sexta-feira, 27 de junho de 2025

ROMÂNTICA

 

ROMÂNTICA

Fomentando cada migalha do meu ser... sou movida a poesia, e, infelizmente poucos sabem ler, interpretar, ou simplesmente sentir. Esta “douta” poeta que vos fala tem um único propósito: o de inspirar.

Inspire, respire, suspire, sorria, gargalhe, dance, deseje a todos um bom dia maravilhoso, se preocupe, cuide de você, dos que você ama e até mesmo dos desconhecidos, seja livre e principalmente leve.

Nunca confunda liberdade com libertinagem, muito menos imagine que ser livre é fazer o que se quer. Ser livre está intrinsicamente ligada ao comprometimento, a responsabilidade e com a leveza da sua alma. Ser livre é estar em paz consigo mesmo e ter o discernimento de acolher e conviver com os maus entendidos da vida e não se envergonhar. Ser livre é ser ético e seguir em retidão, mesmo estando com um coração dilacerado por ter sido humilhada por ser quem você é, e não, o que os outros almejam que tu seja.

Como mulher vos digo, todos tentaram me moldar ou me modificar.

Minha mãe prendia o meu cabelo de uma maneira que não podia ficar um fio fora do lugar, me colocava uma roupa branca de marinheira e saía desfilando comigo na segunda cidade mais poluída do Brasil, pelo menos na época. O Vale do Aço perdia apenas para Cubatão em se tratando de poluição atmosférica... e eu? Não podia sujar a roupa, mas eu ia para rua brincar nas pracinhas e voltava toda encardida. Gostava de carrinho de rolimã, ir para a beira do Rio Doce escondida para ver se via onça pintada, amava ir ao bicicross, andar de kart, soltar pipa, brincar de ferrorama e autorama, buscar boi no pasto, cavalgar como uma louca, vivia no clube nadando e apostando com os meninos quem era o mais rápido ou quem tinha mais folego (meu cabelo ficava verde de cloro). Odiava brincar de casinha e ser a moça boa e perfeita da família. Lembro dos castigos, das quedas, dos ralados e são tantas cicatrizes que até perdi a conta, mas todas as vezes que as olho sinto uma lembrança aconchegante.

Meu pai era o Peter Pan, o “bom vivant”, o boêmio que ia de bar em bar. Era aquele que sentia um ciúme “sine qua non” da filhinha dele. Ele me ensinou que homens não prestam por serem volúveis, que eu nunca poderia aceitar que qualquer homem pagasse alguma coisa para mim, e ainda, dizia sempre: “jamais confie num homem”. Lembro da primeira vez que ele me levou em uma boate. Cristo tem poder! Ele jogou um bolo de dinheiro no meu colo, disse que se eu quisesse beber era para beber com o meu dinheiro e que as duas da madrugada me buscaria. Quebrava os telefones fixos e implicava com os meus amigos que iam na minha casa me ensinar matemática e física. Me mandava tirar o batom e a saia curta. A primeira vez que ele me viu de salto alto andando pelo corredor de tábua corrida da casa quase enfartou. Eu não tirei os saltos e saí. Ele me mostrou que nem ele me modificaria. Para ficar livre da mordaça que ele insistia em me colocar resolvi trabalhar e ganhar o meu próprio dinheiro.

A parte mais fantástica da vida da minha infância e da adolescência foram os meus irmãos mais novos. Tinha que cuidar deles e ser exemplo.  Estes quase conseguiram me polir por um tempo. Como dançava jazz sempre tive os ouvidos apurados para a música, aos doze anos conheci Guns’n Roses e o heavy metal, aos 16 já bebia e a virgindade vou deixar para outro texto... meu irmão é mais novo que eu três anos, por causa dele eu deixei de fazer muita coisa porque os olhos dele de censura me cortava como uma lamina samuray. Ele se tornou músico e virou amigo dos meus amigos que eram todos metaleiros, afastei de alguns amigos porque não queria envergonhar meu irmão, queria deixar ele viver a vida dele. Mas a vingança é um prato que se come frio, aos dezoito anos, já dirigia e levei ele e mais cinco amigos para um lugar um tanto curioso para uma mulher que tinha que ser exemplo. Levei-os para zona, no bairro do subúrbio Fabricianense, que se chamava “Mineirinho”. Ele me odeia até hoje por isso, mas os amigos dele, nem tanto... Minha irmã mais nova nunca me deixou aproximar, talvez meus olhos fora a censura que eu sentia e acabei transmitindo para ela de alguma maneira inconsciente. Como queria ser sua amiga. Na verdade queria protegê-la do mundo... na atualidade sequer conversamos cordialmente, o silêncio impera e ela sempre me diz que sou igual ao Pequeno Príncipe no País das Maravilhas correndo com os lobos.

O primeiro namorado um tédio! Eu tinha que ser a mulher imaculada que tanto odiava. O segundo, foi o amor da minha vida, esse eu reverencio, me ensinou a ser mulher, fizemos todas as aventuras possíveis e impossíveis que estavam ao nosso alcance. Terminei com ele porque queria viver as minhas próprias experiências sem interferência. Hoje quando ouço Ana Castela cantando: “Ê, saudade que toma, que toma; Que toma conta de mim; que não me dá remorso, nem raiva nem ódio, dá pena do fim”... é dele que eu lembro com muito amor no coração. O terceiro namorado eu casei, para não dizer “caguei”; já tinha feito todas as maluquices que eu queria fazer. Ele com o mesmo arquétipo de Peter Pan igual ao do papai. Tocador de viola caipira, um boêmio e estelionatário. Casei na igreja de branco e com festa porque o papai quis. União matrimonial abençoada pelo Clero que durou apenas seis meses... Graças a Deus e amém! Porque se ele não fosse estelionatário seria mais difícil divorciar... depois... foram vários namorados, fui pedida em casamento várias vezes e neguei todas, já havia decidido: não sei viver presa e amordaçada para atender a expectativa de alguém, talvez eu seja egoísta, mas uma coisa vos digo, quando um homem te pede em casamento e você diz: “Vamos namorar por mais um tempo, eu prefiro assim, por enquanto.” Eles terminam o relacionamento que eles queriam para o resto da vida na velocidade da luz.

