quinta-feira, 17 de abril de 2025

TERCEIRA VISÃO


 

TERCEIRA VISÃO

 

A melancolia é o excesso do passado, a ansiedade o stress do futuro. Estou preza em um limbo e vivo com o pé no presente e só enxergo a bruma.

E fico a pensar: como nos relacionamos por tanto tempo e somos ludibriados por nada?

Em fidelidades íntimas sempre fui como um túmulo e muito discreta, mas, dizem que a minha presença é impactante... contudo, num piscar de olhos, não nos   reconheço. Todo e quaisquer julgamento de boa-fé enterrados num sarcófago frio num dia chuvoso onde as ondas estão altas e o cheiro da maresia me afaga.

Não compreendo a lógica de ser tudo em um momento e num piscar de olhos não podemos sequer nos cumprimentar... e onde fica os bons momentos, o respeito, o porto seguro que tentamos ser? E onde fica a benevolência e a reverência pelo o que fomos... e tem ainda o tal do perdão, que relembrei recentemente, atendendo ao pedido de socorro de uma amiga que queria aprender sobre o ho'oponopono: “eu não sabia como era bom perdoar e soltar; eu não sabia como era bom deixar ir o que nunca me pertenceu”.

A porra toda é que eu sou uma eterna Shakespiriana, Cartoliana, Cazuziana... Augusto dos Anjos me seduz com a sua paixão eterna pela morte, também flerto com ela, mas, contudo, porém e portanto, Bono nunca me abandonou com as suas palavras de fé e resiliência; me redescobri em Gregório de Mattos o “Boca do Inferno” (a terapeuta diz que preciso aprender a parar de vomitar as palavras, sinceramente, estou velha e não quero mudar isso e muito menos a minha espontaneidade), também tem a admiração pelo jovem Jão que nos ensina que é possível divertir mesmo estando triste; tão jovem e nos cura com a sua própria cura, com seus amores piratas, livres e atuais, claro que o amo, ele é um escorpião nato oscilando entre as trevas e a luz, como gostaria de ter escrito tudo que ele escreveu até o momento, talvez já tenha escrito e nem me lembre, sou uma alma antiga em tempos modernos... Dos poetas citados temos em comum a mesma dosagem para a cura da loucura de uma cabeça fudida. Transformamos a dor em versos e prosas, em palavras das quais não nos importamos que ninguém se importe ou leia, nossa prisão são as nossas mentes fertilizadas com patavinas. No fundo somos todos um tipo 4 sexual do Eneagrama.

Mas me questiono: Que relações são estas? Rasas... Que desequilíbrios são estes? As mentes andam doentes, perturbadas, mal educadas, mas acredito que a minha seja a pior de todas, pois prezo pela retidão, pela espiritualidade que me acompanha e ao respeito pelo que vivi, ou pelo o que vivemos. Reverencio e me liberto.

Acredito que fiz muita terapia, Yung me deixou benevolente demais ao condicionar a terapia com a espiritualidade, Clarissa Pinkola Estés com os arquétipos das mulheres selvagens me fez acender uma seta neon de foda-se na minha cabeça.

Aprendi a dizer: “tá bom”... parei de brigar, solto um sorriso, não faço pirraça, falo baixo, sumo e não suporto quem tire a minha paz! Egoisticamente falando eu amo ser a mulher que me tornei. Fora de todos os padrões, e sim, sou louca! Barraqueira nunca! Meus amigos me apelidaram de Fina. Minha guerra é fria em disputas intelectuais. 

Estou com medo, muito medo, pois, voltei a escrever, estou tal como a Dilma: “desequilibrada tomando remédio de tarja preta”, só que não... Existe uma dor ao escrever, existe amor, existe algo lúdico que eu não sei de onde vem...

Acreditei por um tempo que não havia mais nada a ser dito, escrito, que estava vazia e resolvi fazer crochê. De fato estava vazia, fria, sem emoção, tesão, calor, não me reconhecia, só queria dormir, exaurida... mas agora quero a vida e abraçar todo o tempo perdido. Respiro, medito e me liberto.

Quero histórias novas, momentos, vivências, conhecimentos, experimentos e experiências...

E tudo bem que fui ferida, tenho certeza que também feri. Eu te perdoo e me perdoo. A minha lança foi ética, não me escondi em máscaras e em coisas mundanas. O mundo é feito para pessoas que não sabem viver.

Meu sonho é ser como Mozart, este compreendeu a harmonia sobre o mundo em que vivemos, que é diferente ao do plano espiritual, por isso a sua música transcende, promovendo a abertura da inconsciência e promovendo a elevação da sua capacidade intelectual.

Sim... sou louca, estou louca, sou intensa, ando rebolando e estou muito desbocada! Mas a terapeuta diz que somos aquilo que negamos, e não, o que afirmamos, nesse ponto concordo com ela porque tenho a certeza que gente feliz não incomoda ninguém.

Seja livre, seja leve... seja como uma lebre, ou como uma criança recém chegada abrindo os seus olhos no inconsciente da sua alma. A abertura do chacra da terceira visão, mesmo que inconsciente, significa a sincronicidade dos hemisférios, a capacidade do discernimento e a expertise de conhecer a profundidade da vida.

 

Por: Lucileyma Carazza