ONDE ESTÃO AS MOEDAS?
AS CHAVES DO VINCULO ENTRE PAIS E FILHOS
"Numa noite qualquer, uma
pessoa, da qual não sabemos se é um homem ou uma mulher, teve um sonho, um
sonho com os pais.
Neste sonho seus pais apareciam e lhe
davam algumas moedas, não sabemos quantas eram, se uma dúzia ou uma centena,
nem de que metal eram feitas, se eram de ouro, de prata, de cobre, de ferro ou
mesmo de argila.
O sonhador as recebia de bom grado
porque eram as moedas que seus pais lhe davam, eram as exatas que necessitava e
merecia, para levar sua vida. Satisfeito agradeceu aos pais pelas moedas
recebidas tomando-as por inteiro.
E o sonhador (a) termina a noite de
sono tranqüilo (a), descansado e pleno. Ao amanhecer, desperta bem disposto e
resoluto em ir à casa dos pais para comentar o sonho e agradecer as moedas
recebidas.
Indo até os pais, comenta o sonho e
agradece as moedas recebidas, em profunda gratidão. Seus pais, vendo a atitude
do filho (a), sentem-se grandes, ainda maiores e mais bondosos do que haviam
sido e orgulhosos do filho (a).
Dizem-lhe então:
- Estas moedas são para você, use-as
como quiser e não precisa devolvê-las, são nossa herança para você.
E este filho (a) segue seu caminho
satisfeito e pleno, capaz de enfrentar e vencer qualquer desafio, com a certeza
de haver recebido as exatas moedas que necessitava e merecia de seus pais,
suficientes para empreender sua caminhada. De tempos em tempos volta-se para
trás, em direção à casa dos pais, e sente-se revigorado e pleno para seguir e
realizar sua vida.
Acontece, que em outra noite
qualquer, um outro sonhador (a) tem um sonho parecido, que costuma acontecer
com qualquer um de nós, mais cedo ou mais tarde, de ter um sonho com os pais.
Neste sonho, o sonhador (a) recebe dos seus pais algumas moedas, que não
sabemos se uma dúzia, uma centena ou apenas umas tantas, nem de que metal eram
feitas, se de ouro, de prata, de cobre, de ferro ou mesmo de argila.
Mas este sonhador não aceita as
moedas dos pais.
- Estas não são as moedas que
necessito, preciso e mereço, por isto não as tomo e deixo-as com vocês. Se eu
as tomasse minha vida se tornaria pesada e, portanto, fiquem com elas.
E este sonhador (a) segue pela noite
intranqüilo, com o sono entrecortado e desperta muito cedo, cansado e ansioso
por ir até a casa dos pais, contar-lhes a respeito do sonho.
Lá chegando, diz aos pais sobre o
sonho e que aquelas moedas não lhe interessam, que aquilo que eles tinham para
ele não eram as moedas que ele (a) necessita e merece, deixando-as portanto com
eles.
Os pais ouvindo isto, tornam-se ainda
menores, humilhados, como costuma acontecer quando um filho (a) não toma seus
pais, seus ensinamentos e sua herança, tal como foi; e retiram-se para seu
quarto.
E este (a) sonhador (a), tomado de
uma estranha força, sente-se fortalecido e vingado, havendo acertado as contas
com seus pais, e sai para a vida decidido a encontrar suas moedas, as que justo
necessita e merece. Com alguém elas devem estar.
E tomado por esta força,
estranhamente falsa, vai pela vida em busca de parceira (o), procurando pelas
moedas que necessita e crê poderem estar com ela (ele). As vezes tem a sorte de
encontrar alguém e mais sorte ainda desta relação durar algum tempo.
Quando isto ocorre, com o passar do
tempo o sonhador (a) percebe que sua (seu) parceira (o) não tem as moedas que
necessita e merece, e o relacionamento perde todo seu encanto, ficando para
trás. E o sonhador (a) segue em busca de outra pessoa que talvez, desta vez,
tenha as suas moedas.
E de relacionamento em
relacionamento, segue em busca de suas moedas e desencantos, porque nenhum
deles tem as moedas que necessita e merece.
Outras vezes, o sonhador (a) tem um
filho (a) e, ao engravidar, cria a forte expectativa de que este filho (a) terá
as moedas que necessita e merece, e o (a) aguarda ansioso (a) e cheio (a) de
esperanças. Mas a vida é como é; os filhos crescem e seguem seus próprios
caminhos, e tampouco eles tem as moedas que o pai ou a mãe procuram.
E nesta busca incessante, o tempo vai
passando até que o desespero toma conta: onde estarão minhas moedas, justo as
que necessito e mereço para levar minha vida.
Então, algumas vezes, vão em busca de
um terapeuta, na certeza de que eles sim saberão das moedas.
Mas há dois tipos de terapeutas: um
que acredita que tem as moedas que seu cliente procura; e outro que sabe que
não as tem, mas está disposto a ajuda-lo a procura-las.
Quando tem a sorte ou a sabedoria de
encontrar este segundo tipo de terapeuta, dá-se início a um processo de auto-consciência
e aprendizado, onde o sonhador (a) vai percebendo aspectos antes ignorados,
apropriando-se de sua própria vida, pouco a pouco.
Até que num belo dia o terapeuta se
dá conta de que o sonhador (a) já está pronto para saber onde estão suas moedas.
E neste mesmo dia, não apenas por coincidência, o sonhador (a) vem para a
terapia e diz:
- Eu já sei onde estão as moedas.
Ainda estão com os meus pais.
E resoluto (a), empreende o retorno à
casa dos pais, em busca das justas moedas que necessita e merece.
Chegando à casa dos pais, arrependido
(a) e amadurecido (a), toma-os por inteiro, tal como foi, aceitando feliz e de
bom grado as moedas que eles tem para si, exatamente as que precisa, necessita
e merece para levar sua vida em plenitude.
E seus pais, reconhecidos e aceitos
inteiramente pelo filho (a), tornam-se ainda maiores, mais dignos e
responsáveis, podendo ser ainda mais generosos.E assim, o sonhador (a) encontra
seus caminhos, com a fortaleza da herança dos pais: agradecendo a vida
recebida; dizendo sim a tudo, tal como foi, libertando-se de todas as mágoas,
deixando as responsabilidades com quem de direito; e tomando sua própria vida
em suas mãos, com a benção de seus pais, para que, agora possa buscar sua
felicidade."