“Os
amantes sabem que só se ama por inteiro, ou então o que estão fazendo não é
amor, mas uma associação de interesses mútuos, um negócio. Além disso, quando
se ama, não se está pensando em
segurança, duração, controle, posse, pois isso corresponde à forma com que o
autoritarismo capitalista familiar ou de estado se expressa no plano pessoal e
afetivo. Se sou um libertário, desejo
que tanto eu quanto o meu parceiro vivamos o amor em liberdade, na emoção, no
espaço e no tempo. É o amor em si mesmo
que comanda a intensidade, a beleza, a forma e a duração do nosso amor, em cada
um e entre os dois, jamais o contrário.
(...)
O
amor, para mim, só pode ser expresso pelas artes e viajado pela poesia. Mas
falar científica ou literariamente do amor e explicá-lo psicologicamente não
significa absolutamente saber o que ele é e como ele funciona. Descubro ser o
mistério a sua natureza mesma. Desvendá-lo é assassiná-lo. Só podemos, pois,
senti-lo, jamais compreendê-lo. Quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a
qualificá-lo e quantificá-lo já não está amando. Procurei resumir assim, neste
livro, minhas conclusões: do amor só se pode fazer necrópsia, jamais
biópsia."
Roberto
Freire - Ame e Dê Vexame