Misticismo
é a experiencia de que a vida não é lógica, de que a vida é poesia; de que a
vida não é silogismo, de que a vida é uma canção. Misticismo é a declaração de
que a vida nunca pode realmente ser conhecida; ela é essencialmente misteriosa.
A
ciência divide a existência em duas categorias: o conhecido e o desconhecido. O
conhecido foi um dia desconhecido; ele se tornou conhecido. O desconhecido é
desconhecido hoje; amanhã ou depois de amanhã ele também vai se tornar
conhecido. A ciência acredita que mais cedo ou mais tarde vai-se chegar a um
ponto de entendimento em que haverá apenas uma categoria: o conhecido, tudo
terá se tornado conhecido. O desconhecido está sendo lentamente reduzido ao
conhecido.
O
misticismo é a declaração de que a vida consiste em três categorias: uma, o
conhecido; outra, o conhecido; e a terceira, e a mais importante, é o
incognoscível – que não foi conhecido e que nunca será conhecido. E esse é o
centro essencial de tudo.
Esse
incognoscível pode ser experienciado, mas não conhecido. Não pode ser reduzido
ao conhecimento, embora seu coração possa cantar sua canção. Você pode
dançá-lo, pode vivê-lo, pode estar repleto e inundado dele – pode estar
possuído por ele – mas não poderá conhecê-lo.
E
agora há a possibilidade de a ciência e a religião poderem se unir, porque os
maiores cientistas também perceberam isso, de uma maneira muito indireta. Por
exemplo, Eddington, Einstein e outros chegaram a uma percepção de que quanto
mais conhecimento eles têm sobre a existência, mais confusos se sentem, porque
quanto mais eles sabem, mais há a saber. Quanto mais eles sabem, mais o seu
conhecimento parece ser superficial. Einstein morreu quase um místico; aquele
velho orgulho de que “chegará o dia em que conheceremos tudo” desapareceu. Ele
morreu de um modo quase meditativo; não morreu como uma cientista, mas mais
como um poeta.
Eddington
escreveu que “Primeiro costumávamos acreditar que o pensamento é apenas um
subproduto” – assim como Karl Marx diz que a consciência é apenas um subproduto
de situações sociais – “um subproduto, um epifenômeno da matéria, uma sombra da
matéria. Matéria é substância; consciência é apenas uma sombra, muito
insubstancial.”
Eddington
diz: “Eu também estava perfeitamente convencido” – porque esse era o clima
daquela época. Durante três séculos, no Ocidente, a ciência foi aumentando o
clima. Eddington cresceu nesse clima, mas finalmente, no final de tudo, em seus
últimos dias, ele disse: “Agora as coisas mudaram. Quanto mais eu me aprofundei
nas investigações, mais me convenci de que o mundo não consiste em coisas, mas
consiste em pensamentos – e a existência se parece menos com matéria e mais com
consciência.”
Esta
é uma boa notícia; a ciência está se aproximando de um grande entendimento.
Esse entendimento está surgindo do seu fracasso em desmistificar a existência.
Mas
eu não vejo um entendimento similar surgindo nas chamadas pessoas religiosas.
Elas estão ficando bem para trás; estão todas falando à moda antiga e estúpida.
Ainda estão obcecadas com os Vedas, o Alcorão e a Bíblia. Não que os Vedas
estejam errados ou que o Alcorão ou a Bíblia estejam errados – eles estão
perfeitamente certos –, mas estão expressados de uma maneira muito antiga,
muito primitiva. Não são capazes de se adequar à ciência moderna. Precisamos de
místicos contemporâneos do mesmo calibre de Albert Einstein, Eddington e
Planck. Esse é o meu esforço aqui: criar místicos contemporâneos, não eruditos
que falem como papagaios sobre os Upanishads e os Vedas. Não, eruditos não
servem.
(Osho, em
"Conhecimento, Inocência e Encantamento")