Tudo se cura quando cura na gente. Tudo
passa, tudo melhora, tudo se cala quando cala na gente.
As cores que faltam, a brisa que some, o
calor que aquece, quando, antes de tudo, aquece na gente. E as cores voltam, a
brisa renasce, tudo se renova, se transforma, se faz quando existe na gente.
O medo que some, as culpas, as dores, as
perdas se apagam quando, em nós, se dissolvem.
O mundo que muda, as vozes que calam,
labirintos se desfazem se o caminho é em mim.
Tudo se cura quando cura na gente. Nada
fica. Nenhuma ameaça, choro que cessa, sede que passa, alívio, descanso, luz
que se espalha quando acende na gente.
Porque todas as dores do mundo, o que mete
medo, nos encolhe em ameaças, encobre o horizonte, sequestra a espontaneidade,
tudo o que nos rouba o ser e adoece a existência, tudo se cura quando cura na
gente.
Ninguém disse que seria fácil, há sombras no
caminho e os tropeços tantas vezes nos parecem invitáveis, há dias mais
difíceis, cansaço, estreitamentos inesperados, que no assustam, nos confundem,
nos desviam.
Ser humano é ser contraditório, é caminhar
em busca de algo que se vincule ao vazio de dentro e nos traga respostas, nos
acolha, nos transcenda e nos livre do medo.
Mas o medo passa e não há choro que dure
para sempre, nem culpa que nunca se acabe, vazios que não sejam preenchidos,
amores que jamais correspondam, dores terminam, tristezas tem fim e o luto
morre quando finalmente entendemos que tudo se cura quando cura na gente. Flavio Siqueira