Monstro Interno
Pergunta do filho de oito anos hoje na hora do almoço:
- Mãe, você sabe o que é id?
- Sei, onde você viu isso?
- Numa historinha e no desenho animado.
- E você, sabe o que é?
- Sei. É o nosso monstro interno.
- É – me esforçando pra não me espantar demais – o id é a parte da nossa personalidade que a gente tenta esconder. E tem também o ego e o super ego.
- Eu sei… E o que é isso?
- Ego é a parte que a gente mostra pros outros, super-ego é como a sociedade espera que a gente se comporte. Normalmente, o nosso ego se adapta ao super-ego.
- Hummm… E porque a gente não mostra todas as nossas partes pra lá?
- Porque a gente precisa ser aceito pelos pais, pela familia, pelos amigos, pela sociedade. Então, a gente reprime as características que a gente tem que vão contra o ambiente que a gente vive.
- O que é reprimir?
- É diminuir, tentar encolher. Na verdade a gente tenta que essas caracter[isticas sumam, desapareçam, mas como não tem jeito, a gente esconde elas dentro de uma caixinha, lá dentro da nossa cabeça. Por exemplo, você gosta de tomate, não é?
- É.
- Pois é, se eu falar que você não pode comer tomate porque tomate é muito, muito ruim e que eu te impeço de comer tomates para sempre, como você vai se sentir?
- Com raiva, com muita raiva.
- Isso. E vai tentar esconder a raiva. Certo?
- Certo.
- E quando você vir um tomate, o que vai fazer? Vai comer um pedacinho como está fazendo agora ou vai comer o tomate inteiro?
- Vou engolir o tomate inteiro, pois vou estar com muita vontade de comer um tomate e não vou poder.
- Viu? É assim que forma o id. Todas as vontades reprimidas que a gente tem são guardadas num canto da nossa cabeça e, além disso, a gente fica com raiva do que não pode fazer.
- É… No desenho o id tem sede de vingança.
- É. Ele se vinga por não se permitir ser ele mesmo. Se a gente agir naturalmente, se comer um pouquinho de tomate de vez em quando, se a gente se permitir um pouco, a gente vai ter menos raiva e ser mais livre e feliz. E vai se aceitar mais…
- É… As pessoas precisam falar mais o que elas pensam, fazer mais coisas que elas gostam… Pra ficar com menos raiva, porque se não, a raiva vai juntando e um dia explode.
- É… Isso mesmo filho.
Ele saiu e foi me desobedecer lá no quintal. Eu levantei pasmada dele perguntar e entender tudo isso. Que nem eu sei bem se entendo direito. E, orgulhosamente, me pergunto:
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM ESSAS CRIANÇAS HOJE? QUE JÁ NASCEM SABENDO?
Eu juro que é tudo verdade