segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

IGUALDADE E SOLITUDE


IGUALDADE E SOLITUDE

Poucas pessoas ficam a sós com a própria experiência. A maioria tem medo disso. A ironia é que as pessoas que estão sozinhas não se sentem sozinhas. E aquelas que não estão, sentem-se solitárias.

Os solitários buscam companhia, no entanto, a companhia não é possível, pois eles não descobriram ainda quem são.

O eu é um território inculto. Deixe-o inexplorado e cidades serão construídas ali.

Explore-o corajosamente e a intimidade passa a ser possível.

A verdadeira igualdade requer individuação. Até que você conheça os contornos do seu próprio coração, não conseguirá conhecer os do outro. Se deixar a sua casa antes do tempo, você buscará um lar em vão. Você encontrará uma mãe em vez de uma esposa, um pai em vez de um marido.

Quando encontra a sua casa, você a leva com você para onde for. Primeiro encontre a sua casa e depois procure uma companhia.

Descubra quem você é, não com base na definição de outra pessoa, mas de acordo com a sua própria. Reflita sobre essa definição antes de aceitá-la. Esteja presente de corpo e alma. Explore as dunas que se avolumam na beira do mar. Sinta o sal no rosto e caminhe na praia quando a maré baixar. Veja todas as formas de vida, todas as possibilidades, o jogo do pensamento e da emoção, quando a mar volta a subir. Conheça a si mesmo.

Não se perca neste mundo antes de saber quem você é, do contrário, suas chances de despertar diminuirão muito. O mundo só ficará feliz se der a você um papel e uma responsabilidade. As outras pessoas só ficarão felizes se lhe atribuírem um papel no drama delas.

Vamos admitir, alguns papéis são sedutores. Eles prometem tanto! E difícil dizer não.

“Cuide de mim, eu só tenho você” ou então: “Deixe para trás esse território deserto e solitário e venha viver comigo. Vou ama-o e cuidar de você.”

São essas as palavras que as crianças sem lar anseiam por ouvir. A vida passa a ter rumo. O pai que faltava se materializa. Tudo vai ficar bem. Será?

É bem difícil! E desse modo que o eu é traído, isto sim! E assim que o terreno inculto é pavimentado, perde sua cobertura verdejante e vê seu céu ser invadido. Chame isso de domesticação, de tecnologia, de progresso. É qualquer coisa menos isso.

A pessoa sem lar é sempre cruel e desumana ao construir seu lar. Ela nunca tem compaixão pelo seu ambiente nem leva em conta o bem-estar das outras pessoas. Ela simplesmente extravasa a sua raiva e a sua dor.

Tente viver com alguém antes de aprender a viver consigo mesmo e você terá apenas um arremedo de relacionamento. Ele não dará certo.

Primeiro, encontre um lar dentro do seu coração.

Só aquele que conhece e aceita a si mesmo pode viver com outra pessoa em pé de igualdade. Do contrário, a pessoa dará o seu poder para a outra.

O fato de um relacionamento não dar certo nunca é culpa de ninguém. Todo relacionamento acaba por um único motivo: infidelidade com relação a si mesmo.

Se você não confiava em si mesmo ao entrar num relacionamento, como é possível que confie agora, que vive com outra pessoa? Veja, ela não tem culpa. Vocês dois simplesmente concordaram que a tarefa de respeitar a si mesmos estava muito difícil, solitária. Vocês optaram por dormir juntos. Logo vocês descobriram que dormir juntos não é nada do que vocês esperavam que fosse. Vocês acordaram e se perguntaram, “Por que eu troquei uma ilusão por outra. A ilusão original era solitária, mas também era mais simples”.

Você simplesmente mudou de direção, fez uma manobra de atraso.

Saiu do sono solitário e passou a dormir ao lado de outra pessoa. Mas o desafio verdadeiro para você não era dormir, mas acordar. A menos que você assuma o compromisso de acordar, tudo o que os outros podem lhe oferecer são desvios, excursões infrutíferas, corridas sem sair do lugar. O tempo vai passando e nada muda. A dor não diminui. A velha insatisfação permanece.

Com o tempo, você percebe que tem de olhar para essa insatisfação. Ela parece estar relacionada com as circunstâncias da sua vida, mas teima em não desaparecer mesmo quando essas circunstâncias mudam.

Os lençóis foram trocados, mas a cama ainda está bamba. O problema não é aparente. Não é superficial. Ele está nos próprios alicerces. E ali que ele tem de ser tratado. São os alicerces que precisam ser escorados.

A sua insatisfação diz uma coisa e nada mais: “Você não está se respeitando”. Se estivesse, haveria energia e compromisso em atingir uma meta em sua vida. Você não estaria entediado. Não estaria se sentindo solitário. Não estaria ansioso para trocar o seu sonho pelo de outra pessoa.

Você, meu irmão ou irmã, foi quem optou pelo desvio. Não culpe a pessoa que caminha ao seu lado. Não é culpa dela. E também não é culpa sua.

Foi simplesmente a sua escolha. Não se condene por isso. Faca uma escolha diferente. Escolha respeitar a si mesmo, viver de corpo inteiro.

Faca a corajosa escolha de viver sozinho. Ficar sozinho significa ficar totalmente consigo mesmo. Significa “Se bastar”. Significa que todos os aspectos do eu aprenderam a agir com coerência e a dançar em conjunto ao redor do centro.

Quando estiver residindo por completo na sua vida, você se sentirá atraído pela companhia de outras pessoas que estão fazendo o mesmo. Você não terá mais que desistir da sua própria vida para viver a de outra pessoa. Ambos podem viver a própria vida e sentir como é ficar junto. Esse é o inicio de uma dança diferente. Mas trata-se de uma dança que só pode começar se a pessoa for coerente e dançar de acordo com a sua própria verdade.

Paul Ferrini no livro: O Silêncio do Coração e As 12 Etapas do Perdão – Por Sérgio Condé