NUNCA SOUBE AMAR
Vou além. Em todas as relações nunca soube amar. Não
soube amar a mãe, o pai, o irmão, a irmã, a amiga bipolar, o namorado, a Tia da
Casa da Esperança, o amigo problemático da adolescência, o gato de raça de
muito valor econômico, o vestido mais lindo e outros que não consigo recordar
agora. Perdia tudo e todos.
Percebi que amei de verdade quando gostava das
pessoas. Quando gostava exclusivamente das pessoas, assim, gostar por gostar,
sem interesse algum, a relação fluía, crescia e solidificava. E surgiram as
amigas(os) de infância, o amor da mãe, do pai, do irmão, da irmã, as relações amorosas
duradouras, os gatos pararam de fugir, os vestidos duraram. A ficha caiu: quando
abro mão do amor (ou daquilo que pensava que era amor), ele se fortalece e não
desaparece.
Não abri mão do amor por não amar. Abri mão do amor
por amar demais e não suportar mais a dor. No meu conto de fadas o mundo e as
pessoas tinham que ser como eu desejava, o outro deveria mudar por mim e todos
deveriam me amar. O mundo não vai mudar por minha causa, muito menos as pessoas e nem todo mundo vai me
amar. Descobri que precisava mudar melhor dizer: desejei uma transformação íntima.
As pessoas não me tratam como eu gostaria de ser
tratada, e sim, de acordo com aquilo que elas têm a oferecer. Uns tem mais
capacidade de dar amor porque estão abertos, dão e não cobram; outros, não
conseguem dar nada. Nada mesmo. Não estão abertos e não estão preparados, ainda
não conseguem sentir que o amor liberta.
Dói muito relacionar-se com pessoas que não estão
abertas, principalmente quando estamos abertos, nesta situação, o que devemos
fazer é respeitar o tempo e o espaço do próximo. Esta atitude pode acarretar
muita dor. Suporte. Porém, deixe o próximo ciente do seu amor. Ofereça um
pedaço do seu coração, ou se for capaz, o coração inteiro e respeite. Saia de
fininho com muito carinho, porque a semente foi plantada. O próximo passo é curar
a sua dor. Tenha compaixão por você. Um conselho: em situações difíceis olhe
para Jesus. Este é o melhor amigo, confesso, que por diversas vezes, fui muito ingrata com ele, e nem por isto, ele
me amou menos. Em momentos de desespero em vez de aceitar o que a vida estava
me proporcionando, me revoltava. Questionava Jesus o por quê? Brigava, esperneava,
xingava e chorava. Não possuía discernimento suficiente para amar e ter
compaixão pela minha dor, por Jesus e quem dirá pelo próximo.
Não compreendia melhor dizer, não sentia; Jesus
amou a humanidade e foi crucificado por amor. A maioria das pessoas conhece a
história e não sente. Quando senti os ensinamentos dele de fato, aprendi a agradecer,
a conversar, a ter compaixão, a amar o próximo, a ter paciência porque tudo e
todos têm o seu tempo (e como é difícil exercitar a paciência)... Ouvir mais e
falar menos, perdoar (muito difícil também), reclamar menos, julgar menos, a ter mais educação,
a ser mais tolerante e com isto, comecei a perceber e a sentir o amor de onde
pensava que não existisse. E amei muito mais.
A dependência, a carência, o vício, o egoísmo, o
egocentrismo e o ego são sentimentos dos quais nos iludimos achando que é amor.
Perdemos o equilíbrio, cobramos, julgamos, acorrentamos, cerceamos a liberdade,
a espontaneidade e destruímos as relações. O amor destruidor aprisiona faz com que
percamos a noção do ridículo e acabamos perdendo o nosso amor próprio. Quando
perdemos o amor próprio chegamos ao fundo do poço.
O pai por amar demais proíbe a filha, que por sua
vez, foge para chamar a sua atenção. A mãe que por não ter alternativas deixa a
filha para trás, que por sua se sente excluída uma vida inteira. A irmã cobra responsabilidade
da outra, e por isto, tornam-se inimigas. A cobrança da amante ao amado
silencia a relação e assim, um distancia do outro.
Percebi que a maioria das pessoas, assim como eu, não
sabe amar. Com isto, tive compaixão por mim e por todos que rompi ou me afastei
por não saber amar. E me perdoei. Com o tempo perdoei a todos. E se hoje, ainda
tenho dificuldades nestas relações, paro, respiro, olho para a pessoa e
simplesmente respeito. Amor verdadeiro volta com o tempo, se não voltar, transforma.
Respeitar e silenciar são atos de amor. Não julgar é
o ato de amor mais puro de todos. Sair de fininho, chorar no travesseiro, orar,
colocar um sorriso no rosto para disfarçar a dor e a tristeza, cuidar de
plantas, conversar com os animais, desejar a família unida, acolher sempre os
amigos, abrir mão de uma vontade também são formas de amar. Não adianta gritar,
espernear, ficar chorando sem parar, fazer-se de coitada para mostrar para o
mundo que ama. Isso se chama pirraça e de gente pirracenta ninguém gosta.
Afasta.
E quando não se sentir amado o “suficiente” tenha
compaixão por você e busque o amor com reverência e muita humildade. Você vai
sentir que o amor brota aonde você menos espera. Ele esta em todos os lugares,
ele passa na sua frente toda hora. Busque o amor assim como quem busca um copo
de água na cozinha para matar a sede e você será contemplado pelo amor. Aceite
o que a vida te oferece de amor e não o que você espera.
E como diz a grande amiga escritora Paula Jácome, que para mim é muito mais, por
ser uma Semeadora de Estrelas, melhor dizer, uma SEMEADORA DE CORAÇÕES em um
momento de “inspiração” cita: "É que
a dor precisa fluir e ser sentida pra honrar pessoas e situações que, às vezes,
não podem ser diferentes, quando não podemos fazer nada, quando a vida é maior
do que nós. E, agora que aprendi que
toda dor é um jeito triste de amar, de vez em vez me recolho ao silêncio e
espero, quietinha, tanto amor se manifestar."
Por:
Lucileyma Rocha Louzada Carazza