Ser
sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia. Esse jeito de ouvir
além dos olhos, de ver além dos ouvidos, de sentir a textura do sentimento
alheio tão clara no próprio coração e tantas vezes até doer ou sorrir junto com
toda sinceridade. Essa sensação, de vez em quando, de ser estrangeiro e não
saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma
civilização extinta. Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada. Esse
amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto
do que com a indelicadeza. Esse cuidado espontâneo com os outros. Essa vontade
tão pura de que ninguém sofra por nada. Esse melindre de ferir por saber, com
nitidez, como dói se sentir ferido.
- Ana Jácomo -
- Ana Jácomo -