TERCEIRA VISÃO
A melancolia é o excesso do passado, a ansiedade o stress do
futuro. Estou preza em um limbo e vivo com o pé no presente e só enxergo a
bruma.
E fico a pensar: como nos relacionamos por tanto tempo e
somos ludibriados por nada?
Em fidelidades íntimas sempre fui como um túmulo e muito
discreta, mas, dizem que a minha presença é impactante... contudo, num piscar
de olhos, não nos reconheço. Todo e quaisquer julgamento de boa-fé
enterrados num sarcófago frio num dia chuvoso onde as ondas estão altas e o
cheiro da maresia me afaga.
Não compreendo a lógica de ser tudo em um momento e num piscar
de olhos não podemos sequer nos cumprimentar... e onde fica os bons momentos, o
respeito, o porto seguro que tentamos ser? E onde fica a benevolência e a
reverência pelo o que fomos... e tem ainda o tal do perdão, que relembrei
recentemente, atendendo ao pedido de socorro de uma amiga que queria aprender
sobre o ho'oponopono: “eu não sabia
como era bom perdoar e soltar; eu não sabia como era bom deixar ir o que nunca
me pertenceu”.
A porra toda é que eu sou uma eterna Shakespiriana, Cartoliana,
Cazuziana... Augusto dos Anjos me seduz com a sua paixão eterna pela morte,
também flerto com ela, mas, contudo, porém e portanto, Bono nunca me abandonou
com as suas palavras de fé e resiliência; me redescobri em Gregório de Mattos o
“Boca do Inferno” (a terapeuta diz que preciso aprender a parar de vomitar as
palavras, sinceramente, estou velha e não quero mudar isso e muito menos a
minha espontaneidade), também tem a admiração pelo jovem Jão que nos ensina que
é possível divertir mesmo estando triste; tão jovem e nos cura com a sua
própria cura, com seus amores piratas, livres e atuais, claro que o amo, ele é
um escorpião nato oscilando entre as trevas e a luz, como gostaria de ter
escrito tudo que ele escreveu até o momento, talvez já tenha escrito e nem me
lembre, sou uma alma antiga em tempos modernos... Dos poetas citados temos em
comum a mesma dosagem para a cura da loucura de uma cabeça fudida. Transformamos
a dor em versos e prosas, em palavras das quais não nos importamos que ninguém
se importe ou leia, nossa prisão são as nossas mentes fertilizadas com patavinas.
No fundo somos todos um tipo 4 sexual do Eneagrama.
Mas me questiono: Que relações são estas? Rasas... Que
desequilíbrios são estes? As mentes andam doentes, perturbadas, mal educadas,
mas acredito que a minha seja a pior de todas, pois prezo pela retidão, pela
espiritualidade que me acompanha e ao respeito pelo que vivi, ou pelo o que
vivemos. Reverencio e me liberto.
Acredito que fiz muita terapia, Yung me deixou benevolente
demais ao condicionar a terapia com a espiritualidade, Clarissa Pinkola Estés
com os arquétipos das mulheres selvagens me fez acender uma seta neon de
foda-se na minha cabeça.
Aprendi a dizer: “tá bom”... parei de brigar, solto um sorriso,
não faço pirraça, falo baixo, sumo e não suporto quem tire a minha paz! Egoisticamente
falando eu amo ser a mulher que me tornei. Fora de todos os padrões, e sim, sou
louca! Barraqueira nunca! Meus amigos me apelidaram de Fina. Minha guerra é
fria em disputas intelectuais.
Estou com medo, muito medo, pois, voltei a escrever, estou
tal como a Dilma: “desequilibrada tomando remédio de tarja preta”, só que
não... Existe uma dor ao escrever, existe amor, existe algo lúdico que eu não
sei de onde vem...
Acreditei por um tempo que não havia mais nada a ser dito, escrito,
que estava vazia e resolvi fazer crochê. De fato estava vazia, fria, sem
emoção, tesão, calor, não me reconhecia, só queria dormir, exaurida... mas
agora quero a vida e abraçar todo o tempo perdido. Respiro, medito e me
liberto.
Quero histórias novas, momentos, vivências, conhecimentos, experimentos
e experiências...
E tudo bem que fui ferida, tenho certeza que também feri. Eu
te perdoo e me perdoo. A minha lança foi ética, não me escondi em máscaras e em
coisas mundanas. O mundo é feito para pessoas que não sabem viver.
Meu sonho é ser como Mozart, este compreendeu a harmonia
sobre o mundo em que vivemos, que é diferente ao do plano espiritual, por isso a sua
música transcende, promovendo a abertura da inconsciência e promovendo a
elevação da sua capacidade intelectual.
Sim... sou louca, estou louca, sou intensa, ando rebolando e
estou muito desbocada! Mas a terapeuta diz que somos aquilo que negamos, e não,
o que afirmamos, nesse ponto concordo com ela porque tenho a certeza que gente
feliz não incomoda ninguém.
Seja livre, seja leve... seja como uma lebre, ou como uma
criança recém chegada abrindo os seus olhos no inconsciente da sua alma. A abertura
do chacra da terceira visão, mesmo que inconsciente, significa a sincronicidade
dos hemisférios, a capacidade do discernimento e a expertise de conhecer a profundidade
da vida.
Por: Lucileyma Carazza