quinta-feira, 18 de setembro de 2014

À FALTA


À FALTA
Publicado em 18/09/2014 por Paula Jácome

Nós somos carentes. Sentimos falta, porque somos incompletos. E, ao mesmo tempo que isso é dolorido, pois precisamos do outro. É uma benção, pois precisamos do outro. Isso mesmo. É dolorido e ao mesmo tempo, uma benção.

Dolorido, pois tantas vezes nos machucamos ao pedir, tantas vezes não recebemos o que precisamos, tantas vezes precisamos enfrentar essa fragilidade trágica dos nossos corações… De se entregar e cair sem saber se há rede de proteção. Essa fragilidade de poder, à qualquer momento, estatelar a cara no chão. Essa nossa pequenez de precisar. Que nos leva à grandeza de pedir.

E, ao mesmo tempo, a mesma falta é o que nos leva a nos relacionar, a estar ao lado, a nos doar. É o que nos leva a sermos gentis, a abrir mão de nossos instintos mais tenebrosos e do nosso egocentrismo. Pois, afinal de contas, precisamos uns dos outros. Se eu preciso poder contar com você, você também deve poder contar comigo.

E, nesse paradoxo, caminhamos. Quando não decidimos nos fechar, nos esconder, fingir que somos só, pura e simplesmente perfeitos-autossuficientes-gentis, que não precisam de nada ou de ninguém pra sermos felizes. Que damos conta, de tudo e do todo sozinhos. E, caímos assim numa necessidade insana de controlar a tudo e a todos, pois não confiamos. Porque temos medo, porque estamos apavorados de que vejam a nossa fragilidade, que percebam a nossa necessidade, que muitas vezes, nós mesmos, não queremos olhar. E, pagamos aqui, o preço da solidão… E a conta dos antidepressivos da farmácia.

A verdade é que, tirando os Oshos da vida, todos nós precisamos. De abraço, de carinho, de aconchego, de cheiro, de cheirar, de beijo, de briga (brigar as vezes é demonstração de carinho e amor), de companhia pra ir no cinema, de jantar com a mesa farta de sorrisos, de alguém pra nos dizer o quanto engordamos, que precisamos estudar mais, trabalhar menos, alguém pra nos chamar de volta. De volta pro que é essencial, de volta pra onde está o nosso coração.

Afinal, a gente não se enxerga! À não ser diante do espelho, quando somos somente uma imagem projetada, cheia de poses. Mas, não nos enganemos, o mundo nos vê.

Eu acho que só nos relacionamos, só somos capazes de nos relacionar amorosamente, quando somos capazes de estar diante da nossa falta. Da nossa carência. Quando somos capazes de assumir o que precisamos do outro e suportamos estar neste lugar vulnerável, onde estamos à mercê, onde confiamos. E confiamos apesar do medo, apesar de saber que vamos nos machucar. Pois vamos nos machucar. Isso é inevitável. Não existe feliz pra sempre. Eu, inclusive acho que, pra ser feliz, é preciso aceitar que viver dói. Que não há como passar pela vida sem sentir alguma dor, sem ser frustrado. Isso é infantil.

A verdade é que precisamos. Precisamos de alguém pra amar