Posted on 24/07/2014 by Paula Jácome
Negamos nossos sentimentos… O dia inteiro.
Entendemos, não sei por que exatamente em algum momento da história, que
existem sentimentos negativos e positivos. Como se classificássemos as cores em
boas e más:” – Olha, escolhe o azul pra pintar a sua casa, pois o vermelho é
uma cor muito malvada… “ Vermelho é só vermelho, azul é só azul! Alegria,
tristeza, raiva, amor, são só sentimentos. Não estão aí para temê-los, ou
esconde-los, ou nos envergonharmos deles, mas para nos indicar algo.
Sentimentos são como a música que o coração toca para sinalizar o caminho que
precisamos seguir, que queremos seguir. Pra sinalizar quem nós somos.
E, pior, agimos como se fosse realmente
possível escolher como nos sentimos. Acordamos tristes e passamos o dia a jogar
confete nas pessoas à nossa volta. Guardamos a tristeza em uma caixinha preta
bem no fundo do nosso coração e seguimos fingindo que nada está acontecendo.
Até o dia em que essa caixinha enche, estoura, e, aí, não conseguimos mais
controlar nada… Então não me admira a quantidade de gente deprimida… A quantidade
de crimes, a ira das pessoas.
Ninguém fala o que precisa ou como se sente
e fica fingindo o tempo todo que está tudo bem. Eu me pergunto, para que? Pra
mostrar que sou a pessoa mais fantástica do mundo e pra todo mundo gostar de
mim, eu me desrespeito o tempo todo? Eu não acolho como me sinto? Eu passo a
vida expressando algo que não sou? Ou não estou? Pois os sentimentos são
temporários. E, cada um tem a sua função. Eles indicam o que gosto, o que
não gosto, se estou me sentindo invadido, ou querendo mais.
A raiva, por exemplo, serve para nos
proteger. Pra colocar limites, pra expressar um descontentamento. Se usamos a
raiva com atenção, e, proporcionalmente ao fato que está acontecendo, temos uma
grande aliada da felicidade. Pois ninguém é feliz sendo invadido e abusado e se
sentindo desvalorizado o tempo todo.
Já a tristeza, pra mim, tem uma função de
honrar o que é importante pra nós. De nos mostrar onde está a nossa dor, do que
precisamos abrir mão, nos ensina a dar valor ao essencial, muitas vezes depois
que já perdemos…
E, quando não assumimos nossos sentimentos,
não aprendemos a lidar com eles. Se guardamos toda raiva que sentimos, como
vamos saber a medida quando nos irritarmos? Será que usaremos na medida certa?
Creio que não. Creio que qualquer fagulha explodirá o barril inteiro.
Penso que reprimir como nos sentimos não nos
ajuda a sermos pessoas melhores, vejo isso como uma ilusão da geração
auto-ajuda. Acho que o que realmente nos ajuda é assumir quem somos e nos
respeitar, assumir como estamos agora e deixar passar. Ser verdadeiro nem que
seja só conosco mesmo. Acredito que doses homeopáticas de sentimentos,
demonstrados de acordo com cada momento da vida, podem nos deixar, e ao nosso
redor, melhor, mais inteiros, com auto-estima verdadeira, pois, de onde vejo,
quando nos mostramos, estamos nos valorizando.
Claro que se persistirem os sentimentos que
causam desconforto, um médico deverá ser consultado.