terça-feira, 8 de setembro de 2015

O QUE É MISTICISMO?


Misticismo é a experiencia de que a vida não é lógica, de que a vida é poesia; de que a vida não é silogismo, de que a vida é uma canção. Misticismo é a declaração de que a vida nunca pode realmente ser conhecida; ela é essencialmente misteriosa.

A ciência divide a existência em duas categorias: o conhecido e o desconhecido. O conhecido foi um dia desconhecido; ele se tornou conhecido. O desconhecido é desconhecido hoje; amanhã ou depois de amanhã ele também vai se tornar conhecido. A ciência acredita que mais cedo ou mais tarde vai-se chegar a um ponto de entendimento em que haverá apenas uma categoria: o conhecido, tudo terá se tornado conhecido. O desconhecido está sendo lentamente reduzido ao conhecido.

O misticismo é a declaração de que a vida consiste em três categorias: uma, o conhecido; outra, o conhecido; e a terceira, e a mais importante, é o incognoscível – que não foi conhecido e que nunca será conhecido. E esse é o centro essencial de tudo.

Esse incognoscível pode ser experienciado, mas não conhecido. Não pode ser reduzido ao conhecimento, embora seu coração possa cantar sua canção. Você pode dançá-lo, pode vivê-lo, pode estar repleto e inundado dele – pode estar possuído por ele – mas não poderá conhecê-lo.

E agora há a possibilidade de a ciência e a religião poderem se unir, porque os maiores cientistas também perceberam isso, de uma maneira muito indireta. Por exemplo, Eddington, Einstein e outros chegaram a uma percepção de que quanto mais conhecimento eles têm sobre a existência, mais confusos se sentem, porque quanto mais eles sabem, mais há a saber. Quanto mais eles sabem, mais o seu conhecimento parece ser superficial. Einstein morreu quase um místico; aquele velho orgulho de que “chegará o dia em que conheceremos tudo” desapareceu. Ele morreu de um modo quase meditativo; não morreu como uma cientista, mas mais como um poeta.

Eddington escreveu que “Primeiro costumávamos acreditar que o pensamento é apenas um subproduto” – assim como Karl Marx diz que a consciência é apenas um subproduto de situações sociais – “um subproduto, um epifenômeno da matéria, uma sombra da matéria. Matéria é substância; consciência é apenas uma sombra, muito insubstancial.”

Eddington diz: “Eu também estava perfeitamente convencido” – porque esse era o clima daquela época. Durante três séculos, no Ocidente, a ciência foi aumentando o clima. Eddington cresceu nesse clima, mas finalmente, no final de tudo, em seus últimos dias, ele disse: “Agora as coisas mudaram. Quanto mais eu me aprofundei nas investigações, mais me convenci de que o mundo não consiste em coisas, mas consiste em pensamentos – e a existência se parece menos com matéria e mais com consciência.”
Esta é uma boa notícia; a ciência está se aproximando de um grande entendimento. Esse entendimento está surgindo do seu fracasso em desmistificar a existência.

Mas eu não vejo um entendimento similar surgindo nas chamadas pessoas religiosas. Elas estão ficando bem para trás; estão todas falando à moda antiga e estúpida. Ainda estão obcecadas com os Vedas, o Alcorão e a Bíblia. Não que os Vedas estejam errados ou que o Alcorão ou a Bíblia estejam errados – eles estão perfeitamente certos –, mas estão expressados de uma maneira muito antiga, muito primitiva. Não são capazes de se adequar à ciência moderna. Precisamos de místicos contemporâneos do mesmo calibre de Albert Einstein, Eddington e Planck. Esse é o meu esforço aqui: criar místicos contemporâneos, não eruditos que falem como papagaios sobre os Upanishads e os Vedas. Não, eruditos não servem.


(Osho, em "Conhecimento, Inocência e Encantamento")