ISOLAMENTO
Há algo errado em mim. Há algo de muito errado em mim.
Lembro-me na infância de quando brigava com algum amiguinho à
proporção que aquilo tomava e o quanto eu sofria.
Sofria pela amizade, por não ser compreendida, por aquela
não ser a minha intensão, sofria pelas lembranças boas vivenciadas, sofria
porque as crianças continuavam brincando felizes e sem mim.
Eu ficava ali, olhando do portão em lágrimas. Era um misto
de tristeza, angustia, exclusão, desprezo, incompreensão, inveja e raiva. O
cérebro cheio de pensamentos destrutivos e degenerativos.
No fundo eu não sabia descrever o que eu sentia, não sabia
como reagir e não sabia dar a volta por cima de uma maneira leve e sem stress.
Sentia uma dor no peito, um vazio imensurável. Sentia-me a
pior pessoa do mundo, sem mérito, sentia-me detestável e a angustia só
aumentava no peito.
Por fim, pedia desculpas e perdão para continuar a brincar.
No fundo o que eu mais queria era que a dor fosse embora e que a paz reinasse
em mim.
Não queria sentir aquele vazio no peito, acordar chorando
calada e ficar deprimida. As desculpas infelizmente não restituíam as relações
e a tristeza ainda permanecia em mim.
Esse é o ciclo vicioso de uma vida. Um Carma que não reage
em Darma. Uma cruz, um aprendizado do qual nunca superei.
Na fase adulta olho para uma vida inteira e sinto muito.
Sinto muito por todas as desavenças que vivenciei, sinto por ter magoado ou
ofendido qualquer ser. Sinto muito por ter sido atrevida e arrogante.
Eis que surgem novos sentimentos: o arrependimento e a
culpa.
Está tudo aqui comigo, meu lado negro, as minhas
imperfeições que muitas das vezes estava munida da razão e de bons sentimentos,
mas que infelizmente me levava à ruína em relações, um somatório de decepções.
Não me sinto amada, não me sinto querida, não me sinto
merecedora e me isolo no mundo. Sinto vergonha.
Vergonha de não ter sido grata e por ser emocionalmente
carente de amor. Vergonha por não ser a pessoa que minha mãe queria, vergonha
por não ser amiga dos meus irmãos, vergonha por causa tristeza no meu pai,
vergonha de ter rompido com amigos, vergonha de ser assim... um ser imperfeito
que não se encaixa em lugar algum, um ser sem raiz e desprezível, um ser
imperfeito que luta para superar as desavenças. Sim! Sou persona non grata em meus relacionamentos mais íntimos.
Recomeço todos os dias para ver se transformo essa
personalidade forte e inútil em um ser de luz, ainda acredito na luz, mas hoje,
estou nas trevas por não saber me relacionar.
Por: Lucileyma
Carazza