SAIR DO LABIRINTO
CEDO OU TARDE SERÁ PRECISO ENFRENTAR O SEU DRAGÃO. CADA UM DE NÓS TEM
NA VIDA UM MONSTRO DIFERENTE.
O que parece terrível para uns,
para outros nada mais é do que um incômodo passageiro. Mas para todos existe um
“grande medo”, um Minotauro no centro de seu labirinto interior, uma besta
imunda a ostentar nosso rosto. Um dia será preciso lutar por si, por sua
própria causa, e não... por alguma finalidade elevada, social, política,
humanitária, espiritual ou qualquer outra. Decida-se de vez a enfrentar o que o
impede de viver plenamente. Guerreie por sua vida. Lute contra o seu grande
medo. Hoje é um bom dia para aceitar o combate, parar de fugir, lutar com o que
mais o aterroriza. Você entende que as pessoas e as situações que o deixam mal
são meros disfarces desse medo, as máscaras do dragão que o habita?
Toda vida contém uma descida aos infernos. O labirinto é uma representação clássica do mundo infernal (o rei Minos era juiz dos infernos), mas também da matriz. Como sair do labirinto? Como retornar do país dos mortos? Como ressuscitar? Como renascer? Como nascer?
Teseu, como todos os heróis,
combate o monstro antes de unir-se à princesa. A princesa, ou Ariadne, é seu
lado feminino, sua anima, sua parte emotiva e terna. Foi porque se uniu à sua
parte feminina por um fio, porque se uniu consigo mesmo que Teseu pôde vencer
seu medo (o Minotauro) e tornar-se livre (sair do labirinto). Ele está
suficientemente seguro de sua identidade sexual para aceitar seu lado feminino.
É a energia da união consigo, do
encontro consigo mesmo (o fio que une Ariadne a Teseu) que lhe permite
tornar-se livre. Tornar-se livre, tornar-se uno e vencer o próprio medo são a
mesma e única coisa. Ariadne, como todas as companheiras dos heróis, libera seu
lado masculino, sua força e coragem. O herói que libera a princesa aprisionada
emancipa seu próprio lado feminino.
O dragão é sempre o medo, o medo
de ser si mesmo... ou de deixar de sê-lo se nos liberarmos. O argumento que se
apodera de nosso ser e no qual nos aprisionamos: eis o nosso dragão. Enfrentar
o dragão é reencontrar a situação, exatamente a situação em que a armadilha se
acomodou.
Retornar ao instante da queda, ao
lugar onde perdemos a liberdade. A frase que nos condenou. A idade em que
perdemos a visão. Devemos reencontrar esse instante de que queremos fugir com
todas as nossas forças. E uma vez lá, será preciso reviver o nosso papel, mas,
desta vez, saindo da armadilha por cima. Se o acontecimento original tiver
provocado o medo ou o orgulho, devemos nos desprender com plenitude ou
humildade. Sair com inocência se tiver sido a culpa a origem da situação.
Herói, princesa e dragão são a mesma e única pessoa.
Só consigo apreciar a mulher que
há em você, porque minha dimensão feminina é capaz de reconhecê-la.
Só sou capaz de amar a mulher que
há em você, porque amo a mulher que há em mim. Você só consegue amar o homem
plenamente homem que há em mim porque tem em si essa dimensão de virilidade
assumida, plenamente realizada, amada. Então você é capaz de amar o homem que
sou, sem invejar minha virilidade, sem temer minha estranheza. Da mesma forma,
meu amor por você não está misturado com nenhuma inveja de sua feminilidade
triunfante, nenhum medo, porque essa feminilidade também está em mim. O amor é
a relação recíproca das almas e de suas diferenças.
Uma “identidade” que não
considera as identidades diferentes que encontra é uma identidade morta,
reativa, odiosa, impotente. Amar é despertar o outro que há em si. Abandone
para sempre as opiniões que os outros têm de você. Afaste-se completamente das
imagens e representações que você faz de si mesmo. Abandone totalmente qualquer
idéia de mérito ou de culpa, de inferioridade ou de superioridade. Não há nada
a “provar” nem para si nem para os outros. Pare de perguntar quem você é. A
identidade é uma sujeição: você só é manipulado porque forjou uma imagem de si
mesmo. A identidade é uma prisão.
Saia do labirinto da identidade.
“Eu existo” é o título mais elevado. Tudo o que lhe acrescentarmos o
depreciará.
Por: Pierre Lévi