terça-feira, 4 de novembro de 2025

MESMO LUGAR

 


MESMO LUGAR

Ao despertar deparei-me com a sensação de estar no mesmo lugar. Enraizada em ciclos, modinhas, vitrines, exposições, problemáticas, crenças, dores, morte, renascimento, exclusão, ciclos viciosos e sobrevivência.

Não consegui fazer o que havia programado, diversos fatores externos me incomodaram, mas a verdade é que os fatores não são externos, e sim, internos. Por mais que exista uma sorriso na face, uma gargalhada estonteante, uma vontade imensa de viver e aproveitar todos os segundos, existe um vazio um buraco, que por mais que eu lute, nunca é preenchido.

Acabei me envolvendo em arrumação, ambiente bagunçado é sinônimo de mente barulhenta, desequilíbrio emocional, ou sei lá... pode ser apenas TOC, mas nesta cabeça que sobrevive a transtornos mistos, limpeza e a rotina são importantes para uma mente equilibrada, acho que aprendi isso com os japoneses, com seus famosos 5s.

Ligo o som e me deparo com Jão. Amo o Jão! Ser comparado pela mãe do Cazuza como o Cazuza da atualidade é uma responsabilidade sem precedentes. Jão começou aos 18 anos, e aos 24 anos me deparei com o seu último show. Lindíssimo diga de passagem, um estádio inteiro com uma juventude cantando e chorando os seus versos... Ao fim do show Jão disse: “está é a minha última turnê, acredito que não amadureci, escrevo e falo as mesmas coisas desde dos 18 anos, preciso amadurecer”.

Levei um soco no estômago e fiquei com isso na cabeça o dia inteiro. Fui atrás do primeiro texto que escrevi: O anseio pela outra metade. Escrevi para o meu irmão. Ele havia acabado de se acidentar e eu fiquei do lado dele o tempo todo nas primeiras 24 horas. Sentada naquele caixão frio (era assim que chamava o HMC), me coloquei em estado meditativo e em oração, suplicando pelo meu irmão. Na época estava lendo algum livro de filosofia...

Neste sentido me dispus a comparar o meu último texto, com aquele primeiro texto tão distante. O último e o primeiro mencionam a mesma coisa, mas com emoções distintas.

Talvez, assim como Jão, não tenha amadurecido, por mencionar o amor todas as vezes que escrevi, fato é que o vocabulário era mais rico, formal, informativo, enfadonho como textos jurídicos, elitizado e extremamente intelectualizado... me dei conta que mudei, talvez tenha me tornado uma adolescente de meio século com uma linguagem coloquial, informal, nada informativa e muito mais emotiva... e está tudo bem...

Observação: não revisei o texto acima, uma vez que a imperfeição faz parte.

Meu primeiro texto:

 

O ANSEIO PELA OUTRA METADE

Embora queira ficar com você dia e noite, nada muda no Ano Novo!

Apesar do Ano Novo ser tradicionalmente um momento de recomeço, o que quer que esteja me afastando parece ser um obstáculo permanente. Mesmo assim a minha necessidade por ele não é menor.

 

Ah o AMOR!

 

Para uma pessoa que está amando parece intuitiva e clara: pensamos que sabemos o que significa amar sem ter que analisar. Mas quando refletimos melhor, o verdadeiro significado do “termo amor“ torna-se mais difícil de definir.

O quê significa para um ser humano dizer que o amor é essencial para a vida?

O amor talvez seja o nosso anseio pela outra metade; particularmente significa muito mais.

 

Aristofanes1 conta uma história acerca da origem da humanidade, que revelaria a natureza do amor. Em tom de humor, ele sugere que houve uma época em que não existiam dois sexos, mas sim três: seres masculinos, femininos e andrógenos, que possuíam órgãos sexuais de ambos os sexos. Os seres humanos costumavam ter quatro braços, quatro pernas e dois rostos; eram criaturas redondas que se moviam dando cambalhotas pelo chão. Como os Deuses viam nos seres humanos uma ameaça, decidiram que um modo de limitá-los seria cortando-os pela metade; por isso, cada ser humano foi dividido em dois. Cada parte que constitui o presente estado da humanidade é apenas a metade da criatura original, sempre em busca da sua outra metade. O AMOR consiste em encontrar o resto de nós mesmos; nós, em nossa condição, não somos inteiros. Quando alguém encontra sua “outra metade”, Aristófanes diz:

 

“Essas pessoas são magnificamente tocadas por um senso de amizade e familiaridade e Eros2, e nunca mais querem se separar, nem por um instante. Essas pessoas são as pessoas que passam a vida toda ao lado uma da outra, mas sequer são capazes de dizer o que desejam para si, estando com o outro. Não se pode pensar que é por causa da relação sexual que duas pessoas amam estar juntas. É, na verdade, a alma de cada um que deseja claramente algo mais, que não é capaz de expressar com palavras; ela sente o que precisa e, ainda que de modo obscuro, intui tal coisa”.

 

Cada um de nós é incompleto sozinho e precisa ser amado para ser inteiro novamente. Nenhum ser humano é auto-suficiente; pelo contrário, todos nós temos a necessidade de uma pessoa que nos complete.

 

Existem pessoas que usam a imagem do amor romântico e o desejo de reencontro com a pessoa amada para descrever um problema político fundamental.

 

Percebo que o “AMOR” tem abrangência muito maior do que pensamos. Podemos amar não apenas uma pessoa; mas a família, os amigos, um país, um povo, os animais, a natureza, um esporte, a humanidade, o trabalho, a caridade, a paz a justiça social etc.

 

Considerar o amor romântico a única forma de amor é insuficiente.

 

Com amor não há violência, ele possui virtudes clássicas de justiça, temperança, moderação e sabedoria.

 

Ame o próximo.

 

Inspiração e dedicação: Víctor Nelson R. L. Carazza

 

 

1 - Aristófanes, em grego antigo Ἀριστοφάνης, (c. 447 a.C. - c. 385 a.C.) foi um dramaturgo grego. É considerado o maior representante da Comédia Antiga.Nasceu em Atenas e, embora sua vida seja pouco conhecida, sua obra permite deduzir que teve uma formação requintada. Aristófanes viveu toda a sua juventude sob o esplendor do Século de Péricles. Aristófanes foi testemunha também do início do fim daquela grande Atenas. Ele viu o início da Guerra do Peloponeso, que arruinou a hélade. Ele, da mesma forma, viu de perto o papel nocivo dos demagogos na destruição econômica, militar e cultural de sua cidade-estado. À sua volta, à volta da acrópole de Atenas, florescia a sofística -a arte da persuasão-, que subvertia os conceitos religiosos, políticos, sociais e culturais da sua civilização. Conta-se que teve dois filhos, que também seguiram a carreira do pai.

2 - Eros ( do grego antigo : Ἔρως , "Sexo Amor"), na mitologia grega , era o deus primordial do amor sexual e beleza. Ele era também adorado como uma divindade da fertilidade. Seu Romano contrapartida foi o Cupido ("desejo"), também conhecido como Amor ("amor"). Na Teogonia de Hesíodo faz dele um deus primordial, enquanto em alguns mitos, ele era o filho das divindades Afrodite e Ares. Em Platão, Simpósio, ele foi concebido pelo Poros (abundância) e Penia (Pobreza) com o aniversário de Afrodite. Como Dioniso, era algumas vezes referido como Eleutério, o "libertador".

 

Por: Lucileyma Carazza, em 18/12/2010.