SOBRE CENTELHA
DIVINA E SOLO SAGRADO
Há
tempos abdiquei de alguns hábitos. Precisava desconstruir para me reerguer. Não
sabia distinguir o que era ego ou um traço da minha personalidade, ressalto que
nesse momento quase enlouqueci. Foi quando aprendi que o ego me leva para longe
de mim.
Não
sabia quem eu era e para aonde estava indo. Apenas sentia uma dor descomunal no
peito, um vazio e um assopro. Julgava-me um ser superespecial, um tanto quanto excêntrica,
sem raiz, que não sabia reverenciar a família, ou muito menos ser grata pela
vida e as oportunidades. Eu era, ou sou (ainda), apenas um coração espedaçado
em meio à multidão, vivendo como um zumbi e lutando em um padrão da sociedade o
qual não me encaixo.
Contudo,
uma frase não me sai da memória: “há algo
errado em mim”, pensamento Confucionista, o qual li em algum livro e nunca
mais esqueci. Confesso que os pensamentos estão meio desgovernados e acelerados
e sei muito bem que este descontrole não me leva a lugar algum...
Confúcio
é uma fonte de inspiração e projeção; e fico a pensar: qual seria o resgate dessa
essência em um filósofo tão antigo? - A resposta é obvia: Confúcio foi um
político mal sucedido e o professor mais respeitado da China. Quando ele
decidiu mudar de profissão, mal sabia, que seus alunos, se tornariam 90% da base
política de toda a China. Seus ensinamentos foram praticados com maestria
proporcionando uma revolução social, cultural e espiritual em toda China. Nesse
contexto, volto à frase: “há algo errado
em mim”, primeiro eu me transformo e
tudo se transformar ao meu redor.
E
nessa reconstrução, nessa busca pelo autoconhecimento olho para mim. Acolho
todas as minhas frações. Reverencio a mulher que me tornei, me perdoo,
reconecto e recomeço. Sou centelha divina designada a amar. Simples assim.
Não
estou falando desse amor pregado na atualidade, mas naquele amor que nascemos
com ele. Aquele amor de apenas ser. O amor do qual acessamos o cérebro, o instinto
e o coração, a tríade sagrada do: Pai, Filho e Espírito Santo.
Quanto
ao solo sagrado... esse, venho regando, acredito que seja o momento de
recomeçar uma antiga crença pessoal: a reforma íntima e moral. É hora de me
entregar verdadeiros dons e outro ensinamento me vem à memória:
“Laotsé e Chuangtsé falavam sobre o
Tao como se esse não tivesse qualquer relação com o ser humano e com
as coisas, considerandoo além e a parte do Céu, da Terra,
das formas e dos instrumentos, o que quer dizer que
antes de existirem Céu, Terra e as dez mil coisas só havia um
Princípio Vazio, como nos diz o ensinamento: “O Tao é anterior
ao Taiji”. [...] No Budismo, o Tao tem um sentido semelhante.
Entretanto, quando os seguidores de Laotsé consideram a não
existência o ancestral das dez mil coisas,
ou os seguidores de Buda, que igualmente consideram o vazio o
ancestral das dez mil coisas, apresentam
a minha natureza verdadeira como algo anterior a tudo e, portanto, tudo o que
vem depois não passa de fantasmagorias, de ilusões. As
ações humanas se tornam pegadas grosseiras, devendo ser
todas extirpadas para se retornar ao vazio original. Isso seria
atingir o Tao. Não compreender o Tao seria um princípio da existência e
da ação humanas. (in Zhang L. org 1996, p. 190)”
Nesse
recomeço traço uma meta de 100 dias de meditação e estabeleço o meu primeiro
passo: SILENCIAR - o retorno ao vazio original.
Por: Lucileyma
Carazza