PARA QUE OS LOUCOS
CONFUNDAM OS SÁBIOS
Se
eu pudesse condensar tudo o que é belo, todos os mares, o céu, as estrelas, se
pudesse comprimir de tal forma que coubessem em palavras e traduzisse em textos
que expressassem com fidelidade cada movimento de vida, cada brisa, cada
expressão humana, cada emoção capturada em frases, ainda assim, não seria
suficiente.
Mesmo
que eu tivesse a palavra ideal para cada situação, pudesse dizer exatamente o
que fazer diante das “peças” que a vida prega, conselhos perfeitos para gente
tateando no escuro, confusas, ainda assim, seria muito pouco.
Eu
poderia compor músicas que invadissem a alma e ajudasse a organizar mentes
inquietas, diminuir ruídos, sons com poder de acalmar, despertar, conduzir
pensamentos para dimensões de silêncio, mesmo que fosse assim, faltaria muito.
Há
os que se expressam pela via da arte, da pintura, das imagens mágicas que
retratam o mundo em pinceladas, um momento, uma cena fixada no tempo a partir
do olhar único e talentoso do artista, uma nova perspectiva que pode emocionar
e, por mais fundo que toque, não é o bastante.
Dentro
de cada humano existe uma dimensão que não pode ser acessada pelo intelecto,
nem pelas emoções, tampouco pelo conhecimento. Um espaço em nós aonde as palavras se esvaziam, as imagens diluem e
todo conhecimento se transforma em códigos indecifráveis, inúteis, sem nenhuma
servidão.
Nesse
lugar, nossas perguntas, por mais serias que sejam, se apequenam, sem
necessidade de respostas, argumentos ou explicações de nenhuma natureza. É o
ponto aonde todas as dores se calam e os caminhos clareiam.
Se
eu pudesse traduzir todos os sons do universo, cada imagem, cada movimento e
aplicasse um sistema de pensamento que desvendasse tudo o que nem a ciência
imagina, se eu fosse capaz de aprofundar consideravelmente todos os enigmas da
filosofia e os mistérios da teologia, ainda assim serviria para pouco.
Dentro
de cada humano existe uma dimensão que jamais será acessada pelos caminhos do
ego ou por qualquer ferramenta mental. É a dimensão do incognoscível, da alma,
do espírito que não se impõe, mas observa, que aprende a ouvir, calar, ser
grato, consciente diante do que é.
Cada
movimento da vida deve nos levar para essa dimensão e cada experiência
contribui para que aprendamos a descansar nela, onde tudo é claro, tudo é paz,
tudo é.
Para
que ninguém se glorie em si mesmo, para que os loucos confundam os sábios, para
que cada humano veja e entenda de fato do que é feito.
Por: Flavio Siqueira