Muito bem, quando nos deparamos com questões problemáticas como essa do besouro, há dois métodos que devemos seguir para que possamos responder a esta questão: 1) O mais fácil (alguém deu essa capacidade ao besouro por vias mágicas); 2) O modo mais difícil (estudar, pesquisar e observar o mundo natural, sem ideias pré-concebidas).
O item número (1) é tentador, pois mexe com a preguiça mental, já que, para algumas pessoas, o ato de pensar é extremamente trabalhoso. Para essas pessoas, pensar dói! Para os que não sofrem desse mal, o método (2) vem a calhar, embora demore para chegar à conclusão final, às vezes.
Bem, voltando ao cerne do artigo, não há nada de milagroso no fato de besouros poderem voar. pelo contrário. A causa do mistério é o fato de se fazer duas observações distintas: o besouro andando numa folha, todo fechadinho, e depois observando voar, sem saber como fica a configuração do seu corpo. O mecanismo que permite que os referidos insetos voem não é apenas um único par asa, como os pombos,mas sim dois pares, movidos por um poderoso sistema muscular. O primeiro par de asas são chamados “élitros” e estão situados na parte superior. Tais asas são bastante duras e funcionam como uma espécie de invólucro quando estão fechadas; por isso, parece que eles só têm apenas asas finas, pois os élitros fechados parecem formar uma carapaça (e de certa maneira formam).
O segundo par de asas ficam protegidos pelos élitros. Este segundo par é um tanto diferente, pois é membranoso e sustentado por várias nervuras. É este par de asas que vemos bater e pensamos que é são as únicas asas que o cascudão possui, quando não é bem assim.
Os élitros não funcionam bem como uma asa, pois devido à sua constituição, é muito difícil que eles fiquem “batendo”, logo, servem para direcionar o voo, além de dar equilíbrio ao funcionar como um parapente. Ao dar início ao voo, o besouro abre os élitros e toma impulso com as pernas, isto é, o voo começa da mesma maneira que um salto de asa delta, onde o besouro sai planando por um tempo até que as asas membranosas comecem a bater. Como besouros não são tão idiotas quanto a gente pensa, eles aproveitam as correntes aéreas para voar mais rápido, pois vento de cauda é muito eficaz para impulsionar, mesmo não tendo cauda.
Quando você vê o besouro subindo numa árvore, obviamente, nunca pensaria que ele possui aerodinãmica suficiente para voar. Claro, ele não possui… nessa configuração. Quando ele toma impulso e começa seu voo, com os élitros abertos e as asas membranosas batendo, o cascudão de tanque de guerra vira um bimotor, com uma configuração ilustrada abaixo (clique para ampliar).
Dessa forma, podemos ver que sim, nossos amigos coleópteros possuem aerodinâmica e, não, não existe esta baboseira de “Leis da Aerodinâmica”. O que existe são as Leis do Movimento, propostas por um certo inglês temperamental de nome Isaac Newton, mas que podem ser aplicadas a qualquer corpo em movimento – não exclusivamente a objetos em voo – e que foram estudadas em um ensino médio decente. Portanto, não há mistério nenhum sobre o voo do besouro. O que existe é uma tendência a implicar dificuldade em tudo, preguiça para descobrir o que está acontecendo, culminando em atribuir a entidades místicas um evento que pode ser simples e facilmente explicado por pura observação e estudo do objeto em questão.