Nada vai ficar
perfeito. Por mais que cuidemos de todos os detalhes em nossa vida, nada
vai ser perfeito, do jeito que queremos, diante do Universo de infinitas
possibilidades que está o tempo todo diante de nós. E, ademais, o que é a
perfeição se não uma ilusão acerca do que é certo ou errado, bom ou ruim? O que
é a perfeição se não uma falta de aceitação da realidade? Um julgamento a
respeito da vida?
E, o problema desse
julgamento que fazemos o tempo todo, sobre tudo que acontece, é que escolhemos
uma parte para ser a certa e a boa, e eliminamos a outra. Jogamos fora mais da
metade da pizza. Nos desfazemos de características, excluímos pessoas, perdemos
oportunidades, afastamos boa parte da vida pra manter uma ideia – veja bem, um
pensamento – de perfeição. Um pensamento não pode ser a realidade, não pode
minimamente perceber tudo o que está acontecendo em cada situação, em cada
momento. Um pensamento é uma interpretação da realidade. Ajuda, mas também é
fragmentado e limitante.
O julgamento a
respeito do comportamento dos outros é o que mais nos afasta do amor. O
julgamento a respeito do nosso comportamento é o que mais nos afasta de nós
mesmos. O julgamento a respeito de onde a vida nos coloca, nos limita o tempo
todo.
Nós, por exemplo,
fugimos da dor. A dor é um aviso sobre algo que machuca quando fazemos. Se eu
ponho a mão no fogo, sinto dor porque queima. Se me anestesio, posso ficar sem
a mão, ou sem mim inteiro! Mas se sinto a dor e vejo o que está machucando,
posso parar de fazer o que está causando o sofrimento. Posso parar de me
machucar.
A tristeza, então, é
tão bela… Todas as vezes que estamos diante de uma tristeza, desviamos o
assunto, saímos de perto, tentamos fazer algo pra consertar a situação. Mas
sentir a tristeza, nem pensar. Só que da tristeza, nasce a compaixão… E, se nos
afastamos, perdemos uma parte do que é Divino em nós. Nos perdemos, perdemos o
outro. Diante da tristeza, temos a oportunidade de nos compadecer…
Um sentimento que
sofre muito preconceito, por exemplo, é a raiva. Abandonamos diariamente o
contato com ela, pois pensamos que temos que parecer bonzinhos pra todo mundo
gostar da gente. Mas a raiva é um sentimento muito útil. Faz com que nos
defendamos, com que possamos ser firmes a respeito do que queremos, do que
gostamos… Impede que pessoas sejam cruéis ou levianas conosco e com o mundo ao
nosso redor. Penso que nos torna mais íntegros, se usada com parcimônia.
Fazemos isso de
criar conceitos a respeito das coisas, pra nos proteger. O que não está errado
também. Mas acho importante ter conhecimento disso, saber que nem tudo é do
jeito que imaginamos. Que precisamos dar um espaço antes de tomar uma decisão a
respeito de uma atitude diante da vida, de uma pessoa, de um sentimento que
seja! Precisamos aprender a dar espaço, pra que possamos agir realmente, pra
que paremos de somente reagir ao que está há séculos na nossa cabeça- já que a
maioria desses conceitos já está aí antes da gente.
Creio que podemos
começar a nos perguntar a função das coisas, esperar pra agir diante delas.
Acabar com essa ideia quase louca de que compreendemos o mundo e que
podemos fazer alguma coisa para consertá-lo, controlá-lo, nos defender dele,
das pessoas também, e de nós mesmos. Fazer isso, só gera stress, ansiedade,
pânico. Pois, na verdade, sabemos que é impossível. Somo pequenos, minúsculos.
Uma poeirinha sagrada.
“Então, não se
preocupe se você está certo ou errado. Se puder parar de se punir, já está
ótimo.” (Sri Prem Baba)