Na atualidade, não sei o que esperar de um relacionamento. Odeio dormir de conchinha e aos cinquenta anos não espere que eu seja a mulher difícil, porque eu sou a dificílima, mas sei ser a fácil quando eu desejo. Personalidade forte e uma sobrevivente.

Sobrevivente aos algozes mãos brancas do sistema araponga. Sobrevivente aos homens que me assediariam sexualmente, moralmente, materialmente e principalmente emocionalmente. Sobrevivente daqueles que me chamam de mal-educada por ser autêntica. Sobrevivente daqueles que me chamam de louca! Sobrevivente das quedas, das batidas, das alergias, da asma que é a alma esperneando em dor, das situações de perigo imprevistas. Sobrevivente dos olhares das mulheres que me odeiam pela minha personalidade e das que me julgam incapaz de sentir amor porque eu não tive filhos.  Sobrevivente das exclusões cotidianas. – Sim! Uma mulher como eu é sempre excluída e nunca benquista.

Vivo num limbo onde não pertenço a nada e nem a ninguém. Não tenho raiz! Sou como o oceano. É com o mar que eu sinto a paz no sentido literal da palavra, é ele que me cura.

Como professora de Literatura, trabalhando a Terceira Geração do Romantismo no Brasil com os alunos do segundo ano do Ensino Médio, deparei-me com a seguinte pergunta: - Professora, a Senhora é romântica? Claro que gargalhei e respondi com ironia. – Sim! Sou um tipo 4, sexual do Eneagrama, meu signo é Escorpião e possuo a “persona” mais sombria e detestável do Planeta Terra.  Eles vão ter que pesquisar o que é o Eneagrama. O mais genial de ser professora é que você pode ser surpreendida com a frase no final do trabalho sobre Romantismo: “Como dizia minha ex: terminamos... eu: Como dizia minha ex: terminamos próximo! E ainda ouvir: Quem morre pra “danger” é corno! Me divirto muito em ser a professora que pula, que briga, brinca, provoca emoções, que ama, que se orgulha, que dança e gargalha. Me orgulho em inspirar os futuros poetas, escritores e de inseri-los num mundo de oportunidade.

Às vezes penso em desistir e recomeçar em outra profissão, penso em mudar para outro lugar... uma inquietude que se compara com a minha vida amorosa. Quanto a vida amorosa não tenho certeza de nada, mas quanto a profissão e o lugar aonde eu vivo, já me decidi. Vou ficar por aqui, por enquanto...

Ser professor é como viver em uma corda bamba. Viver entre a vida e a morte. É um ofício dificílimo! E como sou pura poesia, indomável, brava, livre, moldada na terapia Junguiana e corro com os lobos sempre caio em armadilhas... mas sobrevivo.

Recentemente tentaram me amordaçar novamente. Por ser descontraída, sorridente e arregaçar nas gargalhadas, fui taxada novamente de louca, mal-educada e pouco profissional.  Conseguiram me fazer chorar na frente dos alunos justamente na turma que eu mais respeitava e amava. Não fui acolhida por ninguém. Me senti a própria Maria Madalena sendo apedrejada em praça pública. Reza a lenda, que, pedagogicamente não existe reclamação sobre mim, sou pontual, cordial, cumpro com todas as obrigações antes do tempo e sempre que sou solicitada para um algo a mais, me dedico de bom grado, mas que os alunos me acham irônica e debochada, que era melhor eu parar de rir e ter uma atitude mais profissional. Ninguém duvida da minha competência e da minha capacidade intelectual, mas a minha gargalhada incomoda...

E nesta confusão emocional, pessoal, amorosa e profissional me deparei com a primeira pessoa na vida que me colocou uma rédea ou arreio. Um sábio ancestral, um Franciscano, um espelho fascinante e exuberante! Um homem emocionalmente sadio, bravo e gentil. Com lágrimas nos olhos e com muito amor no coração reverencio esta amizade! Dou Graças a Deus e ao Universo por sermos amigos, porque se fossemos amantes, namorados ou um casal não ficaríamos juntos para sempre. Amizade legítima não se dissolve. Com este homem eu quebrei o dogma do meu pai e da minha mãe. Talvez eu tenha quebrado a maior maldição da minha vida. Consegui finalmente sentir e enxergar que existe homens bons no mundo e que eu posso me deixar ser domada permanecendo autêntica... um pouco... só um pouquinho domada...  Ele é o Lobo, e eu, a Mulher que corre com os lobos.  Ele é o líder da matilha, da qual humildemente faço parte. O destino faz com que os semelhantes caminhem juntos, tendo em vista que, na maioria das vezes, os opostos se atraem, mas não se comunicam.

Quanto ao resto, que se incomodam com a minha gargalhada, digo o seguinte: gente feliz não incomoda ninguém. Eu sinto muito! Eu vos liberto! Vou seguir adiante e sempre serei apedrejada. Sobreviverei a todos porque EU SOU UMA MULHER QUE CORRE COM OS LOBOS!

Por: Lucileyma Carazza

Referência: Mulheres que correm com os lobos – Clarissa Pikola Estés