sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ame e Dê Vexame


“Os amantes sabem que só se ama por inteiro, ou então o que estão fazendo não é amor, mas uma associação de interesses mútuos, um negócio. Além disso, quando se ama, não se está  pensando em segurança, duração, controle, posse, pois isso corresponde à forma com que o autoritarismo capitalista familiar ou de estado se expressa no plano pessoal e afetivo. Se sou um  libertário, desejo que tanto eu quanto o meu parceiro vivamos o amor em liberdade, na emoção, no espaço e no tempo. É o amor  em si mesmo que comanda a intensidade, a beleza, a forma e a duração do nosso amor, em cada um e entre os dois, jamais o contrário.

(...)

O amor, para mim, só pode ser expresso pelas artes e viajado pela poesia. Mas falar científica ou literariamente do amor e explicá-lo psicologicamente não significa absolutamente saber o que ele é e como ele funciona. Descubro ser o mistério a sua natureza mesma. Desvendá-lo é assassiná-lo. Só podemos, pois, senti-lo, jamais compreendê-lo. Quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo já não está amando. Procurei resumir assim, neste livro, minhas conclusões: do amor só se pode fazer necrópsia, jamais biópsia."


Roberto Freire - Ame e Dê Vexame