Capsicum frutescens in anus autrem kisucus est!!!!! Meu diário, meus pensamentos... meu amigo!!!
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Viver no Coração
Ficar no coração não é fácil. Pois é no coração que entramos em acordo com a experiência que estamos vivendo. Quando o coração está aberto, a experiência é bem recebida. Nós a aceitamos e permitimos que seja integrada com a nossa alma. Quando o coração está fechado, rejeitamos a experiência. Nós nos defendemos contra a decepção ou contra a mágoa e fugimos para a cabeça.
Quando a experiência passa a ser intelectualizada somos roubados não só do que é inferior, mas também do sublime na vida emocional. Perdemos a capacidade de sentir compaixão por nós mesmos e pelos outros. Perdemos a sensibilidade não somente para a dor e para o sofrimento, mas também para a beleza e para a felicidade.
Quando nosso coração está verdadeiramente aberto, tanto a felicidade quanto a dor são experimentadas sem inventar estórias, sem pintar a realidade de cor de rosa. Elas não significam nada diferente do que realmente são. Sentir dor não significa que somos maus, nem que outros sejam maus, assim como sentir felicidade não quer dizer que somos bons. Não há interpretações, só há disposição e boa vontade para aceitar e receber a experiência lá dentro. No coração aberto, o riso e as lágrimas se mesclam. É um lugar de intensa contradição, um lugar rico, um banquete variado de experiências que não podem ser racionalizadas, domadas, antecipadas, nem entendidas.
O medo e o condicionamento nos encorajam a rejeitar os aspectos da experiência que sejam novos, inesperados ou que não nos pareçam seguros. A alma fica dividida quando uma parte da experiência passa a ser vista como inaceitável. Passamos a ter bom e ruim, inconsciente e consciente, desejado e não desejado. Dessa forma somos capazes de ter uma experiência sem senti-la. Podemos fugir para a cabeça, nos distanciar, nos desconectar emocionalmente. Ainda que este tipo de dissociação seja compreensível quando se trata de uma reação a eventos traumáticos, ele passa a ser disfuncional em resposta aos altos e baixos da vida diária.
Quando só estamos dispostos a aceitar o que nos é familiar ou aquilo que pensamos que queremos, ficamos presos na rotina e nos padrões do nosso passado. Ficamos estagnados emocionalmente e intelectualmente. Ficamos rígidos, ego-centrados e previsíveis. A energia da vida passa a ser investida na manutenção das defesas do ego, garantindo que o status quo permaneça intacto.
Viver no coração significa deixar que tudo entre. Significa estar com a experiência, mesmo que ela seja difícil ou confusa. Para estar no coração, temos que adiar a tomada de decisões com frequência, até que fiquemos completamente familiarizados com o conteúdo total da nossa consciência.
Ficar no coração ajuda-nos a assimilar os caprichos de nossa experiência, ainda que isso leve algum tempo para acontecer. Quando não temos pressa, percebemos que as contradições iniciais acabam se resolvendo sozinhas. Tudo vai ficando mais claro conforme vamos honrando os variados pensamentos e sentimentos da nossa alma. É uma função da nossa inteireza, quando sentida.
Tomar decisões antes de ter passado algum tempo com todos os nossos pensamentos e sentimentos contraditórios, acaba agravando qualquer que seja o conflito que estejamos experimentando em nossa vida externa. Quando sentimos urgência ou pressão para solucionar ou decidir alguma coisa, geralmente isso significa que estamos fugindo para a cabeça, tentando fazer com que “alguma coisa aconteça” que ainda não está pronta para acontecer. E, inevitavelmente, isso conduz a conflitos externos e a decepções. As portas não se abrem, não importa com que frequência ou com que força possamos bater nelas. Como não estamos em harmonia interna, não conseguimos ficar em harmonia com os outros. Como não estamos em nosso próprio “fluxo”, não conseguimos fluir com a vida conforme ela vai se manifestando ao nosso redor.
É preciso ter coragem para estar presente na paisagem emocional interna quando a chuva e a neblina obscurecem a vista. Quando a visibilidade é mínima, tudo o que podemos fazer é colocar um pé na frente do outro. Quando um monte de conflitos e emoções se agitam na alma, tudo o que podemos fazer é trazer gentilmente a consciência para onde estamos. Se nos apressarmos no meio da chuva e da neblina, desviaremos do caminho e cairemos.Um acidente vai nos atrasar muito mais de alcançar nosso objetivo do que o mau tempo e, daí, vamos desejar ter sido mais pacientes.
Ser paciente conosco mesmos e com o nosso próprio processo é o segredo de viver no coração. Podemos estar no coração e não "saber" o resultado de uma situação. Na verdade, a disposição “para estar sem saber” é essencial para estar presente aqui e agora, seja o que for que estivermos experimentando. “Saber” quase sempre diz respeito ao passado. Quando não precisamos mais saber, podemos ficar neste momento.
Paul Ferrini
O Processo de Afinidade e o
Caminho do Amor Incondicional e Aceitação