peculiaridades, idiossincrasias. É só isso mesmo. Mas é Belo.
Por: Paula Jácome - http://chaentreamigas.com.br/