Vivi sem ser por anos e sobrevivi, meu ego me defendeu. Vivi em grupos bons e ruins e também sobrevivi. Agora sem Deus não sobrevivo. Viver com qualidade, ou não, vai depender exclusivamente de mim. A autotransformação não é olhar exclusivamente para mim, para o meu ego e viver a minha vida. A autotransformação é olhar para aquilo que preciso transformar olhando para o próximo, respeitando o próximo, amparando o próximo, dar sem a expectativa de receber em troca.
Penso que o bom seria: oferecer para participar do sucesso, da felicidade e de todo processo. É a atenção visando o bem estar do próximo e não a sua própria felicidade.
Amparar o próximo é fazer caridade. Caridade nua e crua.
Caridade não é tirar as roupas velhas do armário e dar para alguém. É tirar as roupas velhas do armário para vestir alguém é ver a roupa passar e não pensar: olha aquela roupa que doei esta ótima que arrependimento! Caridade é ver a sua roupa boa passando com outra pessoa e pensar: que bom que ela aceitou a roupa. É ver a roupa passando e não fazer diferença alguma em você, e sim, para a pessoa que recebeu e vestiu.
Não adianta fazer terapia e achar que melhorou porque consegue enxergar aquilo que você não vê em você. Sair falando para os outros, olha estou tão feliz, eu faço terapia e participo de um grupo (fechado) que me aceita. Não adianta falar para os outros o quanto você está melhor por ver o seu ego e continuar com ele ali, te domando.
Quer saber? Encontrei-me diante de uma situação da qual pensei que o problema fosse exclusivamente meu. Retraí-me por não saber controlar a minha raiva interior, mudei um padrão, fiquei de luto e tinha a certeza que não precisava esperar nada em troca. Mesmo assim fiquei magoada, quando percebi que quando ninguém vinha ao meu encontro, ninguém percebeu que havia mudado. Pensei: o padrão continua errado vou aprender o certo. Queria sim um pouco mais de atenção daquele “Grupinho em busca da autotransformação” porque acreditei que elas fossem mais especiais. Não tive do jeito que desejei. Veio à voz: talvez estas pessoas estejam te ajudando e você não consegue ainda perceber o esforço, na concepção delas o certo foi te ajudar assim. Senti um conforto e aceitei... Momentaneamente, novamente surge a voz: como que um grupo de autotransformação cruza os braços tão facilmente (teve exceções)?
Nada mais me interessava a não ser aquele “Grupinho” todo especial o qual sempre cativei.
Saí do grupo precisava digerir toda a informação que fritava o meu cérebro e não queria desrespeitar mais ninguém com a minha raiva.
Quando saí do grupo não senti solidão. Tinha outros amigos, outros grupos que consegui cativar simultaneamente e que notaram a minha mudança. Não tive ajuda de quem eu queria, do jeito que gostaria (do “Grupinho”), mas tive de outros grupos e consegui visualizar, me dei por satisfeita! Momentaneamente novamente...
Fiquei a pensar: porque estou preocupada com o “Grupinho Semanal – As mais legais”? É um desconforto tão grande conviver com este “Grupinho”. Que fique bem claro: o desconforto é meu. “As mais legais” são as mais legais mesmo! Aprendi muito com elas e sou eternamente grata.
Não conseguia compreender o porquê de estar ali, preocupada com aquele “Grupinho” todas com saúde, dinheiro, com problemas óbvios para serem curados e tinham principalmente o apoio uma da outra. Quando me lembrava de outros amigos, das pessoas com necessidades especiais e das vozinhas da sopa, me dava uma dor no coração queria fazer tudo por eles(as) e quando lembrava do “Grupinho” não queria fazer mais nada por elas.
Pensei: o ciclo não fechou continuei atormentada.
A minha persistência me fez voltar para o “Grupinho”. Na frente de todos movia com um esforço surreal e não conseguia sair do lugar e mais ninguém percebia o esforço (lógico teve exceções), agora entendo que o grupo também não domina o que faz. Não existe uma regra cartesiana, tudo é relativo.
Percebi a minha dor: dar sem querer nada em troca e ter compaixão pelo TER.
Dicionário: Lucileyma
TER = pessoas que trabalham e conseguem todo o conforto material possível e impossível da vida; pessoas sem nenhuma dificuldade física ou intelectual.
SER = o infeliz que não tem: carro, casa, emprego, comida, estudo, família, é deficiente físico, mental etc.
Na minha cabeça bipolar só merecia a minha compaixão aquelas pessoas excluídas da sociedade, nunca olhei para o incluído na sociedade, este, nunca teve a minha compaixão.
Conviver com o “Grupinho” que aparentemente tem de tudo foi à experiência mais dolorosa de todas que experimentei. Percebi que não tinha compaixão pelos iguais a mim (do mesmo núcleo da cadeia da sociedade).
Sempre soube conviver com o SER pelo amor e agora estou aprendendo a conviver com o TER pela dor.
Ter compaixão pelos desiguais eu sempre tive e nunca tive compaixão pelos iguais.
A digestão emocional ou o processo de autotransformação é complexo.
Conviver com as desigualdades sociais, conviver com os princípios fundamentais, defender o direito de todos, aceitar que não vou dar conta de todos e respeitar o meu limite foi fácil. Ver que até quando optei em sair do emprego, e hoje, com quase nenhum bem material também está sendo fácil. Agora, aprender a conviver com pessoas que tem o material, na busca da autotransformação, olhando apenas para o ego... isso foi difícil. Confesso que tenho uma antipatia por pessoas que tem de tudo e são infelizes, na minha cabeça quem tem de tudo tem a obrigação de ser feliz.
Sou assim, porém vou mudar. Viver com o ser na sua completude é muito mais fácil do que viver com o ter. Eu não tenho de tudo, aceito o que tenho e luto pelo que não tenho (mesmo parecendo uma coitada aos olhos dos outros).
Viver com o SER é seguir os ensinamentos de Jesus Cristo.
Minha opinião é: enxergar o ego, melhorar, ver e ajudar o próximo.
A autotransformação não é olhar para o meu ego e cuidar apenas da minha vida. Não é olhar para mim e assumir o que eu não sou para atender a realidade do outro. É olhar meu ego e zelar pelo próximo.
Aqui aprendi a ter COMPAIXÃO COM IGUALDADE; enxergar o benefício que a raiva me trazia e a andar em zonas de desconforto, isto devo ao “Grupinho”.
O benefício da raiva? Joguei fora. O aprendizado e o apoio do “Grupinho”? Agradeço do fundo da minha alma, uma parte do meu coração sempre estará com vocês, de corpo físico não mais. E a Compaixão com igualdade? Vou praticar.
Ah! Andarei em todas as zonas de desconforto.
Por: Lucileyma Rocha Louzada Carazza