IGUALDADE
E SOLITUDE
Poucas pessoas ficam a sós com a própria
experiência. A maioria tem medo disso. A ironia é que as pessoas que estão
sozinhas não se sentem sozinhas. E aquelas que não estão, sentem-se solitárias.
Os solitários buscam companhia, no entanto,
a companhia não é possível, pois eles não descobriram ainda quem são.
O eu é um território inculto. Deixe-o
inexplorado e cidades serão construídas ali.
Explore-o corajosamente e a intimidade passa
a ser possível.
A verdadeira igualdade requer individuação.
Até que você conheça os contornos do seu próprio coração, não conseguirá
conhecer os do outro. Se deixar a sua casa antes do tempo, você buscará um lar
em vão. Você encontrará uma mãe em vez de uma esposa, um pai em vez de um
marido.
Quando encontra a sua casa, você a leva com
você para onde for. Primeiro encontre a sua casa e depois procure uma
companhia.
Descubra quem você é, não com base na
definição de outra pessoa, mas de acordo com a sua própria. Reflita sobre essa
definição antes de aceitá-la. Esteja presente de corpo e alma. Explore as dunas
que se avolumam na beira do mar. Sinta o sal no rosto e caminhe na praia quando
a maré baixar. Veja todas as formas de vida, todas as possibilidades, o jogo do
pensamento e da emoção, quando a mar volta a subir. Conheça a si mesmo.
Não se perca neste mundo antes de saber quem
você é, do contrário, suas chances de despertar diminuirão muito. O mundo só
ficará feliz se der a você um papel e uma responsabilidade. As outras pessoas
só ficarão felizes se lhe atribuírem um papel no drama delas.
Vamos admitir, alguns papéis são sedutores.
Eles prometem tanto! E difícil dizer não.
“Cuide de mim, eu só tenho você” ou então:
“Deixe para trás esse território deserto e solitário e venha viver comigo. Vou
ama-o e cuidar de você.”
São essas as palavras que as crianças sem
lar anseiam por ouvir. A vida passa a ter rumo. O pai que faltava se
materializa. Tudo vai ficar bem. Será?
É bem difícil! E desse modo que o eu é
traído, isto sim! E assim que o terreno inculto é pavimentado, perde sua
cobertura verdejante e vê seu céu ser invadido. Chame isso de domesticação, de
tecnologia, de progresso. É qualquer coisa menos isso.
A pessoa sem lar é sempre cruel e desumana
ao construir seu lar. Ela nunca tem compaixão pelo seu ambiente nem leva em
conta o bem-estar das outras pessoas. Ela simplesmente extravasa a sua raiva e
a sua dor.
Tente viver com alguém antes de aprender a
viver consigo mesmo e você terá apenas um arremedo de relacionamento. Ele não
dará certo.
Primeiro, encontre um lar dentro do seu
coração.
Só aquele que conhece e aceita a si mesmo
pode viver com outra pessoa em pé de igualdade. Do contrário, a pessoa dará o
seu poder para a outra.
O fato de um relacionamento não dar certo
nunca é culpa de ninguém. Todo relacionamento acaba por um único motivo:
infidelidade com relação a si mesmo.
Se você não confiava em si mesmo ao entrar
num relacionamento, como é possível que confie agora, que vive com outra
pessoa? Veja, ela não tem culpa. Vocês dois simplesmente concordaram que a
tarefa de respeitar a si mesmos estava muito difícil, solitária. Vocês optaram
por dormir juntos. Logo vocês descobriram que dormir juntos não é nada do que
vocês esperavam que fosse. Vocês acordaram e se perguntaram, “Por que eu
troquei uma ilusão por outra. A ilusão original era solitária, mas também era
mais simples”.
Você simplesmente mudou de direção, fez uma
manobra de atraso.
Saiu do sono solitário e passou a dormir ao
lado de outra pessoa. Mas o desafio verdadeiro para você não era dormir, mas
acordar. A menos que você assuma o compromisso de acordar, tudo o que os outros
podem lhe oferecer são desvios, excursões infrutíferas, corridas sem sair do
lugar. O tempo vai passando e nada muda. A dor não diminui. A velha
insatisfação permanece.
Com o tempo, você percebe que tem de olhar
para essa insatisfação. Ela parece estar relacionada com as circunstâncias da
sua vida, mas teima em não desaparecer mesmo quando essas circunstâncias mudam.
Os lençóis foram trocados, mas a cama ainda
está bamba. O problema não é aparente. Não é superficial. Ele está nos próprios
alicerces. E ali que ele tem de ser tratado. São os alicerces que precisam ser
escorados.
A sua insatisfação diz uma coisa e nada
mais: “Você não está se respeitando”. Se estivesse, haveria energia e
compromisso em atingir uma meta em sua vida. Você não estaria entediado. Não
estaria se sentindo solitário. Não estaria ansioso para trocar o seu sonho pelo
de outra pessoa.
Você, meu irmão ou irmã, foi quem optou pelo
desvio. Não culpe a pessoa que caminha ao seu lado. Não é culpa dela. E também
não é culpa sua.
Foi simplesmente a sua escolha. Não se
condene por isso. Faca uma escolha diferente. Escolha respeitar a si mesmo,
viver de corpo inteiro.
Faca a corajosa escolha de viver sozinho.
Ficar sozinho significa ficar totalmente consigo mesmo. Significa “Se bastar”.
Significa que todos os aspectos do eu aprenderam a agir com coerência e a
dançar em conjunto ao redor do centro.
Quando estiver residindo por completo na sua
vida, você se sentirá atraído pela companhia de outras pessoas que estão
fazendo o mesmo. Você não terá mais que desistir da sua própria vida para viver
a de outra pessoa. Ambos podem viver a própria vida e sentir como é ficar
junto. Esse é o inicio de uma dança diferente. Mas trata-se de uma dança que só
pode começar se a pessoa for coerente e dançar de acordo com a sua própria
verdade.
Paul
Ferrini no livro: O Silêncio do Coração e As 12 Etapas do Perdão – Por Sérgio
Condé