quinta-feira, 12 de novembro de 2015

VIDA


VIDA

Enquanto poeta
Não consigo descrever
A morte do Rio Doce...

Enquanto gestaltista
Não quero sentir
A morte do Rio Doce.

Não sentir é parar de respirar
É fechar os olhos
Para tamanha angustia...

Um sofrimento inigualável
De uma chacina torpe e degradável
Que provocou o holocausto de um ecossistema.

Só quem vive e viveu em suas margens
Compreende e vivenciaram
A magnitude de sua grandeza...

Brinquei neste rio,
Corri em suas margens,
Nadei em suas águas...

Avistava as capivaras,
Sonhava em ver onças,
Pegava siris e camarões.

Lembro do meu fascínio pelos teiús,
Pelas aves aquáticas
Por cada peixe avistado.

Lembro do encontro das águas:
Do Rio Piracicaba com o Doce
E da minha alegria, romântica, ingênua e infantil...

Lembro da tristeza em ver:
O rio poluído pelo esgoto,
Da recuperação das suas águas,
Das matas ciliares
E da criação do Parque Estadual do Rio Doce.

Lembro das secas,
De todas as enchentes
E de todos os ciclos de uma terra...

Gostaria de não ter vivenciado este assassinato...
Pois, o meu coração é Franciscano
E sou uma Bruxa amante da natureza.

Precisamos de um plano de ação,
De uma melhoria contínua
Com excelência em qualidade para a sua recuperação.

A natureza é farta
E do seu ventre tudo nasce e se transforma...
Precisamos de corações generosos para recomeçar;

Para daqui a uns 100 anos (ou mais)
Os nossos descendentes possam contemplar
Um pouco daquilo que vivi há 30 anos... atrás...

O de atolar na lama de um rio,
Soltar uma gargalhada farta
E sonhar em ser como as suas águas...

Cristalina, livre, generosa,
Cheia de vida, renascimento,
Esperança e muito amor...

Sonhei em viver como aquele Rio!
Que me fazia transbordar em VIDA...


Por: Lucileyma Carazza

Foto: Uma das bacias do Rio Doce anterior a novembro/2015 - Vale do Aço - Ipatinga/Minas Gerais/Brasil.